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31 de março de 2006

Vô Varrendo, Vô Varrendo...

A cada movimento respiratório, partículas de poeira e outros contaminantes das vias aéreas chegam até a traquéia e os brônquios.
Felizmente essa região é “atapetada” por pequenos cílios que só têm uma direção: de baixo para cima.
Então é assim: a parede dos brônquios e da traquéia “produz” catarro para nossa proteção (umidificação, aprisionamento de agressores), esse catarrinho básico é levado até a laringe (a fronteira entre a via respiratória e a via digestiva) onde, sem percebermos, o engolimos diária e ciclicamente (acho que ouvi alguém dizendo: Ui, que nojo!).
Por este motivo, em situações comuns, não precisamos de grandes ajudas. Resfriados, gripes leves, aumentam a produção de catarro (alguns tipos de vírus induzem o organismo a produzir mais catarro do que outros), mas o organismo dá conta do recado: o movimento ciliar é aumentado*, substâncias irritantes provocam o mecanismo de tosse e, passados poucos dias, o problema está resolvido.
*Em idosos, portadores de fibrose cística, discinesia ciliar e condições genéticas como a Síndrome de Down, a função destes cílios é prejudicada. Fumantes (ativos ou passivos) em especial também têm cílios malfuncionantes.

30 de março de 2006

Cowboy


Muitas crianças pequenas, quando andam, parecem que apearam do cavalo.
É o genu varo, deformidade em que as pernas ficam arqueadas, com os joelhos mais afastados.
Costuma desaparecer espontaneamente por volta dos 18 meses de idade. O limite máximo aceitável situa-se próximo aos 3 anos.
Em alguns casos, há a necessidade de se afastar o raquitismo como causa, além de algumas doenças, mais raras, como a doença de Blount.
De causa desconhecida, a doença de Blount apresenta como sintomas uma rápida progressão da deformidade ou assimetria (deformidade diferente em cada perna) ou deformidade apenas abaixo dos joelhos. É às vezes associada com obesidade ou deambulação precoce (crianças que andam muito cedo, causando sobrecarga da articulação do joelho).
Afastadas estas doenças (e outras bem mais raras como a intoxicação por chumbo ou as displasias ósseas), o prognóstico quase sempre é muito bom, com melhora da deformidade com o crescimento.


Espacialização Global

Parabéns, Marcos César Pontes.
Pegamos a primeira carona espacial. Por um preço razoável, dez milhões de dólares do nosso rico dinheirinho.
Junto com a corrida espacial, tecnológica, no entanto, há outra corrida: a social, humana. O argumento vigente é o de quem não participa da primeira não colherá futuros frutos pra segunda.
Serão os países pobres tecnologicamente desdenhados num futuro em que o planeta esteja no ponto de virar inabitável?
Tanta evolução científica verá mais segregação, menos harmonia entre nações em diferentes estágios de desenvolvimento?
Então, tá, obrigado, fico aqui por baixo mesmo.
E devolve meus dez centavos.

29 de março de 2006

Em Bicas


Seu filho pequeno anda suando mais que geladeira velha e ele não é, assim, nenhuma Brastemp? Principalmente quando dorme?
Pois saiba que isso é normal para a grande maioria das crianças.
Dentre outros possíveis motivos, porque elas têm normalmente maior quantidade de água corpórea (por este mesmo motivo podem desidratar mais facilmente quando acometidas por vômitos ou diarréia), imaturidade do controle dos vasos sangüíneos (que controlam a perda líquida através da dilatação destes vasos) e passam a maior parte do sono em fases que estimulam a sudorese (sono mais profundo).
Aproveite para dar uma lambidinha*. Esta é a base do chamado “teste do suor”, que serve para o diagnóstico da fibrose cística (mucoviscidose), doença herdada que apresenta anormalidade nas secreções corporais (pulmonar e pancreática, principalmente), que faz com que o suor torne-se excessivamente salgado.
* Só no seu filho, é claro!

28 de março de 2006

Maratona Absortiva


Por mais que pareça existir, a relação entre a constipação (intestino preso) e a obesidade não está comprovada.
A explicação de que a passagem mais lenta dos nutrientes pelo intestino possa fazer com que os mesmos sejam mais intensamente absorvidos (com ganho de peso como conseqüência) é tentadora, mas todos os estudos até hoje (tanto com crianças quanto com adultos) simplesmente não “fecham”.
Além disso, parece um simplismo extremo valorizar este único aspecto numa condição que é reconhecidamente multifatorial.
Nem mesmo o único dado tido como evidente até o momento (a presença mais freqüente da constipação em obesos, como mostra o estudo do Pediatrics de 2005, mas negado por vários outros estudos) comprovaria a relação causa-efeito.
Por este motivo, medicações laxantes não costumam produzir nenhum efeito interessante no tratamento de pessoas obesas.

27 de março de 2006

Dipirona 2: A Missão


Gente, “cês pode não creditá”, mas eu não tenho nenhum vínculo com qualquer laboratório que fabrica dipirona!
O problema é que a gente tem que falar a verdade pra vocês.
Mas, ainda, insistindo na questão do conflito de interesses:
Quem “inventou”a dipirona?
Um laboratório alemão, que lucrou muito (muito mesmo!) com as vendas (até hoje continua lucrando, apesar da quantidade de laboratórios que a fabrica).
Quais são os concorrentes da dipirona?
Paracetamol e, mais recentemente, o ibuprofeno.
Dois medicamentos “criados” onde? Onde?
Claro, nos Estados Unidos!
Então...
Não há dúvida que órgãos governamentais têm interesse, sim, em proteger cidadãos dos malefícios dos remédios. Mas também não sejamos ingênuos, por favor! Mesmo porque o maior interesse da indústria nunca vai ser a sua saúde (dura, a realidade!), e sim, a proteção dela contra uma avalanche de processos ou do esmagamento promovido pela mídia.
Desde o banimento da dipirona (apelidada depreciativamente de “aspirina mexicana”, pelo fato de ser contrabandeada pela fronteira mexicana pelos “latinos”) pelo FDA, as vendas de paracetamol e ibuprofeno não pararam mais de crescer
(isso também contando com nossa “gloriosa”ajuda).
Bom pra eles, né?...

