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29 de julho de 2008

Sinusite or not Sinusite?


Um estudo recente publicado na Inglaterra pôs lenha na fogueira da questão: “Precisa ou não precisa tratar a maioria das sinusites”?
A diferença deste estudo para outros é que foi totalmente não-patrocinado por laboratórios farmacêuticos (uma diferença cada vez mais relevante).
E aí, adivinha o resultado?
Pacientes com sinusite “braba”, com dor facial e secreção nasal purulenta (o que excluía a maioria das sinusites mais brandas diagnosticadas por aí) tiveram o mesmo índice estatístico de resolução dos sintomas, tratados com antibióticos e/ou corticóides nasais ou não. E isto em pacientes adultos.
Agora pensa:
Em crianças, o diagnóstico de sinusite já é (ou melhor, deveria ser) uma raridade. Sabendo do fato de que a grande maioria das sinusites não precisa de tratamento para resolução dos sintomas... Bom, o resto você já sabe.
Mais uma:
Adivinha qual foi o maior fator de desistência dos pacientes que participaram desse estudo?
Claro! A exigência dos pacientes para que os médicos os tratassem (com o “pacote completo”: antibióticos, antiinflamatórios, remédios nasais e etc.).

Cruz Crédulos

Shampoos são uma prova freqüente da credulidade dos consumidores (consumidoras, principalmente). Leio num deles: evita o ressecamento, ilumina as mechas, intensifica o brilho e realça os contrastes. Haja química! Fazer chover, ainda não, né?

25 de julho de 2008

Bebê, Sua Mãe Bebeu


Com a maior aceitação social do etilismo entre as mulheres e o estímulo (indução) publicitário para este grupo, talvez vejamos um crescente índice do chamado espectro feto-alcoólico, um conjunto de sinais físicos e transtornos mentais e de comportamento típico de filhos de mães que consumiram álcool durante a gravidez.
Dentre os sinais físicos são característicos a baixa estatura, o lábio superior comprido e fino e os olhos de tamanho reduzido (mesmo com estas características, curiosamente o problema costuma ser pouco identificado pelos profissionais de saúde).
Estudos em animais chegaram a mostrar perda de células cerebrais fetais com o consumo equivalente a uma única latinha de cerveja (veja: durante todo o período gestacional, e não por dia!). Um “porre”, por exemplo, durante a gravidez pode ter conseqüências devastadoras para o filho para toda a vida.
Outra característica é a freqüente negativa das mães quando questionadas sobre a ingestão de bebidas. Já cheguei a ver mães que submeteram seus filhos a múltiplos exames (inclusive genéticos) na tentativa de encobrir o consumo.
É lógico que o estigma social e a culpa costumam estar presentes. Justamente por isso, particularmente penso que as mães devam mesmo evitar assumir abertamente para a maioria das pessoas que consumiram álcool, com a finalidade de adicionar maiores problemas (com familiares ou amigos, por exemplo).

22 de julho de 2008

Ignorance is Bliss*


Certa vez, enquanto sofria com o que pareciam para mim serem sintomas terríveis (com a possibilidade – para um médico, sempre presente - dum diagnóstico sombrio), atendi uma pequena criança que, pelos sintomas dela, devia ter um diagnóstico também sombrio: câncer.
E enquanto me submetia a exames que – pelo menos por ora – excluíam causas mais graves para meu sofrimento, no caso da criança, infelizmente, os temores se confirmaram.
Desígnios do destino à parte, fiquei a pensar nas nossas diferenças – caso o meu diagnóstico também fosse confirmado.
Ela, enquanto criança e totalmente ignorante do seu infortúnio, era incapaz de sofrimentos antecipados.
Teria, assim, como grande diferença para um adulto com a mesma espécie de doença – peculiaridades do comportamento do câncer na faixa etária também à parte – não exatamente as suas preocupações (agulhadas e ambientes hospitalares sóbrios), mas quase que exclusivamente as preocupações dos seus pais e cuidadores, que, em última análise, lhe seriam transmitidas (na forma de olhares, excesso de cuidados, choros, etc.).
Para ela, como se costuma dizer, “a ficha foi caindo” aos poucos, bem devagarzinho – na medida em que, crescendo, foi tendo capacidade de entender suas limitações, as conversas entreouvidas dos adultos, seu tratamento diferenciado em relação a outras crianças. Para mim, teria sido o famoso balde de água gelada, pesado porque com o próprio balde sobre a cabeça.

* Frase famosa do poeta inglês do século 18 Thomas Gray, no verso “Where ignorance is bliss, ‘Tis folly to be wise” (“Onde a ignorância é uma benção, é tolice ser sábio”), versão do popular “O que os olhos não vêem, o coração não sente”.

