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27 de abril de 2018

Um ou Outro


Apesar de certos médicos darem ares de verdadeiras divindades, é preciso separar, no momento em que pais nos mandam mensagens no Whatsapp, o que é para nós e o que é para Deus:
"Já fiz de tudo, dei de tudo, e a febre não baixa!"
(Deus)
"Qual a dose dessa medicação?"
(médico)
"Será que agora vai ficar bom?"
(Deus)
"Esse problema na pele é o que?"
(médico)
"Tem risco de virar pneumonia?"
(Deus)
"Precisa fazer mais algum exame?"
(médico)
"Se não melhorar, faço o que?"
(Deus)
"Não consigo falar com a sua secretária! Onde será que ela está?"
(nem Deus, nem médico!)

Na medida do possível, quando não é com a gente, vamos tentando encaminhar. Mas a turma tem reclamado da demora nas respostas...

24 de abril de 2018

Antibióticos Para Vírus


Dei de cara (e "fiquei de cara"!) com uma pesquisa realizada pela FAO (órgão das Nações Unidas para a agricultura) que diz que no mundo todo a noção de que doença viral precisa de antibiótico para curar é a noção corrente.
E eu achava que era só "por essas bandas"!...
Pensa, então, a batalha educativa que vai ser para que as pessoas (pacientes e médicos incluídos) se conscientizem!
É coisa quase que de desanimar, pois com trinta anos fazendo isso, vejo poucas mudanças.

Parece mais fácil ceder. Deixar mesmo que a indústria farmacêutica leve a vantagem, enquanto vemos "superbugs" (supermicróbios) tomando conta da humanidade (os números oficiais da própria entidade impressionam: são milhões de mortes causadas por resistência bacteriana a cada ano). Como tudo em ecologia, não conseguimos pensar na coletividade mais do que em nós mesmos.

20 de abril de 2018

Goela Abaixo


Baseado no que dissemos (escrevemos) na postagem anterior ("Alta Taxa Evolutiva"), um dos grandes equívocos que se comete o tempo todo em relação à saúde das crianças é o desconhecimento da relação estresse e ganho de peso.
Crianças que nascem nas condições descritas (ambiente intra-uterino "estressado") têm todo o chamado eixo hormonal (desde o cérebro até os órgãos recebedores dos estímulos hormonais) excessivamente ativado. Estas circunstâncias são geradoras de uma "conspiração" para que este organismo ganhe peso de forma excessiva (excesso de cortisol, excesso de insulina, glicemias mais elevadas, facilitação de depósitos gordurosos durante algumas fases da vida em detrimento da formação de massa magra, etc.).
Se essa criança porventura nasce com "baixo peso" (ou mesmo com risco de baixo peso) os cuidados devem ser não para que ganhe (ou "recupere") peso de forma rápida (muitas vezes com instituição de regimes baseados em fórmulas hipercalóricas), mas sim para que se "proteja" esse pouco ganho, porque em algum momento é provável que o organismo "cobre a conta em dobro", gerando uma obesidade - de difícil correção - e suas consequências.
Se temos dificuldades em fazer com que médicos compreendam isso, imagine com leigos, ansiosos para ver seus "pimpolhos" decolarem no ganho de peso...

17 de abril de 2018

Alta Taxa Evolutiva


Mães costumam comparar o comportamento dos seus filhos recém-nascidos com as maiores ou menores atribulações da gravidez.
E estão corretas.
Uma meta-análise (compilação de estudos) recém-publicada na revista Nature mostra que, em qualquer espécie que se olhe, o que se vê é que o estresse materno na gravidez aumenta grandemente a chance de que sua prole seja afetada por um maior (e permanente!) nível de hormônios do estresse, como o cortisol.
Sempre foi, segundo explicam, parte de uma malévola estratégia de sobrevivência das espécies: ambientes hostis geram filhotes com mais curta duração de vida, cuja única "preocupação" é reproduzir (mais cedo) e, após, estar pronto para morrer.

O que é bom para as espécies é, claro, péssimo para o indivíduo. Uma vida toda lutando (com problemas de saúde como a hipertensão, a glicemia mais elevada, a ansiedade) contra os efeitos herdados de um estresse que nem era originariamente seu!

13 de abril de 2018

Boca a Boca


Estamos com uma pequena epidemia da doença chamada curiosamente de "mão-pé-boca", que é justamente os locais onde essa doença costuma mostrar lesões (falta de criatividade! se usassem o mesmo critério, chamariam a endometriose de "doença útero" e as hemorróidas de... deixa pra lá!).
Mas, como dizia, a mão-pé-boca tem mostrado o efeito curioso das informações médicas nos tempos atuais. Pais têm estado com um grande medo (e às vezes pânico) que seus filhos estejam sofrendo ou possam vir a sofrer... de mão-pé-boca (essa doencinha mixuruca)!
Tenho pensado sobre os motivos pelos quais isso acontece.
Aqui vão algumas hipóteses:
Vivemos épocas de saúde como nunca houve na infância. Pais, então, naturalmente não têm muito com o que se preocupar, em termos de doenças mais sérias. Preocupam-se, então, com um "mero" mão-pé-boca.
Escolas fazem a sua grande parte no disseminar informações "terroristas" (até pela sua própria ignorância da benignidade da situação).
Algumas palavras ficaram no imaginário popular, mas com significados "anormais". Se você diz que há alguma (mesmo que benigna) epidemia, na cabeça de pais menos informados (ou desesperados, ou os dois!) o que vai ficar ecoando vai ser mais ou menos assim: epidemia, ia, ia, ia!..., como algo necessariamente muito grave!
O fato de não se estar propondo nenhuma medida terapêutica, a não ser o isolamento domiciliar das "vítimas" (o que acentua uma impressão errônea de gravidade).

