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28 de setembro de 2007

Corpo Quente


Já perdi a conta do número de vezes que ouvi esta:
“À noite, quando o corpo esquenta, a tosse piora”.
O que é que tem a ver o corpo “esquentar”?
Aliás, para a maior parte das crianças o corpo esfria, pois dificilmente se mantêm agasalhadas ou toleram muitos cobertores, mesmo em tempos frios.
-Então qual é o motivo da tosse piorar à noite?
Dentre outras razões, pelo fato de à noite, a criança estar se movimentando menos, enquanto dorme. Desse modo, as secreções – mesmo que não sejam em grande quantidade – ficam estagnadas nas vias aéreas (na parte posterior do nariz, da garganta e dos brônquios) até que, por defesa do organismo, inicia-se a mobilização: tosse – em crises, frequentemente.
Outro mecanismo importante é a queda natural do cortisol durante o período noturno (o cortisol é secretado em ciclos: aumenta no início do dia “ligando o organismo na tomada”, dando ânimo para as atividades do dia, e diminui durante a noite, quando o organismo deve “fechar para balanço”, descansar). Acontece que o cortisol tem efeito antiinflamatório nas vias aéreas (ação bem diferente, no entanto, dos antiinflamatórios chamados não-hormonais, presentes em muitos medicamentos*). Com isso, a “proteção” natural das vias aéreas cai durante a noite, com acentuação dos sintomas.
O ar frio de certas noites (mas frio mesmo, presente somente em certas épocas do ano e somente em alguns estados do país) também pode irritar vias aéreas, piorando a tosse.
E mais: alérgenos do ambiente (principalmente partes de ácaros presentes na poeira domiciliar) são, para muitas crianças, fator importante na piora das tosses e bronquites.
Um pouco mais complicado do que a temperatura corpórea...
* Antiinflamatórios não-hormonais (diclofenaco, nimesulide, ibuprofeno, naproxeno, etc.) comumente - e indevidamente - usados em quadros respiratórios das crianças podem, no máximo, não ajudar, mas frequentemente pioram o sintoma da tosse.

Ingrato

Pra mim, o termo rede (net) tem outro significado, o metafórico:
Lanço minhas postagens e fico sentado, esperando que um por um, vocês, queridos (as) peixes (as)* caiam – devidamente registrados no sitemeter aí embaixo.
Hoje por exemplo: a pescaria está sendo boa.
(Pena que tenha que devolvê-los intactos.
Eu, por mim, faria de vocês uma boa peixada).
* Alguém aí já pescou alguma “peixa”?

25 de setembro de 2007

Sintonia Fina

O organismo humano constrói diariamente, através da ação orquestrada dos hormônios (da tireóide, das supra-renais, do pâncreas, dos rins, do estômago, do intestino, etc.) um “castelo de cartas”.
Este delicado equilíbrio do funcionamento hormonal, responsável, em última análise, pela gerência da nossa saúde, sofre freqüentes “sabotagens”, externas (como o stress ambiental, alimentos com propriedades químicas, medicações, poluição, etc.) e internas (perda da correta regulação hormonal por doenças genéticas e adquiridas, processos cognitivos – pensamentos – negativos a respeito de nós mesmos ou do mundo que nos cerca).
Alguns destes “sabotadores” não são assim tão facilmente controlados (como a poluição, por exemplo). Outros demandam menos investimentos da nossa parte.
Escolher melhor os alimentos, evitar remédios que não sejam realmente necessários, praticar esportes de forma equilibrada e cultivar uma vida social são, dentre outras, formas práticas possíveis de ser incorporadas para que se atinjam objetivos de saúde.

Suave Veneno

Tenho por norma não comentar sobre pacientes atendidos, mas hoje a exceção vale a pena pelo ineditismo da história:
Estava o menino de 11 meses engatinhando no chão da sala da humilde casa sob o olhar atento da irmã de 4 anos – daí provavelmente a tranqüilidade da mãe – quando um filhote de jararaca preta (perdão, foto de celular) subiu pelo seu frágil corpinho. Ao dar a volta no pescoço do menino (talvez procurando um melhor ângulo para o bote) foi surpreendido pela agilidade do mesmo que, dum só golpe, agarrou-a e tascou-lhe uma gengivada fatal na sua cabeça.
Embora, segundo os familiares, o veneno amarelado tenha se espalhado pela boca da “vítima”, o menino e a família passam bem.
Quanto aos familiares da cobra, ainda não se recobraram.
Honorários?
Cobrei.