18 de julho de 2008

Foco no Peso


Um erro muito comum em quem tenta perder peso é justamente o foco principal no peso.
As justificativas para a perda de peso costumam ser apenas duas:
1) a saúde
2) a estética
E aí, quando o objetivo é a saúde (melhora das capacidades cardiovascular e respiratória, maior mobilidade articular, melhora nos parâmetros bioquímicos preditores de morbimortalidade, etc.), há que se esquecer do peso!
E por que?
Porque uma real modificação de hábitos como alimentação mais equilibrada em nutrientes, maior nível de atividade física, menos stress, melhor qualidade de sono, etc. trarão benefícios indiscutíveis, mas talvez pouco ou nenhum resultado no peso, pelo menos no curto prazo.
Além disso, quando - situação muito comum - a balança mostra pouca ou nenhuma alteração, vem o desânimo, a vontade de jogar tudo pro alto (ou nesse caso, pra dentro) de novo.
-Então são modificações que não valem?
Claro que valem!
Como diria um conhecido dono de spa:
"Mais vale um gordinho fisicamente ativo do que um magro sedentário".
Agora, quando as intenções na perda de peso são "de cara" estéticas... Bom, aí a coisa já começa errada! É como tentar ler um livro de trás pra frente.
-Então daí não valem?
Também valem! Mas as chances de frustrações são muuuito maiores, pois ainda não conseguimos mandar na genética.

15 de julho de 2008

Tapa na Cara

Uma doença causada por vírus que ainda não atrai tanta atenção da mídia (pelo menos não até que se descubra a vacina para ela, quando então passará ser a nova “queridinha” da mídia) é o eritema infeccioso.
Há picos de incidência a cada 4 a 7 anos, e este ano parece ser um deles.
É uma virose muito comum (60% dos adultos têm anticorpos contra o parvovírus B-19, o causador da doença) e, na grande maioria das vezes, com sintomas semelhantes a qualquer outra.
O que tem de diferente?
Apresenta um sinal interessante nas crianças, o sinal do “tapa na cara”, entre o 3º. e o 7º. dia: as bochechas ficam caracteristicamente avermelhadas, com a área ao redor da boca mais pálida.
Em 10% das crianças afetadas aparece dor nas articulações, que podem durar até perto de 2 meses.
Outro detalhe é o risco de transmissão à gestante. Porém neste caso o problema maior é o susto e a confusão com a rubéola, pois os sintomas na gestante são parecidos (febre, lesão de pele, dores nas articulações), o que faz médicos e pacientes desavisados se preocuparem à toa (a rubéola traz grande risco à gravidez nos primeiros meses, enquanto que o eritema infeccioso é pouco perigoso).

11 de julho de 2008

Um Problema E-Cocô, Lógico

Fraldas.
Um típico problema que só costuma dar as caras (caras?) depois do aparecimento dos filhos. Até então (e após os 2 anos) ninguém costuma pensar muito nelas.
Mas é um baita problema ecológico (claro, mais um deles): uma criança típica costuma usar de 5 a 10 mil fraldas descartáveis, uma mercadoria moderna, surgida apenas nos anos 70. Isso representa a utilização de 4,5 árvores para cada criança, somente para a parte degradável.
E o plástico?
Pois é. Aquela beleza de detrito fedorento levará – segundo estimativas, mas ninguém vive o suficiente para medir – cerca de 500 anos para se degradar.
Fraldas de pano não são grande alternativa: fale para alguma mãe com tripla jornada (trabalho-esposa-mãe) que ela deve abrir mão das fraldas descartáveis para o bem do meio ambiente. Além disso, perto de 60% das crianças que as utilizam apresentarão assaduras, comparáveis a apenas 7% das que usam descartáveis. Sem falar no gasto da água para lavá-las, outro item com implicações ecológicas cada vez maiores.
Alternativas terão que aparecer. A que parece mais viável é a g-diaper, composta de um “recheio” removível dentro da parte plástica reutilizável, facilmente lavável (a g-diaper é, na verdade, apenas o próprio recheio, que se degrada num prazo máximo de 2 a 3 meses - ou então “flushable” – palavra em inglês que designa aquilo que você pode mandar pela latrina sem muito peso na consciência, como o próprio cocô).
(Para entender melhor, clique nas flechinhas do site oficial. Obs.: não recebo nada por isso!)

“Fraldologistas”. Assim nós, pediatras, fomos denominados por um insensato e grosseiro ginecologista.
Sério!
Logo ele, PhD em absorventes higiênicos...

