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6 de fevereiro de 2007

Aquilo Sobre o que Akira Filmava *


Freud não tinha razão em tudo o que dizia e publicava, mas no ano de comemoração do centenário de seu livro Traumdeutung (A Interpretação dos Sonhos), foi publicado um artigo que reconheceu que muitas das suas intuições sobre os sonhos estavam corretas (tão corretas que, agora se sugere, deveriam servir de base para novos estudos neurocientíficos).
O achado mais interessante de estudos recentes com pacientes (com lesões no cérebro e com imagens radiológicas) é o fato de que, quando se dorme, o trabalho do cérebro se faz “de trás para frente”:
Nas pessoas acordadas há inicialmente ativação da parte sensorial (aquela que recebe informações visuais, auditivas, etc.) para depois se ativarem áreas da imaginação e da memória. Quando se sonha, as primeiras partes a entrarem em ação são justamente estas últimas, ou seja, as áreas ligadas às memórias e sensações imaginadas. A partir daí, o cérebro faz o que o artigo cita como “o melhor de um mau serviço”, criando imagens (“porcarias” de imagens, digamos assim, em termos de coerência, mas muito vívidas) na parte sensorial.
Outra diferença importante é o fato de que, quando dormimos, os chamados sistemas reflexivos do cérebro (aqueles que julgam se o que está se passando é real e coerente) estão totalmente desligados, fazendo com que se aceite as sensações, sem capacidade de julgamento (outra área desligada é a área motora, responsável pelas ações).
O autor do artigo, psiquiatra londrino, encerra sua apresentação com uma discussão metafísica: “Nenhum psiquiatra moderno deve admitir que o cérebro possua uma vida própria, independente. Mesmo quando as investigações atuais mostram que as causas primárias de um fenômeno mental são “apenas” psíquicas, pesquisas posteriores mostrarão que há bases orgânicas para que elas aconteçam”. “Embora neste momento ainda não consigamos enxergar para além do mental, não quer dizer que este além não exista” (Freud, 1900)
* “Sonhos”, um dos filmes mais famosos (e angustiantes) do aclamado diretor japonês Akira Kurosawa

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