Esperamos que pais aprendam a medida certa das coisas. E tomara que tudo o que tenhamos que nos preocupar seja sempre um mão-pé-boca...

10 de abril de 2018

Upa Lelê


Infelizmente, na maioria dos locais "desse país" - como diria um famoso que hoje está atrás das grades - as crianças são atendidas quase que exclusivamente com base em "situações emergenciais". Que de emergenciais costumam ter muito pouco (pais consideram um espirro mais intenso uma emergência) e têm gerado uma fragmentação de diagnósticos (mal formulados) e condutas (mal decididas).
É um sistema lucrativo (muito baseado em excessos de medicações), fácil em termos de política pública ("põe uma UPA lá, um médico, e tá tudo certo!"), mas que desconsidera o atendimento correto, que deveria ser feito preferencialmente sempre pelo mesmo profissional (capacitado, claro) e com muito mais prevenção e orientação do que com "resolução através de receita".

O estrago diário que isso tem feito é difícil de ser medido. Mas é enorme.

6 de abril de 2018

Certos Dias de Chuva


O deprimido (não chamo de "paciente deprimido" para não transformar quase metade da população em "paciente") costuma passar pela mesma situação que alguém que possui uma dor (um reumático é um bom exemplo).
Há dias em que ele acorda, não se dá conta de nada, dá bom dia ao porteiro, olha um sol intenso e chega a se sentir algo animado, vai às compras, toma decisões, discute, estuda, trabalha, etc. Você entendeu: vida normal.
Há dias em que cada piscada de olho dói. Qua cada passo é um vacilo. Que decidir se levanta da cama ou fica ali mesmo é uma tarefa que pode levar o dia inteiro. E é aí que ele mesmo constata (ou se lembra) que é, sim, um deprimido. 
E como um reumático ou um paciente de outra patologia qualquer, fica se perguntando porque aquele dia é tão diferente do outro. Pode achar explicações nada plausíveis (frequentemente acha), mas na maioria das vezes se trata apenas da variabilidade de humor própria da depressão (assim como da bipolaridade ou outros problemas psiquiátricos). 

Claro que uma noite mal dormida, uma ressaca, problemas finaceiros, familiares ou outro problema de saúde associado pode contribuir muito para a variação. Mas isso é mais nele, deprimido, do que no "vizinho" que não o é.

3 de abril de 2018

Psicólogo Babá


Eu achava que era só eu que reclamava disso (porque reclamo de quase tudo):
Dessa onda dos últimos anos de considerar o psicólogo (mas aí não me eximo do papel que também tento exercer aqui) como alguém que deve palpitar em como cada um deve levar sua vida.
Um psicólogo é um psicólogo, na melhor das hipóteses. Não é um manager, um presidente, um contador, um neurologista, um especialista em sono, um político, um arquiteto. A não ser que possua formação ou atuação nessas áreas (quando corre o risco de ser "menos psicólogo", como ocorre com qualquer outro profissional).
Não é alguém que deva dizer a você como deve se relacionar com os outros, social ou intimamente. 
Não é alguém que deve atestar que você é "normal", a não ser em certos casos em que as leis exigem que alguém diga isso, e na falta de profissional melhor (mas poderia ser um estatístico, por exemplo)...
Também não é alguém que possui certificado da própria "normalidade", por isso é tão questionável que possa julgar a normalidade dos outros de forma tão adequada.
Não é uma "superbabá", como querem alguns programas.
É, quando capacitado, alguém que faz você repensar sua vida, sua maneira de se comportar, suas relações, suas decisões presentes e passadas. Alguém que escuta suas angústias, seus medos, suas frustrações, suas alegrias, e as devolve para que você lide com todas elas, talvez, de maneira mais adequada, por exemplo. 
Não é, nem mesmo deve ser, alguém que ofereça soluções práticas para sua vida, e nem mesmo alguém que tenha por profissão fazer você se sentir "melhor" (mas é o que quase todo mundo acha). Muitas vezes é até mesmo o contrário!

Estou dizendo isso em conformidade com um artigo recente publicado no jornal francês Le Figaro ("A Moda dos Psicólogos-Babá"), que recomenda que os "psi" saiam um pouco dos holofotes da mídia, pois têm exagerado quando aceitam "entender de tudo".