(PS.: há um excelente editorial da Dra. Isabela Benseñor, professora de Clínica Médica do Hospital de Clínicas de São Paulo, no São Paulo Medical Journal de 2001, que vale a pena ser lido).

26 de março de 2006

O Homem que Ouve os Cavalos


Emocionante o tema do Globo Rural deste domingo (os melhores programas passam nos horários que pouca gente vê). É possível se emocionar com um programa sobre doma de cavalos?
Monty Roberts é um fazendeiro americano que, assim como os cavalos que o pai criava, apanhou muito. De corrente, a mesma que o pai usava para devolver as próprias agressões sofridas por ele mesmo, num ciclo vicioso de violência, transformando todos, animais e pessoas, em criaturas infelizes.
Monty Roberts estudou psicologia. Desta forma aprendeu a compreender – nunca a amar – o pai.
Aprendeu, provavelmente, que o pai equacionava masculinidade com agressividade, crença que arrasa muitas famílias, principalmente as menos educadas.
Monty aplicou, então, seus conhecimentos numa doma cheia de manifestações de carinho e confiança, nunca de agressão e medo.
Quantas gerações de cavalos domados “na marra” não “gostariam” de ter conhecido Monty?
Da mesma forma, é difícil imaginar quantas gerações de famílias teriam se beneficiado da extinção desse machismo estúpido, da “educação” (arrume-se outro nome) pela violência.
Não é o método arcaico do medo que ensina, explica o fazendeiro. É o estímulo, a confiança, o prazer. O amor, enfim.
Quanta lição pode ser tirada de uma única fazenda?
(em tempo: Monty Roberts é pai de “apenas” 47 filhos adotivos, além de seus próprios três, o que dá uma mostra do tamanhinho do seu coração)


E, muito brevemente, um dos melhores blivros (blog-livros, ou livrogs – livro-blogs?) da Internet brasileira. Pelo vencedor do Papai Nobel de literatura, a minha modesta pessoa.
Você não perde por esperar! Aliás, pode perder, sim. Veja o exemplo da minha prima: perdeu o emprego quando o patrão viu que ela estava esperando mais um.

25 de março de 2006

TZ


Uma instituição com a qual todo pediatra tem que lidar é a “Tia Zilda”.
Quase todos nós temos uma Tia Zilda na família (não necessariamente com este mesmo nome, muitas são avós, aliás, pouquíssimas Tias Zilda são as legítimas, aquelas que não soltam as tiras e não têm cheiro).
-Como faço para descobrir a Tia Zilda da minha família?
Fácil. A Tia Zilda é aquela pessoa que freqüentemente está errada, mas nunca na dúvida. Ou seja, é aquela pessoa que deveríamos consultar (nem sempre é o desejo da família, suas opiniões são compulsórias) para saber se o remédio prescrito pelo médico está correto, inclusive na dose (Tia Zilda amiúde manda dividi-la por dois ou dar a dose da noite, apenas), se o diagnóstico do problema bate com o dela (“Esse médico é muito novo, ainda não sabe quase nada”, argumenta, defenestrando pelo menos oito anos de formação) ou para sugerir um outro profissional, este sim, é bom, pois tratou da nossa avó em 1934.
E não há outra solução na maioria dos casos: temos que torna-la nossa aliada, se quisermos obter algum sucesso terapêutico.
Tenho inclusive recomendado que venham para as consultas, para trocarmos algumas experiências. O que dificulta é sua agenda lotada. Sempre dando consultas.
E, pelo menos uma vez por ano, fora, no Congresso Brasileiro de Tias Zilda.

24 de março de 2006

Longe dos Olhos, Dentro do Pulmão


Por enquanto temos mais com que nos preocupar do que com vírus que mata galinhas, lógico.
Não custa, entretanto, ficarmos de olho no “bichinho” (no vírus, não na galinha, porque nesta já estamos de olho sempre).
Dois artigos publicados este mês nos dois mais prestigiosos jornais científicos mundiais (Nature e Science – “sorry, no links”) explicam porque estes vírus não são ainda uma grande ameaça.
Para que os vírus (bem como hormônios, medicamentos e tudo o mais) penetrem nas nossas células precisam dos chamados receptores (as nossas células são abarrotadas deles, cada modalidade servindo unicamente para determinada função).
Ocorre que os receptores (moléculas onde os vírus “atracam”, digamos assim) para o vírus da gripe aviária, o H5N1, localizam-se basicamente nos alvéolos pulmonares, bem mais para dentro da árvore respiratória do que a grande maioria dos vírus de gripes comuns, que têm receptores no nariz e brônquios.
Daí as duas grandes diferenças: difícil de transmitir de uma pessoa para outra (vírus da cavidade nasal ou brônquios transmitem-se muito mais facilmente através do espirro ou tosse, por exemplo) e mais difícil de tratar, visto que ficam “escondidos”.
Há a possibilidade de que as mutações incluam esta afinidade diferente pelos receptores, mas, segundo os cientistas, não será tarefa muito fácil (provavelmente não nos próximos anos: até lá, estoques de remédios já deverão ser suficientes).
Mas, como estes “bichos” não se dedicam a outra coisa nas suas breves vidas a não ser atormentar seres mais evoluídos, nunca se sabe...
(espero que nenhum vírus leia isto)

