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27 de setembro de 2019

Grupo Escolar



Imagino que algum "brilhante" burocrata da secretaria de educação do governo catarinense (não somente catarinense, tenho visto em outros estados o mesmo brilhantismo) teve a brilhante ideia de fazer pré-escolares e escolares passarem por mais um afiado tormento: comprovar seus grupos sanguíneos "para o caso de".
Para o caso de que? 
Qual o motivo de as escolas portarem dados de tipo sanguíneo de seus alunos?
Imagino que a resposta "óbvia" seja a trágica suposição de algum acidente com o transporte escolar, ou mesmo a necessidade de transfusão de sangue urgente em alguns alunos atingidos por um atirador maluco.
Ja disse aqui antes: a não ser em raríssimas exceções (corredores de fórmula 1 é uma delas) não se confia em dados burocráticos achados em algum computador para se transfundir alguém que em situações normais (não sendo piloto de fórmula 1, por exemplo) teria poucas chances de precisar uma transfusão de sangue.

É muito (muito!) mais racional tipar no momento em que a necessidade aparece, até porque laboratórios de emergências têm essa missão com alguma frequência e, além disso, não se transfunde alguém sem a chamada "prova cruzada" (doador vs. receptor). E é bom não dar ideia, pois algum outro burocrata pode querer deixar banco de doadores para cada receptor pronto nas escolas!

20 de setembro de 2019

Intricado, Inteligente



Saiu há poucos dias mais uma revisão da complicada genética dos indivíduos com autismo, essa na famosa revista científica Cell ("Getting to the Core of Autism", "Chegando ao Âmago do Autismo").
Algumas coisas chamam a atenção (a mim, ao menos):
Uma delas é que (quase que) "todo mundo é autista", o que de certa forma é tranquilizador, pelo menos naqueles situados nos extremos mais brandos do chamado "espectro", termo utilizado para se dar uma ideia da grande abrangência dos sinais. É espectro mesmo, e é muito abrangente.
E aí a outra questão importante: se "quase todo mundo é autista", não precisamos nos descabelar ao percebermos sinais (leves, ao menos).
O outro fato (re)citado é sobre o grande parentesco genético da inteligência superior com o autismo, que é o que se vê de forma extrema em muitos superdotados. Isso nas formas mais habituais, chamadas poligênicas (dependentes de vários genes, separadamente ou associados - curiosamente bem menos sérias do que nas formas afetadas por um só gene, chamadas monogênicas, justamente porque nas monogênicas o "defeito" reside em genes mais definidores das funções intelectuais mais básicas).

Cura? Tratamento genético? É justamente essa complexidade relatada nas interações dos vários genes com as proteínas envolvidas no desenvolvimento e funcionamento cerebral o que faz parecer que por muito tempo isso será uma mera utopia.

13 de setembro de 2019

Alergia, Alegria


A indústria farmacêutica vive feliz (ou, por assim dizer, "allegrica") com a eterna barafunda informativa.
Uma das grandes - e lucrativas - confusões é o rótulo de "alergia" para quase tudo, e o consequente uso de "antialérgicos" (que nem isso na verdade são, "antialérgicos" são, na verdade, apenas anti-histamínicos, algo muito restrito farmacologicamente falando) para quase tudo.
"Irritação na garganta"? Alergia!
Tosse? Antialérgico!
"Nariz escorrendo"? Alergia!
"Coceira"? Antialérgico!
E por aí segue...
E os efeitos? Aparentemente "ajudam" na maioria dos casos, principalmente porque muito dos supracitados efeitos melhoram espontaneamente, raramente necessitando de muito tempo para isso.
Com raros efeitos colaterais graves, é tudo o que colabora para fazer felizes pacientes, farmácias e mesmo médicos (mas, de novo, antes de tudo as indústrias), gerando aquela agradável sensação de se estar fazendo "alguma coisa".

Atchim!!... Antialérgico, meu filho!

6 de setembro de 2019

Goiabinha



Um estudo chegado agora na prestigiosa revista Science já chega com cara de anacrônico.
Pesquisadores "aproveitaram" os enormes bancos de dados genéticos atuais para responder a uma pergunta que pouca gente hoje se faz:
O comportamento homossexual tem base genética?
Pouca gente, mesmo iletrada, ainda imagina que tenha.
E foi o que a enorme pesquisa - com meio milhão de pessoas, o provável único trunfo da pesquisa, mas que pode também ser seu ponto fraco - confirmou.
Ainda precisa? Joga alguma luz no comportamento sexual das pessoas? E mais: ainda é necessária, atual, correta, a distinção de certos comportamentos, incluídos os sexuais? Não é mais ou menos como buscar uma identificação genética para pessoas que comem "goiabinha" (o biscoito, nenhum merchandising intencional), porque quem a come pode ter goiabinha disponível na vendinha próxima de casa, pode gostar da cor do pacote, pode gostar do cheiro do biscoito, pode não ter nada melhor pra fazer do que comer goiabinha, pode ter sido influenciado pelos familiares, pode seguir uma tradição local, pode estar enjoado de Maizena, pode ter sido obrigado a comer goiabinha, pode ter tido algum trauma em relação a outros biscoitos, pode ter se empanturrado de goiabinha pela desilusão com o suspiro, pode ter comido goiabinha porque estava bêbado... E pode estar comendo goiabinha sem que ninguém saiba do fato (estaria então ocultando, ou mentindo). Nada disso tem a ver com a genética. Nada disso pede a realização de uma análise de banco de dados genéticos. 

Próximo assunto.