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11 de maio de 2007

Arejada


Tratar de pacientes com bronquite ou asma tem sido um grande desafio, em boa parte pela dificuldade no entendimento das medicações utilizadas.
Dentre estas, uma merece consideração especial: os broncodilatadores. Não são poucas as ocasiões em que quase apanhamos dos pais ao propor seu uso nas crianças asmáticas!
Embora estejam progressivamente perdendo espaço para os corticosteróides (inalados, principalmente), os broncodilatadores (Berotec®, Aerolin®, Bricanyl®, Foradil®, etc.) ainda são muito úteis, especialmente nas “crises”. Ocorre que, além dos reais perigos (controláveis e muito pequenos), há ainda forte “marketing negativo” dificultando seu uso.
Por exemplo: “Ah, isso aí pode até matar!..”
Verdade. Além do fato de que quase toda medicação “pode matar” se usada de forma inadequada, há indícios de que o uso freqüente do broncodilatador acarrete mesmo uma maior mortalidade*. Mas por que?
Para que o broncodilatador funcione, ele deve se “ligar” aos chamados receptores nos brônquios. São como duas peças de um quebra-cabeça que se encaixam, o remédio e o receptor.
Ocorre que este receptor, quando excessivamente estimulado pelo remédio, “desaparece” dos brônquios, fazendo com que o paciente não mais responda, ou responda de maneira insatisfatória à medicação. E aí, em “crises”, o paciente terá menos opções terapêuticas efetivas (com maior risco de mortalidade).
Uma das maneiras de se compensar este menor funcionamento do remédio seria aumentar sua dose, com aumento proporcional dos riscos (que na dose convencional, repito, seriam muito pequenos). É, no entanto, o que muitos pacientes fazem, orientados por seus médicos ou não.
Portanto, também no caso dos broncodilatadores, vale a comparação com a poupança: só retire dinheiro quando muito necessário, e retire pouco, para que ele não acabe. Com sintomas menos intensos de bronquite também: quando necessário, use. Mas use doses pequenas, pelo menor tempo possível.

*Para se ter uma idéia, segundo um polêmico estudo que compilou o uso do remédio nos Estados Unidos no ano de 2004, 3,5 milhões de pacientes se trataram com o salmeterol, um dos broncodilatadores mais usados. As mortes totais por asma no ano foram em torno de 4000 a 5000. Bastante, mas a conclusão “torta” é de que estas mortes foram devido à medicação. Na maioria dos casos, não se morre pela medicação. Morre-se pela asma grave e suas conseqüências, pelo tratamento inadequado ou pelos efeitos colaterais (também pelo uso inadequado).

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