No seu famosíssimo livro "Sapiens", Yuval Noah Harari (ô nomezinho difícil!) fala de uma questão cada vez mais flagrante para nós, médicos:
Colocado um pouco em outros termos: quanto menos ficamos gravemente doentes, mais insuportável se torna a doença.
Pais modernos morrem de medo de um espirro! E se você é um deles(as), já deve estar concordando, irritado(a): "Mas claro! E quem não?".
Seus antepassados, não (como argumenta Yuval)! Havia muita desgraça, por aqui e nos seus vizinhos. Por isso, a pequena desgraça era "fichinha". Mesmo a morte, hoje assunto do qual, podendo, passamos longe, era coisa de quase todo dia. E no espaço de umas duas gerações (muito, muito rápido em termos históricos), nos tornamos extremamente longevos e saudáveis.
Mas queremos mais! Almejamos a imortalidade. A ausência absoluta da dor, da incapacidade, e mesmo da infelicidade (conquista tão ou mais inalcançável que a própria derrota da morte). E enquanto esses objetivos não vêm, nos atormentamos como nunca!
Imaginemos que eles se realizem, como propõe o escritor. Ainda assim teremos motivos para tormento. E nossos entes que se foram, não podem ressuscitar? Os que não conseguirão lograr a imortalidade, terão ódio (mortal!) dos que conseguirão? Imortais, viveremos pisando em ovos, pois na esquina um veículo desgovernado pode terminar com nossa imortalidade conseguida a tantas duras penas?
Humanos. Sapiens. E sempre atormentados...