8 de julho de 2008

Não Tem Remédio


Mais uma daquelas situações em que não sabemos se é pra rir ou pra chorar:
Acaba de ser lançado nos Estados Unidos o Obecalp®, um remédio com gosto de remédio, cheiro de remédio, cara de remédio, mas que é apenas – como o nome de trás pra frente confirma – um placebo.
É isso aí: pra que ficar perdendo dinheiro com medicações que não funcionam ou que têm mais problemas do que a doença que tratam?
Pelo menos neste caso, o fabricante – ironicamente chamado de Efficacy Brands, “Selo Eficácia” - é mais honesto. É placebo, sim, tá pensando o quê, vai encarar, é?
O objetivo declarado ao se criar o “remédio” é enganar o cérebro das criancinhas (é, foi criado para se usar em inocentes criancinhas). Ao tomarem a medicação que os dedicados pais oferecem a elas, começam a melhorar tão-somente pelo efeito psicológico.
Ficamos a imaginar algumas engraçadas situações:
-Me vê um Obecalp.
-10 ou 20 mg?
Ou então, um pedido para entrega em casa no meio da noite:
-Por favor, é urgente!
-Pois não. O que vai ser? Analgésico, antibiótico, anti-hipertensivo?
-Não, um Obecalp. Mas traz ligeiro, que é caso de vida ou morte!
E a bula?
Indicações: enganar trouxas. Efeitos colaterais: Rélooou! É placebo, idiota! Em caso de superdosagem, da próxima vez compre um pacote de M&M.

Falando em eficácia: Ótima, mas não totalmente eficaz a implementação do “bafômetro zero”. Com a medida, acidentes de trânsito caíram em média 30%.
E por que não foi 100%?
Nos 70% restantes, motoristas ébrios entregaram seus carros para suas mulheres dirigirem!

E a idéia da colocação dos cones com espaço estreito para triar bêbados?
Também furada. Muita gente passa no bafômetro. Já no barbeirímetro, a coisa tá mais complicada...

4 de julho de 2008

Contornos


Conheço uma cidade em que o prefeito, para fazer com que os visitantes se demorassem alguns minutos a mais nela, atravessou uma praça na via de saída para a cidade vizinha (talvez – deve ter imaginado o esperto prefeito – muitos dos que quisessem ir embora, ao perderem mais uns minutinhos, pensariam duas vezes e se esquecessem de pegar a estrada).
Não deu certo. A cidade é uma lástima turística.
Com o ouvido acontece mais ou menos a mesma coisa (mas aí não vou criticar o “prefeito”, claro): tem mais “cabo” passando por ali do que estúdio de televisão.
O ouvido é passagem para nervos que vêm da garganta, dos dentes (por isso muita criança que tem infecção dentária ou de garganta vem se queixando de dor no ouvido) e até do tórax (já percebeu que muita gente tosse quando cutuca o ouvido com cotonete? Até mesmo um infarto agudo do miocárdio pode apresentar como queixa inicial a de dor de ouvido! – a chamada “dor referida”: dói ali, mas o problema é na verdade !).

1 de julho de 2008

Ócio Curativo


Acredito sinceramente que a meditação ainda vai ser meio que obrigatória para grande parte da humanidade.
Pelo fato de ser algo cercado de idéias pré-concebidas – e erradas – mais fácil é falar sobre o que a meditação não é:
Não é algo “agradável de se fazer” (seria melhor definida como uma experiência “potencialmente transformadora”).
Não é um “relaxamento” (ainda que seja um dos muitos objetivos).
Não é algo “zen” ou “místico” num sentido pejorativo (até eu descobri-la, eu mesmo pensava assim).
Não é um exercício necessariamente vinculado a um modo de vida oriental – embora, devagar, o praticante vá se sentindo de forma automática um pouco menos “ocidentalizado”.
A meditação pode ser comparada ao assistir um bom – mas complicado – filme:
Muitos – provavelmente a grande maioria - não vão conseguir ir em frente (pode ser muito mais fácil desistir da empreitada de cara). Outros vão achá-lo extremamente chato, aborrecido, ou não vão “ver nada demais” naquilo.
Os que insistem, entretanto (ainda que com dificuldades, muitos tendo que assistir novamente para uma melhor compreensão), podem – e devem – sair no mínimo com uma experiência de alguma forma enriquecedora.
Cuidado, porém!
A meditação, por ser algo associado com mudanças, com promessas de curas, etc., dá margem a muito charlatanismo (há muito mais besteiras publicadas a respeito do que publicações sérias).
Um bom autor para se conhecer com mais profundidade a respeito é Jon Kabat-Zinn. Há dois livros excelentes: A Mente Alerta (infelizmente, meio difícil de encontrar) e Full Catastrophe Living (apenas em inglês, não se assuste com o título...).

E mais: se você sente que precisa fazer algo com seu ritmo de vida mas tem preguiça de algo tão, digamos assim, exótico ou “transformador”, uma boa opção é o novo movimento – mais simples – chamado de nadismo (isto mesmo, nadismo!), que devagar como o próprio ritmo que prega, está conquistando novos seguidores.