21 de setembro de 2007

Perfil



Um dos conceitos de mais difícil compreensão por parte dos pacientes é este tal de “perfil lipídico”.
Tentarei, então, explicá-lo de uma forma mais simples:

Imagine que não houvesse as moléculas carreadoras ou transportadoras (aquelas que levam as gorduras para lá e para cá, dentro do nosso sangue - são elas: HDL, LDL e VLDL).
O que aconteceria?
Todo e qualquer tipo de gordura que comêssemos nos alimentos (e, além disso, todo o carboidrato em excesso, que acaba por se transformar em gordura) apareceria no nosso sangue basicamente numa só forma: os triglicerídeos.
Os triglicerídeos são, então, o que poderíamos chamar de “o grosso” da gordura que corre solta dentro dos nossos vasos sangüíneos.
Acontece que as moléculas carreadoras existem!
Os triglicerídeos são, dessa forma, “captados” pelo VLDL e LDL para serem levados aos tecidos (como por exemplo, ao tecido gorduroso para depósito).
Quando se “fotografa” (quando se dosa) o LDL e o VLDL do sangue, se está fotografando a ida da gordura (triglicerídeos) para os depósitos (inclusive para os depósitos nas chamadas placas ateromatosas dos vasos sangüíneos, aquelas que irão causar a arteriosclerose).
Quando se “fotografa” o HDL, se está fotografando a limpeza dos depósitos de gordura (o HDL está levando gordura para ser metabolizada – “limpa”- pelo fígado).
Por este motivo, queremos que haja bastante HDL (significando limpeza de gordura eficiente) e pouco LDL, VLDL (transporte de gordura para os depósitos), assim como poucos triglicerídeos (gordura “solta pelo sangue” – esta a que mais reflete se o paciente anda se cuidando na alimentação).

18 de setembro de 2007

Custo Malefício



Não sou eu quem está dizendo.
É um dos sites médicos mais visitados.
Diz lá:
“Testes desnecessários estão se tornando cada vez mais comuns na prática médica e a demanda dos consumidores por certos tipos de exames têm crescido. Tais testes são caros, desviam pacientes e terapeutas do tempo e atenção necessários, podem provocar despreocupações injustificadas ou ansiedades desnecessárias e podem levar a novas intervenções que se traduzem em riscos físicos ou mesmo à morte.”
De um lado estão os testes consagrados pelos benefícios do screening, já que intervenções precoces trarão benefícios inquestionáveis como o exame de Papanicolau das mulheres, o nível de colesterol nos adultos entre 35 e 65 anos, a aferição da pressão arterial, etc.
De outro, baboseiras dispendiosas e arriscadas como a tomografia “preventiva” de corpo inteiro. 85% dos americanos numa recente pesquisa responderam que sim, fariam uma tomo de corpo inteiro pela bagatela de 1000 dólares (ignorantes do fato, cita a reportagem, de que um exame assim, desnecessário e paranóico, expõe examinados a uma radiação equivalente a de muitos sobreviventes do ataque nuclear a Hiroshima e Nagasaki).
Outro exemplo recente de paranóia foi a do ator Tom Cruise. Ele e sua bela esposa Katie Holmes adquiriram (porque podem) um aparelho de ultra-som para acompanhar diariamente a gestação de seu filhinho. Anormalidades fetais no uso freqüente? Quem liga pra isso?
E a lista de paranóias vai aumentando: análises bioquímicas rotineiras (do sangue ao cabelo), iridologia, cinesiologia aplicada (percebeu como os nomes são bonitos? Pensando em batizar um filho? “Ei, Cinesio Aplicado, pode vir aqui um instante?”).
Mesmo exames menos evidentemente enganosos têm sua validade questionada pela atual ciência. Um dos dados interessantes: se todos os fumantes e ex-fumantes apenas dos EUA fossem triados com tomografia de tórax, mais de 180 milhões de nódulos pulmonares seriam descobertos, a grande maioria deles benignos. Imagine o custo disto em termos de exames adicionais, preocupações não justificadas, morbidade, etc.
Por isso, se eduque, questione. E poupe seu tempo: passe ao largo das filas de certas clínicas suspeitamente sofisticadas.

