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29 de junho de 2018

Caro Brinquedo


Não sei se a metáfora pediátrica cabe apenas porque sou pediatra, mas o Brasil está definitivamente assim: a cada eleição se põe nas mãos da criança pequena o objeto mais precioso e caro da casa e se diz: "pode brincar".
Azar que destrua (inevitável, como todos sabemos). No caso pediátrico, ainda pode haver um "mamãe compra outro".
Ninguém minimamente realista ainda pode acreditar num bom senso de quem vai manejar esse objeto. É lixo na certa. As pesquisas de intenção mostram isso há três perigosos meses da derrocada final.
Nossas crianças ainda sonham com a volta daquele Papai Noel que já entregou a elas tudo o que elas poderiam ter. Ignoram (pois crianças) que mesmo o "bom velhinho" faliu, pois posou de herói durante tempo demais, e agora rasgado, maltrapilho e além de tudo sem máscara, ainda oferece a elas seus últimos sonhos (porque de resto é o que elas ainda possuem).

É uma história triste, desesperançosa. Mas é também a que temos a oferecer.

26 de junho de 2018

Pobre Leigo


Até o advento da internet (mais especificamente do Google) era o médico quem costumava levar a pior. Ao pensar (ou saber) ter uma doença, costumava ter na sua cabeça (e ainda tem) mais ou menos detalhadamente o prognóstico, possibilidades de tratamentos, complicações, etc. E isso é sempre meio assustador (e até um complicador nas chances de melhora, por exemplo).
Hoje, quem "se dá mal" é o leigo.
E por que?
Porque o leigo tem tanta informação disponível quanto o médico. A diferença, entretanto, é que não sabe como interpretá-las. E isso é meio grave.
Dou um simples exemplo:
Um paciente recebeu a informação de um médico de que apresenta uma piodermite (uma infecção de pele que costuma ser banal, de tratamento relativamente fácil).
Mesmo tendo sido informado a respeito, o que faz? Google, claro!
E lá, dentre outras coisas, lê de que no exame de sangue pode haver "neutrofilia" (outra coisa banal no exame de quem tem infecção comum).
O que acontece?
"Meu Deus, neutrofilia? O que é isso? Posso estar com neutrofilia? Será que tem a ver com hemofilia? Será pior?"
O que faz?
Clic, clic, clic: "neutrofilia"!
Que diz lá: neutrofilia pode aparecer nisso, nisso, e naquilo...
E então:
"Meu Deus, então posso estar com isso, isso ou aquilo? Meu Deus!"
Percebe? A enrascada? 
A sugestão: se não puder evitar completamente, pelo menos evite aprofundar.

22 de junho de 2018

Gols e Goles


Não adianta. É planetária essa dificuldade na distinção entre o que é mau gosto e o que é ofensa.
Você e eu só aprendemos de verdade a diferença quando tomamos bronca, quando apanhamos, ou quando vamos em cana. Em qualquer idade. 
Daí a repercussão da grosseria dos torcedores brasileiros que achavam que o que faziam era só curtição.
Vão ficar marcados por um tempo. Vão perder emprego. Vão no mínimo ter que dar explicação (inexplicável, mesmo com goles a mais).
Até mesmo o grito de "animal associado a pessoas homoafetivas" vai tendendo a perder espaço nos estádios. E é o que tem que acontecer mesmo, ainda que pareça excesso de puritanismo.
Vai ficar muito chato? Paciência! Se for para aprendermos a ter mais respeito, pensemos apenas. Externar já é grave!

19 de junho de 2018

"Ladrões" Natos


Brinco com os pais de que as crianças já nascem pequenas ladras.
Sem nenhuma teoria para apoiar, é o que a gente vê no consultório médico: crianças que mal aprenderam a andar, pegam os famosos "bichinhos" ou carrinhos ou seja lá o que agradou a elas e vão disfarçadamente colocando nas bolsas das suas mães, com carinhas de quem não estão ali.
É muito engraçado de ver. Mas aí, temos que (como sempre) dar uma de chato: "devolve, eu vi!". É a nossa vez de dar o ensinamento.
Perdi a conta dos "bichinhos" surrupiados sem que se tenha visto (claro que às vezes por criancinhas bem maiores, já com a "maldade instalada"...).

Pais, por favor, devolvam!

