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29 de agosto de 2006

Bicho de Sete Máscaras


A Nemours Foundation publicou recentemente dicas para os pais de crianças que irão enfrentar uma cirurgia.
São elas:
- Seja honesto. Responda as perguntas da criança de maneira que ela compreenda.
- A faça saber que você estará o tempo todo na sala de espera durante o procedimento, e que estará junto com ela quando acordar.
- Explique as coisas de forma simples. Só explique o que for perguntado - de forma honesta - por ela.
- Explique que ela irá dormir antes da cirurgia e que ficará dormindo o tempo todo e não sentirá dor. Explique que poderá se sentir um pouco desconfortável após a cirurgia (ou até um pouco de dor, que será medicada).
- Permaneça calmo(a) e relaxado(a). Sua atitude terá conseqüências importantes na maneira como sua criança reagirá ao que está acontecendo ao seu redor.

Meu adendo:
O último item vale para tudo o que a criança passa: de exames médicos a exames de laboratório. Não há nada mais atemorizante para a criança do que uma mãe que se joga sobre ela e ameaça chorar junto, mesmo num simples procedimento (acredite, acontece, e muito!).
Uma outra dica que eu dou para as mães é de que evitem conversar sobre a cirurgia próximo à criança (a não ser no momento necessário), pois vai alimentando temores e fantasias na sua cabeça. O curioso é que muitas delas, ao perceberem a aproximação da data, ficam doentes (quase como “de propósito”, para escaparem). Para estas, provavelmente é melhor que só se fale no próprio dia ou na véspera.

25 de agosto de 2006

Branco de Nevo

Manchas claras na pele de crianças são comuns.
Entre as mais freqüentes estão a ptiríase alba (que não é mais do que uma descamação da parte superficial da pele, áspera à palpação, que costuma aparecer na face ou membros de pessoas com tendências a alergia, os atópicos), o nevo acrômico (a mesma “pinta de beleza” que normalmente é amarronzada mas que pode ser descorada, aparecendo desde o nascimento até cerca de 5 anos de idade, estável – não costuma crescer muito desde o diagnóstico – com bordas irregulares e que não apresenta sintomas como perda de sensibilidade), o vitiligo (mais evidente na ausência de cor do que o nevo acrômico, com bordos nítidos, de localização próxima aos orifícios, mãos, cotovelos, joelhos e tornozelos e de causa imunológica) e a ptiríase versicolor (uma espécie de micose que forma várias lesões que vão se espalhando no tronco, pescoço ou face).
Destas, a que precisa de mais atenção é o vitiligo, pois além de ter tratamento algumas vezes difícil, pode se associar com doenças em outros órgãos como a tireóide. A ptiríase versicolor costuma ser facilmente tratada com medicação própria para micoses. A ptiríase alba não precisa mais do que hidratação e o nevo acrômico, fotoproteção (protetores solares se em áreas expostas).
Obs.: na dúvida diagnóstica (principalmente em lesões não-características) está indicada a biópsia da pele.

22 de agosto de 2006

Louco de Calmo


Ainda não o fiz (ainda não enlouqueci o suficiente), mas vai chegar o dia em que para alguma destas mães que se plantam na nossa frente dizendo algo como: “Meu filho tem dor de barriga há meses, quero (mando seria a palavra mais adequada) que faça todos os exames que tem de ser feitos!” responderei tão-somente:
“Pois não!”
Apanharei então em silêncio o bloquinho de exames do convênio (são quase sempre pacientes de convênios, por que será?) e redigirei nele demoradamente:

Solicito:
- Medição dos hábitos intestinais
- Avaliação do psiquismo materno e paterno
- Dosagem do nível de carboidratos, gorduras e conservantes dos alimentos oferecidos
- Dosagem de lactose alimentar
- Medição dos níveis de ansiedade escolar (pais e criança)
- Medição dos sintomas associados
- Dosagem sangüínea dos medicamentos utilizados para o alívio das dores, bem como a mensuração dos seus efeitos
- Dosagem de cálcio, fósforo, ferro, níquel, cádmio, magnésio, polinésio e etc.
- Ultrassonografia das orelhas: duas (quem sabe não achamos ali alguma coisa?)
E o exame principal:
-Exame físico

E então, na consulta de retorno, olharei (também em silêncio, com o olhar grave de quem é o único capaz de entender os resultados) a papelada e direi:
“Como suspeitávamos, é um típico caso de sincrombose eclética subaguda”.
E me congratularei por tão brilhante diagnóstico, enquanto prescrevo rapidamente alguma coisa para o paciente, porque “tempo é dinheiro”, já dizia Hipócrates!

PS.: 1)por ora tenho me contentado em, no lugar disso tudo, coçar discretamente a minha omoplata esquerda, que já vem mostrando sinais de afundamento há dois ou três anos.
2) a “bronca” não é com o fato de se fazer exames, e sim com o desprezo de tudo o mais que envolve o ato médico, como a anamnese e o exame físico (em muitos problemas pediátricos, os exames são positivos em menos de 1% dos casos)!