14 de setembro de 2007

Irritadinho


Quando se fala sobre a Síndrome do Cólon Irritável (uma instituição ainda meio indefinida, de aparecimento recente na nomenclatura médica), três palavrinhas aparecem quase sempre associadas aos sintomas gastrointestinais: stress, ansiedade e depressão.
(faça um pequeno teste: pegue algumas pessoas, quaisquer pessoas, e pergunte a elas, “Você tem se sentido estressado – ou meio deprimido ou meio nervoso – ultimamente?” Vai ser difícil ouvir um “Não!”)
Os sintomas incluem dor no abdome, excesso de gases ou distensão (inchaço) abdominal, diarréia ou intestino preso de forma prolongada. Não há ou há muito poucas alterações ao exame físico, não há alterações em exames de imagem ou laboratoriais. Ou seja, é quase “um nada que dói” ou “um nada que dá diarréia prolongada ou intestino preso”.
Há, porém, que se ter cuidado com sinais de alerta para problemas mais sérios. Dentre outros sinais, o emagrecimento importante, o sangramento gastrointestinal, a anemia ou a presença de massa no abdome são causa para investigação. Pacientes acima dos 45 anos também merecem uma atenção maior e investigação.
O que parece certo é que se mudanças de estilo de vida (difíceis para a maioria) fossem feitas, sobrariam muito poucos casos de Síndrome do Cólon Irritável. Mais um daqueles problemas médicos em que, ao serem dadas prioridades aos medicamentos, coloca-se “a carroça na frente dos bois”.

O Tempo Não Pára

Sei que muitos de vocês vieram parar no meu blog através do Google.

Vejam, então, como esse mundo é louco. Se tivesse dito isso há, sei lá, só dez anos atrás, teria sido o mesmo que ter dito, por exemplo:

“Sei que muitos de vocês vieram parar no meu Tzanc remexendo no meu Plinguedongue”

Não faria o menor sentido!

11 de setembro de 2007

Tira do Sol, Põe no Sol




Sabe aquela informaçãozinha que volta e meia incomoda? Meio como a obrigação de visitar a velha tia que a gente não vê há anos...
Assim é a coisa com a vitamina D e o pediatra.
Alguns dos meus colegas são enfáticos: dê aí essa vitamina D pra essa criança e fique quieta, mãe!
Porém, percebo que eles são logo e frequentemente sabotados (também, quem manda querer dar ordens?).
Assim vamos levando... Mas sabendo que:
A vitamina D é muito importante para ossos saudáveis pela vida mas - mais do que isso - influencia a saúde cardiovascular e a própria multiplicação celular (tendo papel, inclusive na prevenção de alguns tipos de câncer).
A vitamina D mais nobre na ação é aquela produzida pela exposição solar (embora mesmo em países com exposição solar mais freqüente haja muita gente com baixos níveis).
Há muito pouca fonte alimentar de vitamina D (alguns peixes, gema de ovo, fígado e manteiga, além dos alimentos fortificados), o que nos faz pensar que ela seja talvez a única exceção em termos de necessidade de complementação alimentar de rotina (para qualquer idade!).
Diariamente somos invadidos por informações mandando uma hora nos pôr ao sol (vitamina D-motivados, principalmente), outra hora nos avisando para sair do sol (câncer de pele e envelhecimento-motivados).
Então a coisa deve ficar mais ou menos assim:
Guardem um vidrinho de vitamina D (que, desnecessariamente vem associada a vit. A) na farmacinha de casa e, quando lembrarem, uma gota (isso mesmo, uma gota apenas, pelo risco de hipervitaminose em doses maiores) na boquinha de todo mundo (do bebê ao idoso).
Exponham-se ao sol com moderação. Como mostra o artigo de revisão do NEJM, reproduzido em parte no blog da colega americana, braços e pernas durante 5 a 30 minutos por duas vezes na semana nos horários apropriados deve ser suficiente.

7 de setembro de 2007

Pé da Letra



Para muitos pode dar "nervoso", mas há grandes prazeres escondidos nesta vida bookólica.