15 de junho de 2018

Prosa Chic


Tempos atrás, uma mamãe muito "bem vestida" que eu não conhecia, ao entrar no consultório (SUS), foi logo avisando:
"Meu filho tem APLV"
Eu deveria saber que ultimamente a alergia (à proteína) do leite de vaca é nomeada pelo seu jargão, sua abreviatura.
Mas que é esquisito uma pobre criança sofrer de APLV, é! Principalmente porque o diagnóstico assim, dessa forma, sai da boca da mamãe. E principalmente porque a mamãe passa a impressão de estar "quase curtindo" um diagnóstico assim tão chic! (mas imagino que parte do motivo era saber se o médico estava devidamente "antenado"). APLV!
A coisa vai indo assim, agora. Outras abreviaturas ou estão ou virão.
E aí fico pensando na conversa de louco entre médico e paciente que pode estar sendo travada hoje em alguma parte do país:
"Seu filho, portador de SD, apresenta poucos sinais de ADPM, porém há um importante DPE, o que faz com que seu RGE deva ser mesmo tratado".

Acredite, essas siglas existem (mas devem ser evitadas ao máximo)!

12 de junho de 2018

Operação Ouvidos Moucos


Reposição energética, reequilíbrio emocional, repouso digestivo, renovação imunológica, rememorização... 
São muitos os benefícios das horas de sono. E a gente tem pelo menos uma boa noção disso.
Mas aí, basta um buá mais caprichado e os pais vão lá e... tiram a figurinha do berço (sempre com a desculpa do "coitado")!
Não! Deixa lá! 
Esse aprendizado da "noite foi feita para dormir" nem sempre é simples. Precisa de algum sacrifício do "dormente". E dos "donos" dele (especialmente) também. Nada de ceder!
Também não tem essa de "fome". Se você não tem fome às 3 da madruga, seu filho também não tem! É "papo furado" pra querer agitar o ambiente noturno (com exceção das primeiras três semanas de vida, em média, quando a glicemia ainda pode cair de forma perigosa no período)!

Resistam!

8 de junho de 2018

"Intragáveis" II


Uma outra coisa que "pega" no assunto anterior ("Intragáveis") é que a definição do que é "café da manhã" varia muito de pessoa para pessoa e de uma região geográfica para outra.
Os clássicos cafés da manhã que os americanos venderam como imagem para o mundo incluíam quase sempre ou um volume mastodôndico de comida (ovos, bacon, panquecas, melado, etc.) - mas é o "brunch" deles, a junção do café da manhã com o almoço em uma só refeição - ou, pior ainda, o famoso "pote de cereal com leite", uma opção das piores, seja de dia ou de noite.*
Não estou aqui para advogar uma ou outra escolha (para detonar as escolhas ruins, sim, porque estas não dependem de gosto pessoal, devem ser desaconselhadas), mas é algo que temos que conceder na queixa dos pacientes: falta tempo, falta às vezes dinheiro, falta algum conhecimento, e não faltam falsos mitos de que "talvez seja uma boa idéia jogar fora uma refeição: menos calorias, mais saúde".
Com tudo isso, estejam atentos: o café da manhã ainda não desceu do primeiro lugar do ranking. Continua sendo a principal refeição do dia, aquela que deveríamos planejar e preparar com um pouquinho mais de cuidado.

*Suspeito que esse próprio fato possa ter influenciado na visão de muita gente de que café da manhã engorda, afinal os americanos estão no topo da lista dos povos mais gordos e metabolicamente doentes!

5 de junho de 2018

"Intragáveis"


É curiosa essa história do café da manhã.
Chega a parecer que o ser humano não foi feito para se alimentar de manhã, tal é a frequência de pessoas que relatam não terem o menor desejo de pôr nada de calórico para dentro de seus corpos no início do dia.
Fisiologicamente ocorre justamente o oposto. E é sempre muito difícil convencer os "intragáveis" dos motivos por A + B. Precisaria alguma noçãozinha mais do que elementar da coisa.
E aí, pelo desconhecimento vem o não convencimento, é super natural.
Por ora talvez fosse suficiente saber que além das questões peso e alterações de exames metabólicos, há evidências de que eventos cardiocirculatórios graves estejam associados com essa prática, como mostrou estudo com grande grupo de voluntários da área da saúde (que aliás, costumam ser muito pouco saudáveis...). 
Infartos, derrames, hipertensão foram resultados mais comuns nos que tentaram trapacear o organismo no raiar do dia.

1 de junho de 2018

O Que A "Queda do Umbigo" Diz Sobre A Saúde do Seu Bebê?


Pouco. 
Mas uma condição meio frequente, a diminuição transitória do número de neutrófilos, as células de defesa (ou a diminuição, também transitória, da sua função) pode fazer com que a queda "do umbigo" (na verdade, do coto umbilical, a parte do cordão umbilical que cai) demore um pouco mais.
Os prazos limítrofes podem ser de até perto de um mês e meio, mas em média o coto cai com duas semanas de vida.
Claro que os cuidados como o uso do álcool de forma correta e a espessura inicial do coto são fatores que influenciam.