23 de março de 2006

Cereal Killer



Grandes progressos têm acontecido no desvendamento dos mecanismos responsáveis pelo aparecimento do diabete tipo I na infância, doença com conseqüências para a vida inteira.
Não há nada 100% certo ainda. Porém, o que se sabe é que a destruição das células do pâncreas responsáveis pela produção de insulina costuma ter “aviso” antes que aconteça.
Esse aviso é dado pela presença de anticorpos da criança contra a sua própria insulina ou outras moléculas produzidas no seu pâncreas, às vezes até dez anos antes do aparecimento do diabete. Normalmente quanto mais cedo estes anticorpos aparecem (abaixo dos 2 anos de idade, principalmente) ou quanto mais anticorpos diferentes são produzidos, mais cedo e mais grave a doença costuma se manifestar (a não ser nos casos de mães com diabete que passaram os anticorpos na gestação – neste caso, a presença deles indica mais proteção do que risco).
Dois fatores são citados como possíveis desencadeadores da diabete, além da genética: a infecção por certos tipos de vírus (muitos deles de disseminação freqüente em crianças) e fatores dietéticos (principalmente o desmame e a introdução de cereais precocemente, o que levou mesmo pesquisadores sérios a utilizarem o termo em inglês “cereal killer”, um jogo de palavras com a expressão “serial killer”, assassino em série, com pronúncia semelhante).
Como lembram os autores do artigo no qual esta postagem se baseou, será provavelmente muito mais fácil atuarmos na prevenção quando todos os fatores forem conhecidos, do que “mexer” na imunidade do organismo depois de detonada.
O que me deixa, entretanto, a pensar é: até que ponto mais um argumento que certamente já está vindo forte a favor da amamentação exclusiva por um período mínimo de 6 meses e contra a introdução de cereais (farinhas, bolachinhas, etc.) pelo menos até esta fase (6 meses), servirá para mudar costumes tão fortemente arraigados na nossa população?
A mão dos pediatras vive constantemente cortada de tanto murro em ponta de faca, pode observar.

22 de março de 2006

Bendito Mar que nos Separa

É difícil admitir, mas só quando me sinto muito equilibrado é que tenho ânimo para ler sobre certos assuntos, dois deles em particular: a situação epidêmica da Aids e o quase total abandono do continente africano.
A última edição da revista Superinteressante (março) reúne os dois assuntos, citando um dado da Unicef que é mais um pesadelo do que uma previsão: daqui a apenas cinco anos, a África terá 18 milhões de órfãos da Aids, crianças que terão perdido seus pais em virtude da doença (a maior parte da África, pela falta de recursos, é obrigada a “esquecer” da epidemia – sem oferta de tratamento, cita a revista, pra que exame?) que, em algumas regiões, afeta quase a metade da população.
Dezoito milhões! Mais do que os habitantes das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo somados. Grande parte destas crianças também acometidas pelo vírus. São milhões de tragédias diárias que não costumam render mais que pés de páginas dos jornais.
Não que as vítimas do Tsunami ou mesmo a população de Nova Orleans não mereçam ajuda humanitária, é claro. A diferença é que nesse caso as vítimas são miseráveis, em todos os aspectos. E não se afogam, vivem e morrem silenciosos, não rendem nem imagens impactantes nas revistas.
Assim como a maior parte do mundo, também eu não me mexo, finjo não ter consciência. Assumo esse pesadelo como apenas isso, um pesadelo, literalmente.
Quem sabe um dia seremos todos obrigados a acordar.

21 de março de 2006

Viruzinho Chato



Como já vimos, a infecção do feto pelo citomegalovírus pode ser um problema.
O teste do pezinho deverá incluir a infecção num futuro próximo (já há condições técnicas para isto).
Na Europa já há triagem da gestante para a infecção (as infectadas são tratadas com imunoglobulinas, que previnem os danos ao recém-nascido na quase totalidade).
Porém, enquanto estas medidas não tornam-se oficiais, a medida mais proveitosa (apesar da aparente “esquisitice”) seria, como recomenda um artigo do Pediatric Infectious Disease Journal (link não aceito), que todas as gestantes com crianças pequenas em creche ou escola considerassem seus filhos infectados (quase 10% das mães que não apresentam anticorpos durante a gravidez irão se infectar pelo vírus pelo contato com seus filhos pequenos – isto num país mais desenvolvido em termos de cuidados primários de saúde!) e, desta forma, adotassem algumas medidas como:
• lavar as mãos após troca de fraldas, assoar o nariz, contato com chupetas e brinquedos dos filhos
• evitar dividir utensílios como copos e talheres com o filho pequeno
• evitar dormir na mesma cama
• evitar beijar a boca (ou próximo da boca) deste filho
-Uai, mas então vou ter que considerar ele infectado pelo CMV, mesmo que não esteja?
Falei que era meio esquisito, mas é isso mesmo.

20 de março de 2006

Sessão Coruja


Tá bom, você pode ser um pai ou mãe coruja, mas seu filho não é nenhuma corujinha pra você ficar rodando o pescoço pra todo lado.
Mesmo assim, deve-se saber que o pescoço das crianças deve ter boa mobilidade desde cedo.
Quando isto não acontece, ou a cabeça pende para apenas um lado (jeito de “coitadinho”) provavelmente a criança apresenta torcicolo, que pode ser congênito ou adquirido.
No torcicolo congênito, o problema pode estar no músculo do pescoço (chamado de esternoclidomastóideo, acredita?), na coluna cervical, ou em algum problema neurológico.
No adquirido, de aparecimento mais tardio, problemas mais sérios devem ser excluídos (abscesso no pescoço, má-formação vertebral).
No congênito de causa muscular (mais comum), é freqüente a associação com a plagiocefalia, que pode ser causa ou conseqüência.

