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22 de julho de 2008

Ignorance is Bliss*


Certa vez, enquanto sofria com o que pareciam para mim serem sintomas terríveis (com a possibilidade – para um médico, sempre presente - dum diagnóstico sombrio), atendi uma pequena criança que, pelos sintomas dela, devia ter um diagnóstico também sombrio: câncer.
E enquanto me submetia a exames que – pelo menos por ora – excluíam causas mais graves para meu sofrimento, no caso da criança, infelizmente, os temores se confirmaram.
Desígnios do destino à parte, fiquei a pensar nas nossas diferenças – caso o meu diagnóstico também fosse confirmado.
Ela, enquanto criança e totalmente ignorante do seu infortúnio, era incapaz de sofrimentos antecipados.
Teria, assim, como grande diferença para um adulto com a mesma espécie de doença – peculiaridades do comportamento do câncer na faixa etária também à parte – não exatamente as suas preocupações (agulhadas e ambientes hospitalares sóbrios), mas quase que exclusivamente as preocupações dos seus pais e cuidadores, que, em última análise, lhe seriam transmitidas (na forma de olhares, excesso de cuidados, choros, etc.).
Para ela, como se costuma dizer, “a ficha foi caindo” aos poucos, bem devagarzinho – na medida em que, crescendo, foi tendo capacidade de entender suas limitações, as conversas entreouvidas dos adultos, seu tratamento diferenciado em relação a outras crianças. Para mim, teria sido o famoso balde de água gelada, pesado porque com o próprio balde sobre a cabeça.

* Frase famosa do poeta inglês do século 18 Thomas Gray, no verso “Where ignorance is bliss, ‘Tis folly to be wise” (“Onde a ignorância é uma benção, é tolice ser sábio”), versão do popular “O que os olhos não vêem, o coração não sente”.

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