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31 de janeiro de 2020

Alcachofra


Todo mundo meio que sabe que nossa cabeça não foi feita pra ficarmos tomando cacetada o tempo todo.
Talvez nem a do bode seja, mas ele insiste em não dar ouvidos a isso.
O foco dos últimos tempos tem sido nosso esporte favorito. De vez em quando novo estudo aparece sobre os malefícios de se cabecear a bola no futebol, e principalmente em faixas etárias mais extremas, como é o caso das crianças (ou, pior ainda, em velhotes como eu, que insistem em não aceitar a cadeira de balanço). 
Crianças (e idosos) têm menos suporte da massa encefálica dentro do cérebro. Nos próprios movimentos bruscos de aceleração e desaceleração normais do esporte (mas não só do futebol), já existe uma possibilidade de pequenos traumas que, acumulados no tempo, podem gerar danos (a demência precoce é a grande preocupação).
Ao se cabecear uma bola (ainda mais "dura", ainda mais em alta velocidade contrária), a chance do cérebro "se torcer como uma alcachofra", com seu caule formado pela estrutura do tronco cerebral, é realmente grande.
E agora estamos percebendo que ex-jogadores idosos mostram comprometimentos relacionados a esses traumas.
Como "proibir" que numa pelada se cabeceie a bola (ainda mais aos jogadores compridos, que levam vantagem nesse quesito)?

A responder.

24 de janeiro de 2020

Páginas Amareladas


Estamos hoje na região Sul revivendo mais um medo de epidemia.
Dessa vez, por conta de uns macacos mortos (pelo menos, ainda).
Como sou médico velhinho ("macaco velho" é a expressão que quero evitar agora), lembro da década de 1990 em que ficamos todos com um balde na mão e um frasco de soro na outra esperando o começo da epidemia da cólera (foi, por exemplo, capa de revista Veja, que tentei achar no Google imagens mas não consegui).
Não veio.
E aí, outros medos vieram vindo. Da meningite B (de volta meio recente, falei aqui), das gripes ditas "pandêmicas" (também falei aqui), da gripe aviária (também, há mais de uma década, falei aqui), e da própria febre amarela (também, uma década atrás, aqui no "Olho"!), do sarampo (onde? aqui!), dentre outros medos mais "regionalizados".
Claro que há necessidade de vigilância. E mesmo de informação a respeito. 
De mais medo, não estamos precisando.


(acho muito curioso que uma febre amarela mobilize muito mais os meios de comunicação do que, por exemplo, a velha e má tuberculose, ou a ainda o câncer de pulmão - que tem um grande atual culpado, os veículos motores - que matam absurdamente mais gente...)

17 de janeiro de 2020

A Hora da Fome


Imagine a situação hipotética de que só comeríamos em intervalos ditados pelo que é melhor pra nossa saúde. Só. Nada de fome, nada de cheirinho delicioso, nada de convívio social. 
Se conseguíssemos nos alimentar apenas por esse critério, deveríamos comer a cada quantas horas (ou dias, ou semanas)?
Na verdade, ninguém  - com todo o estudo que se faz a respeito - sabe a resposta correta.
Mas muito provavelmente as refeições seriam muito mais esparsas do que são, e aí por vários motivos já extensamente comprovados pela ciência.
Somos um bicho muito diferente dos demais, mas se formos buscar exemplos na natureza, a grande maioria dos animais têm um imenso gasto calórico dado pela busca do alimento e, em contrapartida, quase nunca estão comendo (esqueça o que você vê no zoológico ou na sua casa, aí são os homens a ditar os horários).
Isso vale, curiosamente, muito também para os bem pequenos. 
O "bebê-homem" deve se alimentar com muita frequência (espaço de até duas horas, às vezes). Mas provavelmente também não foi desenhado originalmente pra ficar "gorducho", como é a imagem de "bebê bonito" que temos na nossa mente (muito ditado pelo longo período histórico da escassez de alimentos, o que culminou com a introjeção na cabeça de várias gerações das formas arredondadas como sendo a ideal, "protetora" da tão temida fome, especialmente em seres frágeis como as crianças).

Nos tempos modernos é a abundância a gerar os perigos (perigos também fartamente documentados). Mas ainda continuamos a nos tratar (e tratar as crianças) como seres famélicos, com a boca permanentemente aberta desejosa de comida!

10 de janeiro de 2020

Morre "de Velho"?



Não entendo nada desses assuntos, mas a polêmica da extinção ou não do já muito antigo seguro obrigatório veicular (com esse nome horroroso de DPVAT em homenagem à burocracia brasileira) faz a gente ficar ainda mais preocupado com o futuro do país.
Vai ser muito difícil (impossível é a palavra, mas não quero usá-la pra não parecer pessimista demais) a classe mais necessitada dos recursos desse seguro (mesmo que de forma indireta, como sempre ocorre *) aprender a se cuidar sozinho. 
A, por exemplo, não "costurar" no trânsito (prática que tinha quase desaparecido por uma ou duas gerações, mas que voltou com força total pelo afrouxamento no cumprimento das leis de trânsito), não botar "os bracinhos" pra fora do carro (outro modismo bobinho nos anos 1980, agora mostra de total ignorância), não andar de moto como quem vai entregar a última encomenda da vida (e frequentemente o é), não multiplicar por 3 a velocidade média permitida nas vias públicas, e etc.
Essa turma ainda precisará muito de alguma cobertura para seus altíssimos custos após os acidentes ocorridos, pois no Brasil é todo mundo invencível e imortal, pelo menos até que chegue à maturidade, essa (a única coisa que anda devagar) cada vez mais retardada pra chegar.
E eliminar esse seguro (fonte de muita corrupção, é verdade, mas, nesse país, quem nunca?) só transfere a conta pra quem de verdade paga as contas, ou seja, poucos.

* Diz lá, na lei: Do total arrecadado pelo Governo Federal com o seguro obrigatório, 45% são repassados ao Ministério da Saúde para custear o atendimento médico-hospitalar de vítimas dos acidentes de trânsito.