19 de março de 2006

Poodle Que o Pariu


Li de fonte leiga não sei onde e com vaga noção do porquê que, em alguma região do Oriente – Índia possivelmente e China quase com certeza – há a crença inabalável de que vive-se mais quanto menos se respira.
Há alguma lógica nisso. Ao respirarmos, nos “oxidamos”, usamos o oxigênio para produção de energia e ficamos com danosos radicais livres na troca (mais ou menos como a maçã cortada ao meio que, por ação do oxigênio preteja, apenas que duramos um pouco mais).
O problema é: o que podemos fazer a respeito?
Técnicas de respiração, ensinam os próprios orientais, associadas a toda uma cultura impossível de ser assimilada por nós, povos tão imediatistas.
Quanto a mim, vou tentando apenas respirar menos, com pouquíssimo sucesso. E pensando:
O que faz mal é só a entrada do ar ou também a saída?
Não, porque se o problema é a entrada, poderíamos respirar economizando a inspiração, mas com expiração pródiga, forçada, para nos livrar logo de tanto O2. Algo parecido com doze espirros por minuto.
Outra coisa: O que é mais danoso? A respiração prolongada, profunda, ou a respiração rápida, superficial? Sugiro estudos a respeito.
Parece inclusive que já tentaram. Os pais dos recém-nascidos, no entanto, incomodavam-se com a presença dos pesquisadores ali do lado, o tempo todo contado a freqüência respiratória dos pesquisados. Lá pela adolescência, desistiam da pesquisa. Isso quando não erravam na contagem.
Tentaram resolver com a colocação de um pesquisador auxiliar por pessoa, logo apelidado de “bandeirinha”.
Estava criada a pendenga. Não deu certo.
Já meio azul, olho para o lado e vejo Bob, meu poodle, arfando copiosamente. Coitados, por isso duram menos.
Entendo agora a ânsia das criaturas pelas pernas alheias: respiram tanto, têm tão pouco tempo...

18 de março de 2006

Uhúú!...


Amanheceu.
O despertador toca.
Você nem percebe, mas nesse exato momento, é como se você tomasse uma injeção.
De quê?
De adrenalina. Uma glandulazinha, assestada sobre os rins como um gato em cima da almofada, foi acionada automaticamente, liberando a substância.
Aí você se lembra do seu trabalho acumulado.
Nova injeção.
E do seu chefe. E do seu colega, aquele, digamos, “centelho”...
Mais duas injeções!
É assim mesmo. Nossas supra-renais (o nome das glandulazinhas) nos “preparam” para o dia que se anuncia com pequenas (ou grandes, se você é um estressado) doses de adrenalina, para que nos animemos para as batalhas.
Além disso, as mesmas glândulas produzem um outro hormônio, o cortisol, que de maneira diferente exerce as mesmas funções: mais ânimo!
(Haja ânimo!)
Nas situações como a ansiedade (para cima) e a depressão (para baixo) esta regulação das supra-renais encontram-se alteradas (tanto por motivos “endógenos”, internos, como a herança, como por motivos externos, como o seu próprio chefe – coitado, no fundo ele é gente boa! – alimentação, etc.).
Esta mesma adrenalina é usada como medicação para problemas como a asma (aumenta o diâmetro da árvore respiratória – broncodilatação) e anafilaxia (reação de base alérgica que provoca dilatação excessiva dos vasos sangüíneos – neste caso, a adrenalina contrapõe este efeito).

17 de março de 2006

Às Vezes Parecidos


A confusão é freqüente e, até certo ponto, normal.
A intolerância alimentar (a mais comum é a intolerância à lactose, que faz com que o leite cause sintomas desagradáveis como excesso de gases, “inchaço” no abdome, diarréia) pode ser traduzida como uma “má capacidade de digestão”, pela diminuição das chamadas enzimas (como a lactase, a enzima que digere a lactose, o açúcar próprio do leite).
A alergia alimentar é diferente, pois é provocada pela mobilização do exército imunitário, ou seja, a cada contato com o alimento (ou a fração do alimento), entram em ação os anticorpos que, para infelicidade do alérgico, reconhecem este alimento como um “inimigo”, desencadeando os sintomas.
São exemplos comuns a alergia ao leite de vaca (daí a confusão com a intolerância – no caso da alergia, os sintomas costumam ser mais “barra pesada”, como vômitos ou diarréia próximos à ingestão, dores fortes no abdome, lesões de pele extensas, sintomas respiratórios, etc.), ao ovo, ao amendoim, aos frutos do mar, aos corantes alimentares naturais e artificiais, etc.
Ambos podem melhorar com o passar do tempo (na alergia, porém, devemos ter muito mais cuidado no momento da reintrodução do alimento).

16 de março de 2006

Surf


Quando na tentativa da perda de peso a fome do paciente é devida à ansiedade – normalmente o paciente sabe e refere a ansiedade excessiva – há necessidade maior de se cumprir de forma estrita o intervalo de 3 horas entre as refeições.
É o que na terapia cognitiva da condição se costuma chamar de “surfar” na fome.
Vale tudo até completar as 3 horas: dançar, desenhar, cantar. Vale até tentar dormir, por exemplo. Só não vale mesmo é comer (ou beber algo calórico). Passadas as 3 horas regulamentares, “tá liberado” (lógico que esse “liberado” não é aquele liberado!)
Para que a tática funcione, entretanto, o paciente não pode estar em dietas “malucas”, em que passe algum período muito longo durante o dia sem se alimentar, por exemplo. É sabido que quem costuma fazer “vales” (períodos muito maiores que 3 horas sem se alimentar), vai, em algum momento, deslizar para episódios de compulsão alimentar.
Então, lembre-se: surfar pode (e deve), deslizar, não (pelo menos não muito)!

