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18 de fevereiro de 2006

Uma Imprê Sobre a Deprê


Um artigo do PlosMedicine chama a atenção para o fato de que, a partir do sucesso dos antidepressivos modernos (os chamados “inibidores seletivos de recaptação da serotonina", que aumentam a quantidade de serotonina disponível nas células nervosas) como a fluoxetina, a paroxetina, a sertralina e outros, que sem dúvida melhoram muitos dos pacientes com sintomas depressivos, a idéia vendida pela indústria farmacêutica (sempre muito boazinha e dedicada apenas a bons propósitos) é a de que subitamente nos tornamos “deficientes de serotonina”.
Como bem compara o autor, é como se o paciente que sofresse de dor de cabeça e melhorasse com o ácido acetilsalicílico fosse “deficiente de AAS”. Trata-se de um raciocínio inverso (ex juvantibus , para os que gostam do latim). É a tal da “base biológica” para doenças psiquiátricas – meu cérebro me comanda – verdadeira, mas até certo ponto (ou a partir de certo ponto).
O fato de muito dos sintomas reverterem com a medicação não prova a diminuição da serotonina (um dos muitos neurotransmissores, substâncias químicas que fazem a “comunicação” entre as células do sistema nervoso).
Dois detalhes interessantes: condições tão diferentes como a ansiedade, os transtornos obsessivo-compulsivos e o transtorno disfórico pré-menstrual também mostram resposta à medicação. Além disso, cerca de 80% dos sintomas depressivos mostram melhora com placebo (“falsa medicação”), quando comparados com os ISRS!
Depressões graves vão certamente necessitar deste tipo (e provavelmente outros) de medicação. O disparate é a generalização (estimulada pela propaganda) do uso dos ISRS.
Quadros depressivos leves (ou sintomas, ou simplesmente pensamentos depressivos) podem muito bem ser controlados (como também enfatiza o autor do artigo) com terapia (notadamente a cognitiva-comportamental).
O problema está no fato de que é muito mais fácil achar uma farmácia do que um bom terapeuta cognitivo-comportamental.

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