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15 de abril de 2006

Memórias de Um Médico Interiorano


Sou um fracasso comercial assumido. Talvez pela descendência polonesa, tenho até certo orgulho disso. Polacos olham os bem-sucedidos um pouco de lado, mostrando desprezo. Médico rico, então, é sacrílego.
Adoro distribuir “isso num dá nada”s e “pode ficar tranqüilo”s. Chego a mandar paciente embora da sala de espera, pra desespero da secretária.
-Vai consultar por causa disso? pergunto, boicotando o pão das minhas próprias criancinhas.
Nos dias atuais, no entanto, têm ficado difícil. Pais, mães, avós, tias querem sair dos consultórios com “alguma coisa”.
Os “alguma coisa”s que fazem mais sucesso são os de nome longo, aqueles que só podem ser ditos por siglas: TDAH, TOC, SCI, por exemplo. Ou aqueles que são diagnosticados com certeza por algum exame laboratorial, que a família do paciente possa expor em vidro sobre vidro na ante-sala, acima do vaso chinês.
Foi-se embora o tempo romântico, tempo em que não havia convênios. Levávamos o porco ou o peru para casa, déssemos ou não déssemos diagnósticos mirabolantes. E se pedíssemos exames inúteis, de nome empolado, o tamanho do bicho era o mesmo (não dava direito a nem mais uma azeitona na farofa)!

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