15 de março de 2006

"Arranha" (aranha polaca)


Muito bem. Então você mordeu uma aranha? Não? Foi uma aranha que mordeu você?
Ah, tá...
O primeiro passo é saber se foi aranha marrom ou não.
Pegou (morta ou viva)? Leve ao médico para ele ter certeza (pode ser num vidrinho, caso o médico seja muito medroso).
A aranha marrom costuma ser aquela para a qual damos a menor importância. Pequena, de hábitos noturnos, só ataca quando ameaçada (normalmente ao ser prensada quando se veste a roupa – não a dela, a sua, claro).
Ao se notar a mordida (normalmente uma área avermelhada, endurecida, indolor que aparece nas primeiras 36 horas), quais as preocupações que se deve ter?
Duas são as maiores preocupações:
A primeira é a toxicidade do veneno que, se vai aparecer, normalmente vai estar presente até o final do segundo dia (palidez ou icterícia – “amarelão – por destruição de células vermelhas, febre, vômitos, diminuição e escurecimento da urina – podendo chegar à insuficiência renal em cerca de 1 em cada 400 casos). Portanto, se ocorreu há mais de 2 dias, este risco é extremamente pequeno.
A segunda preocupação é com a ferida local: há a possibilidade da formação – mesmo que relativamente tardia – de ulceração local, algumas vezes grave, que pode durar até 4 semanas para cicatrização. Alguns destes casos podem precisar até de enxertos de pele.
Existem soros contra o veneno que só são indicados em casos mais sérios e, de preferência, após poucas horas do acidente.
Mais informações no site da Emater.



Indagação:
Por que será que anda tão difícil encontrar celular “pra adulto”: que não tire foto, não toque musiquinha, não jogue videogame, não filme ninguém, um telefone, enfim?

14 de março de 2006

Viajantes "D'escolados"


Muitas crianças viajam o tempo todo: visitam novas paisagens, conhecem novos amigos (alguns até meio esquisitos), descobrem novos idiomas, odores, sensações...
Isto tudo enquanto deveriam estar prestando atenção, na sala de aula!
O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) pode se manifestar de duas formas clássicas: como hiperatividade predominante, naquela forma bem conhecida das crianças extremamente agitadas e com pouco controle dos impulsos, e como desatenção predominante.
É nesta última forma que reside o problema do diagnóstico, pois crianças desatentas que não são agitadas podem representar um problema menor na sala de aula, a não ser para elas mesmas.
Os “diabinhos” hiperativos, não. São frequentemente encaminhados para psicopedagogos, pediatras, psicólogos para “ se emendarem”, visto que atrapalham a todos.
Ambos (hiperativos ou desatentos predominantes) e os casos mistos são classificados como portadores de TDAH (o subtipo é que varia). O tratamento também é muito parecido, notadamente em relação ao medicamento principal, o metilfenidato.
Interessante saber que mesmo crianças que não se encaixam nos critérios clássicos para TDAH – o diagnóstico é clínico, não baseado em exames – têm melhora do desempenho quando são muito desatentas e usam o metilfenidato, como mostra o artigo do AJP (American Journal of Psychiatry).

13 de março de 2006

Outra Coisa


-“A menina tinha uma anemia tão séria que virou leucemia”!
Anemia não “vira” leucemia!
Pegue, por exemplo, um gato.
Não, largue o gato.
Pegue uma ratazana (aquela ratazana que atazana sua vida!).
Mantenha-a numa gaiola. Diariamente, vá retirando sangue da criatura (retire mais sangue do que o que a medula óssea – o tutano da bichinha - consegue “refazer”).
O que vai acontecer? Ela vai começar a ficar pálida, com olheiras profundas, vai começar a ter dificuldades para reagir aos estímulos, vai modificar o apetite... Anêmica, enfim.
Mas, mesmo que você deixe-a quase sem sangue, ela não vai ter leucemia (que pode ser definido como um “câncer no sangue”)!
Agora, pegue outra ratazana (deixe aquela se recuperar, coitada).
Também na gaiola, vá dando a ela diariamente para beber apenas resíduos tóxicos de alguma indústria, por exemplo. Se ela for sobrevivendo, provavelmente num futuro próximo ela irá desenvolver uma leucemia (cujos sintomas são, dentre muitos outros, a anemia – ou seja, seus glóbulos vermelhos diminuirão em quantidade ou ficarão “pálidos”, com menos hemoglobina).
O que ficaria demonstrado neste tipo de experimento (acredite, experimentos assim são feitos realmente!) é que as anemias não evoluem para leucemia*(podem evoluir até para morte em raros casos muito graves, mas não para leucemia).
Por que, então, a confusão?
Provavelmente pelo fato de que uma pessoa que comece a apresentar uma leucemia pode, no início, parecer que tem “apenas” uma anemia (e aí, com o passar do tempo, ou através dos exames, médicos e laboratoriais, define-se o verdadeiro diagnóstico).
*Leucemias costumam ter causas genéticas, infecciosas, tóxicas (ou mais de uma causa associada).

