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26 de julho de 2019

Dureza


Quando era criança, costumava ouvir falar muito do cálcio, e muito pelo medo desmotivado (em relação ao cálcio) do raquitismo.
Ao iniciar como pediatra, ainda ouvia muita pergunta dos pais, apreensivos em relação aos níveis de cálcio, e com a possibilidade de faltar cálcio aos ossos dos seus filhos, e vi também muito colega suplementar cálcio, na forma medicamentosa.
Hoje essa "cálcio-mania" passou. Por vários motivos, acho. Dentre eles, o melhor conhecimento da relação com a vitamina D, com a matriz proteica óssea (sem proteína adequada não pode haver osso saudável, e era isso o que costumava faltar em muitas crianças do passado), mas principalmente porque outras "manias" ou "modas" vieram (alguém aí falou em lactose?), e pais pararam de ver "crianças raquíticas" (muitas delas apenas magras) pelas ruas.
Mas... quanto de cálcio é necessário para um organismo (ou mais especificamente um esqueleto) saudável, mesmo?
A verdade é que até hoje ninguém sabe ao certo.
Há recomendações nutricionais, e se você quer guardar um número de referência de cabeça, lembra do número 1000. Mil miligramas, como média diária de ingestão de cálcio. Claro que vários fatores vão influenciar, como idade, atividade, massa corpórea, função renal, e etc.
Mas para a maioria das pessoas, nem muito mais, nem muito menos.
Há riscos de se abusar do cálcio (dietético ou suplementar)?

Falaremos disso na próxima postagem...

19 de julho de 2019

E Pra Garganta, Nada?


Nunca vi pesquisa a respeito, mas aposto que se se perguntar para os habituais consumidores das famosas "pastilhinhas pra garganta", a grande maioria ignora do que são feitas.
Não são todas iguais. E a grande maioria serve para nada.
Veja a composição das pastilhas Vicky, por exemplo. Uma mistura de açúcar com baboseiras, que deixa um "agradável frescor" na garganta! Nada de medicamento, como tudo o que o laboratório Vicky fabrica (a Vicky é a marca campeã mundial da enganação de trouxa, biliardária e totalmente inútil, um verdadeiro milagre de marketing).
Benalet. Aí já é remédio. Horroroso, porque "anti-alérgico para chupar". Pra que? Qual o sentido de se ficar rolando um medicamento anti-alérgico pela garganta sem que se exatamente engula? Qual a base de se usar anti-alérgico para as comuníssimas dores de garganta, seja de que etiologia for?
E a minha mais odiada: Strepfen. Estou cansado de falar mal do ibuprofeno aqui. Mas é que ele merece (ainda que nem sempre o ibuprofeno seja ruim, o enorme problema é do mau uso - e do abuso - que se faz dele). 

Além de você ficar chupando uma "balinha anti-inflamatória" (aí, balinha por balinha prefira a da Vicky, mas preferencialmente esqueça as balinhas, você não é mais nenhuma criança!), esse nome capcioso (Strepfen), que induz você a pensar no "strep"tococo, o grande germe (bactéria) causador das (reais!) infecções de garganta - bem mais raras do que as inflamações de causa viral ou ambiental. Não é antibiótico (seria absurdo se fosse, na forma de pastilha), não é uma "simples balinha", é um remédio, sim, com propriedades anti-inflamatórias, que com essa aparência benigna estimula os consumidores a se entupir de uma medicação com possibilidade de reações adversas às vezes graves.

12 de julho de 2019

TIF (O "Drama do Feijão")


"Doutor, eu queria fazer um exame pra saber se eu tenho intolerância ao feijão?"
"Ao feijão? Não é à lactose, ao glúten, ao..."
"Não. É ao feijão, mesmo"
"Por que?"
"Porque eu passo muito mal quando como feijão. Tenho muitos, muitos gases, dor na barriga, passo o dia inteiro querendo ir no banheiro."
"Entendo. E tem algum outro alimento que faça você se sentir mal?"
"Até tem. Às vezes uma cebolinha, ou quando como muita azeitona, ou mesmo o abacaxi, quando tá muito ácido. Mas nada que se compare ao feijão. Esse é brabo!"
"Sei. E você come feijão muitas vezes?"
"Não tanto quanto eu gostaria, doutor. Aí é que tá! Gostaria de comer muito mais! Por isso preciso saber: tem algum exame pra eu saber se eu tenho essa intolerância?"
"Tem. Está aqui, ó: vou pedir um TIF pra você..."
"TIF?"
"É, TIF: teste de intolerância ao feijão..."
"Poxa, que bom, doutor! TIF!..."
"Nããão!... Brincadeira! Tem isso não! Não tem "teste de intolerância ao feijão". Não que eu saiba. Mas me diz uma coisa: você já não sabe que basta comer o feijão? Não sabe que é ele o culpado dos teus sintomas? Pra que o exame?"
"Pra ter certeza, doutor!"

(Essa história não tem nenhuma graça. Não é uma piada. É um drama social. O "drama do feijão", se assim quiser chamá-lo. Mas é uma realidade no dia a dia dos consultórios. O "sujeito" sabe que é intolerante. Intolerância significa essencialmente "passar mal quando come alguma coisa", do feijão à cebolinha. Mas com todo o dia passado no vaso, não se convence! Quer exame! E se o exame disser que é intolerante, é intolerante! Se disser que não... Opa! Deve ter algum outro motivo, esse feijão deve ser só coincidência...)

5 de julho de 2019

Com H


A turma do humorístico Porta dos Fundos faz rir porque exagera a realidade (como quase todo mundo que tem como profissão fazer rir).
E nesse quadro acertaram em cheio:


O homem costuma ter mesmo essa "cabeça masculina" que, mesmo "disfarçada", é mais objetiva. É cuidador mais por sentido de obrigação do que por instinto, e sofre muito mais do que a mulher com os deveres para com a prole.
Biologia? Criação? A discussão é interminável, e provavelmente a somatória de ambos. 

Mas não há como negar como chega a ser engraçada a cilada biológica armada para o homem, "seduzido" para a procriação, "abandonado" imediatamente após (o inverso do que ocorre durante o ato sexual).