Voltando ao tema leitores versus não-leitores:
O que determina o quanto cada criança irá gostar de ler?
De forma intuitiva podemos observar que, para que uma criança goste de ler, primeiramente precisa ver pessoas lendo ao seu redor.
Frequentemente atendo crianças com baixo rendimento escolar. Em muitos destes casos, pais e professores nos procuram tentando atribuir uma causa médica para o problema. Porém, ao serem questionados sobre hábitos de leitura, grande parte dos pais confessa nunca pegarem um livro ou jornal ou mesmo uma revista na frente das crianças (que dirá ler para elas)!
Com a concorrência da televisão, DVD, computador, etc. (embora a influência destes meios também possa ser positiva para mentes curiosas), o contato com os livros torna-se ainda mais ameaçado caso os pais deixem de prestar atenção a este fato.
Além do exemplo e do estímulo, uma pesquisa de cunho sociológico tentou correlacionar tipos de personalidade com o gosto pela leitura e outros programas culturais (incluindo a TV). Eis o resumo dos achados:
- Pessoas com facilidade para fazer amigos (“amigáveis”, curiosamente uma característica mais encontrada em mulheres, em pessoas mais jovens e/ou em pessoas de menor nível cultural) tendem a preferir literatura mais simples, como romances românticos, além de novelas na TV. Pessoas com grande senso prático também têm estas preferências.
- A abertura para novas experiências (“openess”) é característica fundamental para a escolha de temas complexos na leitura, bem como em programas de televisão (notícias e programas informativos). “Amigáveis” tendem a fugir destes temas (considerados elitistas), bem como de temas “incômodos” (muitas vezes mais sérios).
- A introversão ou extroversão independentemente, ao contrário do que se costuma pensar, não são associadas a preferências culturais.
- A estabilidade emocional é outro importante fator nas escolhas. Instáveis emocionalmente costumam optar por programas mais “fáceis”, como as novelas (como uma fuga para suas dificuldades). Estáveis dão preferência a programas mais difíceis ou nobres, como visitas a museus e concertos de música clássica (independente da classe social).

Não que eu queira puxar a brasa para a leitura (até porque, no processo, posso causar incêndio em alguma biblioteca), mas, além de tudo, uma ou outra notícia dá conta de que até viver mais os leitores vivem: está, por exemplo, num artigo do New York Times (graduados no ensino médio vivem, em média, nove anos a mais que os não-graduados nos Estados Unidos – provavelmente porque são mais informados sobre cuidados com a saúde).

4 de setembro de 2007

O Cuidador



Tempos loucos estes em que mães saem de casa para perceber a participação nos ganhos da casa e têm que deixar seus pequenos aos cuidados de confiáveis estranhos. Trabalhadoras angustiadas, filhos idem.
Tempos modernos, fazer o quê?
Não me perguntem se certo ou errado, pois a resposta é complexa (embora no meu íntimo ache que se inclina mais para o errado, principalmente quando muito pequenos – ops! mais angústia!)
René Spitz (1887-1974) foi o psiquiatra que inaugurou o estudo da relação do desenvolvimento das crianças com o seu meio (= cuidador, basicamente). Em seu “Hospitalismo”, Spitz analisou comportamento de crianças abandonadas em instituições (algo bem mais dramático do que as atuais creches ou babás, claro). Com poucos meses de deprivação emocional (embora tivessem suas necessidades fisiológicas satisfeitas) iam se transformando em crianças alheias ao mundo que as cercavam, a maioria de forma irreversível (muitas morriam em poucos meses ou anos).
Spitz queria, com isso, contrapor a idéia freudiana de que às crianças pequenas interessava apenas a realização de seus instintos básicos (calorias, higiene, etc., providenciados pelo id). Seres humanos são mais complexos do que isso. Têm ego. Precisam da interação profunda com os cuidadores (= amor) para desenvolverem suas personalidades de forma mais adequada para o todo e sempre.
Instituições como creches e escolinhas podem ser maravilhosas em muitos aspectos. Babás podem ser quase perfeitas. Mas nunca irão substituir o amor maternal, instintivo, forte, inabalável como uma rocha.
Falando em rocha, fiquem as mães com o tremendo peso na consciência ao decidirem entre sua vida profissional e independência e os cuidados dos filhos.
(não, não estou pedindo para que fiquem, estou lamentando, apenas!)




Metáfora




É um medroso, apesar do tamanhão. É um pincher ao contrário.