12 de março de 2006

Entre Saias



Elas, sim. Mas nós, os homens, não tivemos o que comemorar na Semana Internacional das Mulheres (era “Dia”, lembra?).
Basta abrir os jornais ou ligar a televisão.
Dentre todas as reportagens, a que mais me impressionou foi a da situação dos homens na China.
Como lá o governo decide como e quando se deve respirar, a política de “incentivo” (palavra mais do que branda para o que realmente acontece) para que as famílias tivessem apenas filhos homens, criou uma situação que parece peculiar, a hiper-valorização da mulher.
Digo parece porque a transformação da mulher num “objeto” raro na China apenas potencializou o que vem acontecendo num ritmo alucinante no resto do mundo.
Nosso domínio, a subjugação das mulheres que ocorreu desde sempre, era sinal da nossa aparente esperteza. Sabíamos que não podíamos deixar elas “tomarem conta”. Bobeamos, e veja o que aconteceu (na realidade, está só começando a acontecer, para desespero nosso, pelo menos dos que ainda conseguem enxergar algo através do manto grosso da testosterona): tomaram nosso cachimbo (e, como disse a Miriam Leitão, com as armas certas). O mundo agora é delas, rapaz!
Conformemo-nos. Aliemo-nos a elas, visto que não há nada mais a fazer.
E continuemos mandando flores. Nunca mais com nobres intenções de manutenção da conquista. Por admissão da superioridade, bajulação descarada, mesmo.
Se a situação em que nos colocamos gerar revolta, flexione alguns músculos: elas adoram ver como seus animais de estimação são bonitinhos.
Talvez até impeçam nossa extinção.

11 de março de 2006

Generalizando


Cecílio tem um trabalho escolar para ser entregue.
Para realizá-lo, precisa de uma caneta.
Tem no seu bolso apenas 1 real, e mais nada.
A caneta Xic ®, marca bem conhecida, praticamente lhe garante um trabalho perfeito. Mas custa 2 reais! Pode emprestar o restante, visto que o trabalho é importante, mas terá que gastar mais do que pode do mesmo jeito.
Existe, no entanto, uma caneta (sem marca) mais barata. Pouco menos que 1 real. O governo garante a qualidade. Mas, como já aconteceram problemas anteriores ao se confiar no governo, Cecílio tem dúvidas da qualidade do seu trabalho com a dita caneta.
Há ainda canetas de aparência bem duvidosa. São justamente estas que os balconistas mais insistem na compra. Pode ser que o trabalho fique igual, com o resultado esperado. Mas há vários e vários casos de trabalhos entregues totalmente borrados, rasurados, até mesmo canetas que não chegaram ao final da primeira linha.
O governo dá uma opção para o Cecílio: lápis. De graça! Mas o trabalho foi pedido mesmo à caneta...
Decisão difícil, não é Cecílio?
(Ainda mais que boatos circulam a toda hora. Dizem até que o criador da lei das canetas genéricas tem parentes que são acionistas majoritários de indústrias de... canetas!)
O próprio professor não pôde dar certezas quanto ao que fazer, pois entende as dificuldades do aluno.
O quê? O assunto era “medicamentos”? Ah, aí o assunto é mais sério. Sobre isso sei nada não, seu moço...

10 de março de 2006

Risco Calculado


-Escuta...
Diga.
-Mas esse negócio de tomar leite de montão por causa do cálcio...
Que é que tem?
-Não vai prejudicar os rins? Não vai dar “pedra nos rins”?
Até pouco tempo achava-se que sim. Porém, estudos recentes mostraram que pode ocorrer justamente o contrário.
As explicações:
Os grandes vilões da maioria dos cálculos urinários (as pedras) são, além da genética (sempre ela!), a ingestão de pequenas quantidades de água, além da ingestão excessiva de sódio (também, de novo o sódio), e de carnes (pela formação de grande quantidade de ácidos durante a digestão). O consumo de frutas e vegetais (alcalinos) “protege” contra a formação de cálculos.
Os leites, quando consumidos na quantidade recomendada, fazem com que o cálcio presente nele se una ao chamado oxalato* da dieta, impedindo a “entrada” (absorção) pelo intestino, sendo eliminado.
Se isso não acontece, mais oxalato “entra” através do intestino e terá que ser eliminado pelos rins (com maior risco de cálculos).
Complicado?
Não faz mal. O que importa é...
Cálcio neles, pessoal!
* refrigerantes tipo “cola” possuem muito oxalato e o ácido ascórbico (vitamina C) é um precursor do oxalato (forma oxalato no organismo), por isto, ambos devem ser consumidos com moderação.

9 de março de 2006

"Shit Happens"


Usei o termo em inglês por ser absolutamente apropriado para se entender o problema do escape fecal (parte da chamada encoprese, que é a perda involuntária das fezes).
Não sei se foi daí que surgiu a frase (“M... simplesmente acontece, de vez em quando”, apenas que no dia-a-dia substituímos polidamente por “problemas acontecem”, também para outros problemas, que não somente a “M...”).
Muitas crianças, em alguma fase da vida, sujam suas roupas, “perdem” as fezes como se não sentissem.
Não é, como muitos pais pensam, por “culpa” delas. Não há, na verdade, “culpados” pelo problema, normalmente.
O escape, apesar de dar a impressão de “intestino muito solto” deve-se habitualmente à situação oposta: acontece nas crianças que são constipadas (“intestino preso” ou obstipação). É como se após algum tempo “preso”, o intestino não mais suportasse a pressão, liberando parte das fezes nas roupas.
Outra causa comum é a “resistência” (particularmente acho este termo horroroso para ser aplicado aqui) ao treinamento para o controle dos esfíncteres, ou seja, à capacidade de pedir para fazer “xixi e cocô”.
Situações muito menos comuns são doenças do aparelho digestivo, problemas de tireóide, defeitos congênitos, problemas psicológicos (este último acaba sendo também uma conseqüência do próprio escape para muitas crianças).
O tratamento depende fundamentalmente da compreensão do que está acontecendo, da paciência e carinho dos pais – é impressionante como muitos pais tornam-se agressivos de uma forma ou outra com seus filhos nesta hora em que eles mais precisam de apoio – e do uso temporário de medicações que “soltem” o intestino, além de táticas de treinamento no uso do banheiro, como a famosa “hora do cocô” (ficar sentado – sem cobrar pelo próprio cocô – durante alguns minutos no penico ou vaso sanitário, após as principais refeições, para ir acostumando com a resposta ao “chamado” do intestino para a evacuação).

