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20 de dezembro de 2019

Um (Trans) Passo


Claro que banir a gordura trans (um monstrengo molecular que comemos sem perceber em muita coisinha gostosa) deve trazer benefícios para a saúde da população brasileira (assim como aparentemente já trouxe para a Dinamarca, que há quase vinte anos já a baniu). 
E claro que a medida vem com anos de atraso (meio que forçada pela Organização Mundial da Saúde em relação a todos os países). 
O cuidado daqui para frente será o de não achar que "tirou trans, liberou!".
Essa é uma tentação grande nas preocupações dietéticas. Achar que a saúde se resolve com medidas únicas, "mágicas", de um só nutriente.
Não. Ainda estaremos comendo muito. Ainda estaremos nos entupindo de carboidratos de má qualidade. Ainda estaremos exagerando nas gorduras, no sal. Ainda estaremos nos movimentando pouco pra tanto alimento.
Trans é um passo. 

13 de dezembro de 2019

Caro Apetite



Você daria um remédio para seu filho que constasse na bula com clareza - como acontece nos Estados Unidos, onde tem receita controlada - os seguintes efeitos colaterais:
Sedação
Depressão
Tremores
Convulsões
Alucinações
Insônia
Confusão mental
Tontura
Parada respiratória
Parada cardíaca
e, finalmente... morte
(por motivos banais?)
Pois é o que tem acontecido nos últimos tempos no Brasil. E com frequência crescente.
Por que? 
Porque mamães ansiosas com a "falta de apetite" dos seus filhos (na grande maioria saudáveis e com desenvolvimento normal, até que alguém - parente, ou o que é mais grave, "profissional" - invoque com seus pesos) têm recorrido a esse medicamento (antes também de uso controlado no Brasil, mas atualmente escandalosamente presente em várias das "vitaminas para abrir o apetite" de compra livre no mercado farmacêutico), a ciproeptadina.
Tenho até receio de dizer: abre sim, o apetite. De maneira um pouco nebulosa, mas envolvendo algumas vias metabólicas complexas (justamente daí boa parte do seu perigo), inclusive induzindo o paciente a uma forma de hipoglicemia, natural causadora de um maior apetite. 
Está ao alcance das mãos. Molezinha. Com resultados muito rápidos e "satisfatórios". Até que um dos efeitos citados sobrevenha. 

6 de dezembro de 2019

Skype Home


Quem está nas proximidades do cinquentenário saberá do que estou falando.
O filme "E.T." foi um marco do cinema.
A amizade inesperada, o preconceito, a incompreensão inter-geracional, a violência da sociedade, a frieza do cientista face ao "humano". Todos estes temas foram abordados de forma que mesmo as próprias crianças compreendessem. Um filme "pra adulto" que as crianças amaram. O que inaugurou, dentre outras coisas, essa mesma linguagem para os atuais filmes de animação.
Não foi só isso. O diretor Steven Spielberg, no auge, criou uma maneira "infantil" de filmar, com o ângulo de visão da câmera como que manipulada por uma criancinha de seis ou sete anos, dando a exata dimensão desse universo em miniatura.
A cena - hoje incrivelmente banal - da bicicletinha "movida à E.T." no bagageiro subindo aos céus arrancava aplausos fervorosos e lágrimas dos olhos de cinemas lotados.
O mundo mudou. Sempre muda. É mesmo por isso que um comercial de uma entrega de filmes via cabo (justamente o oposto do entretenimento social que representava a ida ao cinema) com o mesmo personagem (um E.T. igualzinho, "tirado do armário", até parecendo meio sem graça de dar as caras novamente), mas com um Elliot de meia idade o apresentando aos seus filhos e esposa (sem conflitos, sem dramas, sem objetivos e sem graça) dá a essa geração elliotiana uma tremenda tristeza, uma sensação meio que de vazio, a sensação de que qualquer emoção é meio fake, pois nada mais assusta ou causa admiração.
Um "E.T." zoiudo com cara de eletrodoméstico não é mais uma exceção.