Armamos uma bela arapuca para nós mesmos.
Estamos nos tratando exatamente como nossos “bens” de consumo: saiu um modelo novo, temos que jogar o velho fora.
Seres humanos também “estragam” fácil, ficam velhos, decadentes. Pior: já vêm de fábrica cheios de defeitos.
A morte da modelo anorética nos fez relembrar do quanto temos estado doentes como sociedade. O quadro de anorexia instalado pode pegar muita gente de surpresa, mas ele representa o estado terminal de uma auto-estima que já vinha de longe doente.
Não sei quanto a você que me lê, mas para mim, do alto dos meus quarenta e poucos anos, ainda está fácil entender porque jovens se matam na busca de corpos “perfeitos”.
Muitas vezes, ao cumprir meu “ritual da boa forma” numa bicicleta ergométrica, percebo que minha capacidade aeróbica vai às alturas assistindo ao clipe Freedom 90 (da minha época, fazer o que?) no aparelho de DVD, enquanto imagino todas aquelas Naomis Campbells e Lindas Evangelistas com corpos esculturais se arrastando aos meus pés. Opa! Sou adulto, e ao descer da bicicleta, consigo o ajuste imediato do meu senso de frivolidade pueril.**
Enquanto nós, seres supostamente mais maduros (e aí é que está, estamos mesmo sendo mais maduros que as crianças e os adolescentes?*) não incutirmos outros valores menos efêmeros que a beleza física na cabeça dos nossos jovens, estaremos vendo dramas parecidos acontecendo a todo o momento, mesmo sem a desculpa de uma absurda “exigência profissional” das modelos. Na há expressão que ilustre melhor a doença anorexia do que “não conseguir enxergar além do próprio umbigo”, literalmente.
* Tenho perdido a conta dos pais que se mostram aberta e insistentemente insatisfeitos com sua aparência (ou dos seus parceiros) na frente dos filhos. Habilidades, talentos, caráter, tudo o mais, têm sido deixados pra um segundo plano. Isto é, repito, uma doença – na verdade, uma emergência - social.
** Um meu ex-colega de faculdade, fortão, dizia adorar filmes do Stalone. Rocky, apenas. E por que não Rambo? “Me imaginar dando porrada em alguém em cima de um ringue é fácil. Matar conterrâneos aos montes na selva está além da minha capacidade de abstração”, explicava.
Estamos nos tratando exatamente como nossos “bens” de consumo: saiu um modelo novo, temos que jogar o velho fora.
Seres humanos também “estragam” fácil, ficam velhos, decadentes. Pior: já vêm de fábrica cheios de defeitos.
A morte da modelo anorética nos fez relembrar do quanto temos estado doentes como sociedade. O quadro de anorexia instalado pode pegar muita gente de surpresa, mas ele representa o estado terminal de uma auto-estima que já vinha de longe doente.
Não sei quanto a você que me lê, mas para mim, do alto dos meus quarenta e poucos anos, ainda está fácil entender porque jovens se matam na busca de corpos “perfeitos”.
Muitas vezes, ao cumprir meu “ritual da boa forma” numa bicicleta ergométrica, percebo que minha capacidade aeróbica vai às alturas assistindo ao clipe Freedom 90 (da minha época, fazer o que?) no aparelho de DVD, enquanto imagino todas aquelas Naomis Campbells e Lindas Evangelistas com corpos esculturais se arrastando aos meus pés. Opa! Sou adulto, e ao descer da bicicleta, consigo o ajuste imediato do meu senso de frivolidade pueril.**
Enquanto nós, seres supostamente mais maduros (e aí é que está, estamos mesmo sendo mais maduros que as crianças e os adolescentes?*) não incutirmos outros valores menos efêmeros que a beleza física na cabeça dos nossos jovens, estaremos vendo dramas parecidos acontecendo a todo o momento, mesmo sem a desculpa de uma absurda “exigência profissional” das modelos. Na há expressão que ilustre melhor a doença anorexia do que “não conseguir enxergar além do próprio umbigo”, literalmente.
* Tenho perdido a conta dos pais que se mostram aberta e insistentemente insatisfeitos com sua aparência (ou dos seus parceiros) na frente dos filhos. Habilidades, talentos, caráter, tudo o mais, têm sido deixados pra um segundo plano. Isto é, repito, uma doença – na verdade, uma emergência - social.
** Um meu ex-colega de faculdade, fortão, dizia adorar filmes do Stalone. Rocky, apenas. E por que não Rambo? “Me imaginar dando porrada em alguém em cima de um ringue é fácil. Matar conterrâneos aos montes na selva está além da minha capacidade de abstração”, explicava.
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