8 de março de 2006

Adernautas


Na iminência do afundamento (por superpopulação), passageiros a bordo do Mídia I, o maior navio do mundo, estão sendo instados a escolher para que lado irão se dirigir: ao bombordo (estética), onde poucos barcos infláveis – a maioria cheia de furos - ainda estão disponíveis, ou ao estibordo (saúde), onde há abundância de barcos.
Não se sabe se pelo aspecto um pouco desmazelado dos barquinhos do estibordo – uma pinturinha que falta aqui, uma ausência de brilho ali, o que não os torna menos seguros, até pelo contrário – a turma os têm deixado surpreendentemente de lado na hora da escolha.
E vão quase todos espremidos, mas contentes, no bote da estética, esperando a descida ao mar, embora não se saiba se ocorrerá em tempo hábil. Parece até que rola uma musiquinha (MP3, claro) e uns biscoitinhos (light) pra galera da estética, o que tem feito os já quase-salvos da saúde se perguntarem se não estão mesmo no barco errado:
-“Tão sem-graça”, reclamam.

7 de março de 2006

Inflamadão


Não bastasse a avalanche informativa que cai sobre a cabeça dos obesos (muitos indivíduos obesos alimentam-se mais de informação sobre a obesidade do que de comida), vou acrescentar mais uma – ominosa, ainda por cima:
O obeso pode ser chamado de um “inflamado” cronicamente.
Como mostra um estudo publicado no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, a obesidade é associada com o aumento de vários dos chamados marcadores inflamatórios (substâncias como as citocinas e interleucinas, que “disparam” reações inflamatórias pelo organismo - dentre outros lugares, nos vasos sangüíneos, contribuindo fortemente para a aterosclerose precoce, a hipertensão arterial e a diminuição da função dos rins vista nos obesos), além de leve aumento permanente na contagem de células do sangue também responsáveis pelas inflamações.
O mesmo estudo mostra que a perda de peso (neste caso com dieta com baixas calorias, apenas) leva à diminuição de quase todos os parâmetros inflamatórios.
(Um detalhe: no médio prazo, as próprias dietas – por induzirem a uma “defesa” do organismo – e os exercícios físicos extenuantes também causam este “estado inflamatório”. Daí um dos riscos de se “pegar pesado” no tratamento dos obesos: a soma de stress inflamatórios.)

6 de março de 2006

Páginas Amarelas


É meio complicadinho, mas vamos lá:
As células vermelhas (hemácias ou eritrócitos) podem ser definidas como um “saco cheio de moléculas de hemoglobina”.
As hemácias duram em torno de 120 dias e, após este período, morrem, liberando a hemoglobina. A hemoglobina liberada se transforma no sangue em bilirrubina (como se fosse um “resto” molecular da hemoglobina, que vai ser jogado fora). Esta bilirrubina (chamada de indireta é, em altas concentrações, tóxica para o cérebro).
Através do sangue, a bilirrubina indireta chega ao fígado e é transformada em bilirrubina direta (pronta para ser eliminada pelo fígado para os intestinos: é a bilirrubina direta que vai dar o tom amarelado das fezes).
No recém-nascido, a icterícia (cor amarelada da pele) pode ser provocada pelo aumento da:
Bilirrubina indireta (mais comum) como na:
• maior quantidade de hemácias (normal ao nascimento), que é, então, destruída em excesso
• vida mais curta das hemácias (normal, até certo ponto)
• imaturidade do fígado do recém-nascido (também normal)
• presença de substâncias no leite materno que aumentam a produção de bilirrubina (icterícia de início após a primeira semana, benigna, mas que muitas vezes eleva muito a contagem da bilirrubina, podendo durar meses)
• incompatibilidade sangüínea (ABO ou Rh): anticorpos da mãe reagem contra o tipo sangüíneo diferente do filho, causando uma maior destruição de hemácias do que o normal (é a causa mais freqüente de tratamento hospitalar da icterícia).
• etc (são muitos – mas raros – os “etc”.)
Ou da Bilirrubina direta:
Causada por infecções no recém-nascido (que faz com que o fígado fique “paralisado” na eliminação da bilirrubina), hepatites neonatais, defeitos congênitos nas chamadas vias biliares (sistema de canais que drenam a bilirrubina para ser eliminada para os intestinos), etc. (também são muitos e raros estes “etc”.)
Complicado, né? Eu falei, eu falei...

5 de março de 2006

Rosca

Roberto Benigni, ator e diretor italiano, na festa em que recebeu o Oscar (ô premiozinho de nome simpático!) pelo seu questionável mas interessante “A Vida é Bela”, agradeceu aos seus pais pela pobreza e dificuldades que lhe foram dadas como herança, para que pudesse vencer na vida. Foi um agradecimento (até onde eu saiba) inusitado, mas verdadeiro.
Maiores sinceridades, como as do tipo abaixo, ainda devem vir por aí.

