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29 de novembro de 2019

Não Adianta Saber


O maior exemplo (sempre dado) é o do tabagismo. Levou-se muito tempo para se entender (ou mesmo acreditar) que os cigarros encurtavam a vida, de diversas formas. Mas para muitos, ainda hoje, não adianta saber. O fumo não foi eliminado, ainda que tenha caído em popularidade, e medidas anti-fumo tenham sido implementadas no mundo todo.
Em todas as áreas - não somente na saúde, claro - em muitas ocasiões, não adianta só saber. 
Outro exemplo? Os excessos, ou os "erros", cometidos na alimentação. Nutricionistas sabem: não adianta saber! O grande empenho desses profissionais não é em educar, mas em tentar achar estratégias para que o conhecimento possa se transformar em ação (uma alimentação mais compatível com a saúde), tarefa das mais difíceis.
Outro (e agora, suspeito que com grande parcela de culpa da classe médica)? O uso abusivo de medicações. A maioria dos pacientes se inquieta no que diz respeito aos efeitos colaterais e danos no longo prazo com o uso de certos remédios. Mas... não está adiantando saber. Se está recorrendo a eles com frequência assustadora, meio como "não quero nem saber (das consequências)". Desconfio que em parte como substituto para outros "consolos" da vida.

22 de novembro de 2019

Incompleto


Pergunta ao médico pelo Whatsapp:
"20 gols é uma boa média?"
Resposta (não dada):
"Depende:
É começo, meio ou final do campeonato?
É de zagueiro? Ou de atacante?
É de várzea, ou é UEFA Champions?
Foi "na boca do gol"? Ou teve golaço?
Teve outros campeonatos? Ou é o primeiro?
Jogou contra time fraco? 
É de de botão, de salão, ou feminino?
É do time, é de um, ou do ataque como um todo?
É previsão, promessa ou scout final?
É de fim de carreira? Ou sub-17?

Pergunta ao treinador de futebol (também pelo Whatsapp):

"Febre, diarreia e dor nas costas, é o que?"

15 de novembro de 2019

O "Normal" É Pouco


Estudos das últimas décadas têm repetidamente mostrado que o nosso habitual exame de sangue (o chamado "hemograma") pode dizer ainda muito pouco sobre nossos pacientes.
Pegue o caso emblemático do número de linfócitos (parte importante da defesa do organismo, dos chamados "leucócitos", todos com funções de defesa variáveis -  ou mais exatamente complementares):
Linfócitos têm várias subclasses. Vão desde linfócitos killers (isso mesmo, "matadores", responsáveis por "dar um pau" em muitos tipos de germe) até os linfócitos Treg ("T"  reg), "reguladores" que fazem o necessário contrabalanço na ação dos primeiros, dentre outros.
Estão todos eles ("killer", "reg", e os demais) como, simplesmente, linfócitos! Não informa o hemograma "quem é quem". E mais: não nos informa, baseado na sua contagem, se estão cumprindo suas funções de forma adequada. Há exames bem mais complexos para isso, não solicitados de forma costumeira (e, claro, desnecessários mesmo, em muitos casos).
É justamente por isso que exames complementares são... complementares! Importa muito a história do nosso paciente, importa muito valorizar o que realmente interessa nos seus dados de doença (inclusive não supervalorizando certas coisas, ou transportando temores infundados dos pacientes para a atuação médica). 

8 de novembro de 2019

O VAR e O Médico



Não sei se você que me lê tem assistido ao futebol ultimamente.
Virou uma coisa muito chata (pra quem achava que já não era).
Essa nova tecnologia do chamado "VAR" (a conferência por vídeo do lance duvidoso por todos os ângulos, associada a uma "comissão" de experts para julgar se o árbitro principal teve ou não razão na sua decisão - ou mesmo na sua indecisão, ou no seu erro) criou em pouquíssimo tempo uma celeuma muito maior do que se criava apenas com o árbitro e seus "banderinhas".
Mas mais do que isso - e aí é que eu queria fazer um paralelo importante com a Medicina - tem gerado uma nova geração de novos árbitros extremamente inseguros da própria atuação - sem melhorar (ou até piorando) os resultados.
Médicos também têm tido seus vários "VAR" ultimamente. É protocolo enorme de conduta terapêutica, é "medicina baseada em evidência", é uso excessivo de tecnologia laboratorial ou de imagem, é conferência de dados em aplicativos, é até mesmo alguns "VARes" muito parecidos com os "VAR" futebolístico, onde se confere em tempo real, em vídeo direto ou à distância, se não está mostrando alguma incompetência.
O que tem gerado? Médicos absurdamente inseguros, que não confiam no "próprio taco", que não pensam mais por eles mesmos, que não desenvolvem o tão valoroso "feeling" que estão "checando o lance" a cada momento para ver se não estão cometendo erros e, somado a isso, sempre prontos ao surto, ao burnout
Não é nada interessante, nem se você é o médico e nem mesmo se você é o paciente. 
Mas às indústrias interessa médicos frágeis assim. São muito mais facilmente manipuláveis aos seus interesses, vão gerar muito mais lucros.
Não importa que  - como os árbitros atuais - sejam muito mais descartáveis.

1 de novembro de 2019

Leite "CP" ("Cara de Pau)



Mais um sucesso de vendas. E mais um tremendo desserviço para a saúde infantil.
Não é de se estranhar que coisas desse tipo apareçam a toda hora, pois estamos à mercê das indústrias mesmo.
Estou falando hoje do novo "leitinho" Novamil AC (você pode imaginar o meu surto ao ouvir o anúncio do representante laboratorial sobre a "grande novidade"...).
"AC" do que? De "anti-cólicas". Mais presunçoso o tal leitinho não poderia ser: acabar com o tormento do choro, das "espremeções", das noites sem dormir.
Só pra variar, mais uma vez, usando o foco errado (de quase todo mundo o tempo todo) do funcionamento intestinal "problemático".
Peço para os pais pararem um pouco pra pensar: com a avalanche de produtos destinados à solução da "cólica" dos últimos anos, se o "problema" fosse mesmo intestinal, haveria tanta coisa destinada à mesma finalidade, ou haveria uma só?
É remedinho pra dor, é fitoterápico, é modificador de flora (prés e probióticos), é agora leitinho específico, com mais isso e menos aquilo (nem vou me dar ao trabalho de analisar o que esses "issos e aquilos" significam), e... bebês seguem chorando e se espremendo, e fazendo pais perderem preciosas noites de sono até que... amadurecem!
Já falei várias vezes aqui que as "cólicas" têm quase nada (ou muito pouco) de base intestinal (ou digestiva, ou seja lá o que for). Claro que todos sabemos que um intestino "hiperfuncionante" não é a coisa mais interessante do mundo (experimente isso no meio de uma longa viagem, ou durante uma sessão de cinema, por exemplo).
Mas a "cólica" não vai ser "resolvida" definitivamente enquanto médicos e pais (e a própria mídia) não abordarem o aspecto desenvolvimentista do porquê bebês choram (e se espremem, e fazem pais perderem noites preciosas de sono). 

Por que a minha absoluta revolta com esse produto cara de pau? 

Porque milhares e milhares de mamães deixarão de amamentar seus filhos para usar esse "leitinho milagroso"! Ou você acha que eu exagero?