4 de março de 2006

Uma Pedra das que Falava Carlos


Falo por mim, claro.
Mas acredito que falo também por uma parcela grande, cada vez maior, da população.
Quero morrer aos, sei lá, oitenta ou noventa anos. Não mais, não virar peça de museu, pelo menos por enquanto (Como diz a piada: Quem quer viver até os oitenta? Quem tem setenta e nove, lógico).
Se possível, morrer de espirro atravessado, coisa grave. Ou no meio da noite, levemente sufocado na babinha.
Até lá, gostaria muito de viver alegre, animado, ágil na medida do possível, forte o suficiente pra não pedir ajuda pra abrir o pote de maionese.
E mais: sem ter que tomar quase nenhum remédio, a não ser um analgésico ocasional, para uma dorzinha de cabeça, quem sabe.
Medicações de uso crônico mexem fundo com o que, na falta de termo melhor, chamarei pomposamente de “mito da indestrutibilidade”: gostamos, precisamos na verdade, nos achar fortes, indestrutíveis.
Ao nos defrontarmos com uma prescrição com um remédio para a vida toda ou para o resto dela, já estamos pressupondo um fim, coisa que angustia quase todo mundo (não tenha dúvida, muitos dos que iniciaram a leitura de um texto como este, ao se depararem com a palavrinha mágica “morte”, já viraram a página correndo, é natural).
Se, então, a angústia pinta no adulto, o que dizer da criança? Neste caso, quem assume essa angústia são, naturalmente, os pais, de forma redobrada.
Não podemos, desta forma, simplesmente, irmos “caneteando” uma receita de remédios deste tipo. É coisa pra ser discutida, analisada, questionada, recusada até. É preciso tempo para que o impacto seja absorvido.
Temos ainda – e olha que é difícil, fruto de longo e diário aprendizado – que aceitar passivamente a fuga para a chamada medicina alternativa (há mesmo alguma alternativa para a medicina?), pois, devemos nos questionar, não faríamos nós, então, o mesmo?

3 de março de 2006

Frágil, Pero no Mucho

Modismos médicos vão ao encontro de interesses da indústria farmacêutica.
Remédios para “baixa imunidade” são, além de caros, inúteis para a maioria das crianças.
Imunidade baixa não é diagnóstico de todo dia. Nem mesmo de toda semana ou mês, a não ser em hospitais de referência. São casos sérios, doenças graves.
Não se pesquisa baixa imunidade em quem tem dois ou três casos de resfriado ou mesmo gripes freqüentes. Nem mesmo algumas poucas infecções bacterianas solucionadas rapidamente, principalmente numa faixa etária em que isso é considerado normal, como em crianças que freqüentam creches ou escolas há pouco tempo.
São casos vistos em alguns prematuros extremos ou recém-nascidos de muito baixo peso. Ou então crianças acometidas por câncer, doenças sangüíneas ou transplantados.
A atenção médica nestes casos (das chamadas imunodeficiências secundárias) deve se voltar para a doença de base, causadora da baixa imunidade.
Afora isto, estão casos de baixa imunidade hereditários (as chamadas imunodeficiências primárias, menos freqüentes, pelo menos as de maior gravidade).
Nestes pacientes, germes quase inofensivos se prevalecem contra um sistema imunológico debilitado.
É trágico, mas uma simples levedura como o Saccharomyces boulardii pode levar à morte.
Saccharomyces boulardii: primo-irmão da levedura utilizada na fabricação da cerveja!

2 de março de 2006

Gemada


Pais zelosos não devem se eximir de (de vez em quando) dar umas “pegadinhas” nos testículos de seus pequenos filhos (eu disse pequenos; nos adolescentes deixem que eles mesmos peguem).
Perceber anormalidades é tarefa do pediatra. Entretanto, ajuda muito a observação por parte dos pais: notar aumento de volume de algum ou de ambos os lados, perceber se os testículos se encontram na bolsa escrotal ou outras anormalidades.
No caso dos testículos, alguns meninos já os têm “exibidinhos” desde cedo, ou seja, os dois são facilmente palpáveis, o que é a situação mais normal.
Testículos “muito tímidos”, escondidos, difíceis de serem achados são chamados de ectópicos. Quando são definitivamente escondidos (criptorquídicos), necessitam de cirurgia para fixação na bolsa escrotal.
Os apenas retráteis, ou seja, os que somem e reaparecem na bolsa escrotal, podem ter dois destinos: observação por um prazo de até alguns anos (a maioria vai se “instalar” na bolsa definitivamente mais tarde) ou cirurgia (quando já há diferença de tamanho dos dois, ou quando a “ida” para a bolsa tem sido muito difícil).
Uma conseqüência temida quando não há descida definitiva (apesar de não tão freqüente) é o câncer de testículo. Por este motivo (e pela possibilidade de atrofia no tempo prolongado), a decisão de tratamento não pode ser adiada para além da puberdade.
(por favor, veja também assunto final da página de 2006-01-29 do arquivo, pois, já tentei, o Blogger não "linka" pra assuntos "feios")

1 de março de 2006

Solta a Língua


“Língua presa”: uma dúvida muito freqüente. Precisa cortar? Vai dar problema pra falar?
A maioria das crianças com anciloglossia (termo médico para a situação em que o freio lingual é curto ou pouco móvel) não deverá ter maiores problemas, visto que o freio
costuma regredir e afinar.
Alguns recém-nascidos, no entanto, podem ter dificuldades para mamar ao seio. Os dois principais sintomas neste caso são: dificuldade da pega e dor no seio materno, além das alterações do freio lingual (os três principais aspectos da língua estão mostrados nas fotos do artigo do Pediatrics – vale o link : bordas da língua mais elevadas que o centro, na figura A; dificuldade para colocar a língua para fora da boca na figura B; e extremidade da língua voltada para dentro – formando um “V” - na figura C). Quando corrigido (pequeno corte chamado de frenulotomia), a melhora da sucção costuma ser evidente.
Em crianças mais velhas (por volta dos 3 anos de idade) a anciloglossia pode ser um fator de dificuldade de fala, principalmente para alguns tipos de letras. Um teste simples que os pais podem fazer é reparar se a criança mostra muita dificuldade para lamber um sorvete.
Outro problema que pode aparecer em casos severos é a alteração da arcada dentária (separação dos incisivos inferiores).
A frenulotomia costuma ser um procedimento com riscos mínimos para a criança, podendo ser feita inclusive sem anestesia em recém-nascidos e lactentes.