18 de agosto de 2006

Descortino Gradual


Imagine que engraçado alguém se desfazendo em micagens para quem não está nem enxergando.
É o que fazem 99,9% dos pais, nos primeiros meses dos seus filhos.
O site da PBS mostra como as crianças de menos de 1 ano enxergam (dê duplo clique no mouse sobre a barra vertical e vá descendo na figura da esquerda que mostra a visão do recém-nato até a idade adulta – espere alguns segundos até a figura se ajustar). É curioso notar como é muito menos do que a gente costuma imaginar.
Continuemos, no entanto, a nos esforçar: se os bebês não enxergam quase nada, pelo menos mostram estar curtindo a farra através dos outros sentidos (além disso, necessitam dela para se desenvolverem saudáveis, inclusive na parte psíquica).

15 de agosto de 2006

Ferro de Novo


Como vimos, a necessidade de administração de ferro para crianças pequenas deve ser individualizada.
Quem mais se beneficia do ferro suplementado?
Crianças com muito pouca ou nenhuma amamentação (principalmente aquelas a quem foi dado leite de vaca “puro” – não “de lata” – desde cedo).
Crianças em más condições sociais (pelos efeitos da dieta deficiente, não somente em ferro, mas também em outros nutrientes).
Crianças com verminoses (embora o efeito do uso precoce do remédio para vermes tenha efeito melhor do que a suplementação do ferro).
Interessante notar, então, que o status do ferro no organismo é um “marcador” das condições sociais e de nutrição: crianças “bem cuidadas” (usando um termo preconceituoso, que indica quase sempre melhores condições sócio-econômicas) têm pequenas chances de carência e, portanto, provavelmente terão mais a perder do que a ganhar com o uso de ferro.
* O uso dos sais de ferro (sulfato ferroso e outros) são mais úteis na prevenção de anemias severas do que na melhora de anemias leves (nestas, muitas vezes seus efeitos são menos evidentes do que as correções dietéticas).

11 de agosto de 2006

Algo Que Me Tira o Sono


Há duas principais correntes para explicar o bruxismo (o ato de ranger os dentes, principalmente durante o sono):
A dos que acham que se deva a problemas emocionais - como a ansiedade e a depressão - e a dos que acham que seja causado pelo desalinhamento entre os dentes.
(E há, é claro, os que acham que não é devido a nada disso).
Rigores científicos à parte, será fácil descobrir a causa com o passar de mais algum tempo.
Caso seja devido a problemas emocionais, só aumentará em incidência (por motivos óbvios).
Caso seja devido a problemas ortodônticos, praticamente se extinguirá, pois no futuro próximo só haverá dois tipos de bocas: a dos desdentados (ou pererecados) e a daqueles em que não haverá uma coroa em desalinho (coroa: parte do dente recoberta pelo esmalte, situada fora do alvéolo dentário – dicionário Larousse da Língua Portuguesa), pela elevada incidência de tratamento ortodôntico na população melhor aquinhoada.
O velho provérbio será, então, adaptado para:
Yo no creo em los brujistas, pero que los hay, los hay

8 de agosto de 2006

O Silencioso Estrago das "Rodovias"


Imagine que as nossas artérias são grandes rodovias que levam aos nossos rins, cérebro, olhos, etc.
Para o perfeito funcionamento destas rodovias, elas devem estar sempre limpas e sem buracos.
Acontece que há uma grande fábrica à beira desta rodovia: fabrica colesterol e triglicerídeos. Estes produtos, quando transportados pelos “caminhões”-LDL, vazam, e como são muitos - e pesados – caminhões, provocam buracos na estrada.
Além disso, um ou outro caminhão ainda tomba antes de chegar ao seu destino, produzindo mais estragos.
Desta forma, ao final de determinado tempo (alguns anos), a estrada corre o risco de ficar em péssimas condições, ou pior, parar completamente.
Felizmente, para que outras mercadorias essenciais (oxigênio, glicose, etc.) possam sempre chegar ao seu destino, existem os “limpa-rodovias”: os “caminhões”-HDL, que estão sempre muito ocupados com a limpeza, pois a fábrica costuma ser muito eficiente na produção.
E quanto mais colesterol e triglicerídeos a fábrica produz, mais ela contrata “caminhões”-LDL. E quanto mais caminhões, mais risco de sujeira e acidentes na estrada.
Como existe uma capacidade limitada de contratar “limpa-rodovias” (os HDL), só há uma solução para a manutenção da estrada por mais tempo: diminuir o fornecimento de matéria-prima para a fábrica.
Não basta, porém, diminuir o fornecimento da gordura e do colesterol. É preciso ainda diminuir o fornecimento de carboidratos, pois é matéria-prima igualmente útil para a fábrica produzir o colesterol e os triglicerídeos.
Uma das maneiras mais eficientes de ajudar o trabalho dos HDL é ir liberando relativamente pouca matéria-prima para a fábrica, a intervalos de tempo corretos (de 3 em 3 horas, normalmente). Isto faz com que os “caminhões”-LDL não andem abarrotados de colesterol, diminuindo vazamentos e acidentes, e ainda dá tempo dos HDL fazerem a sua função tranquilamente.

4 de agosto de 2006

Susto


Você descobre que aquela sua filhinha adolescente com carinha de anjo já está transando. O que você faz?
a) cai da cadeira
b) conversa tranquilamente com ela a respeito
c) primeiro cai da cadeira e depois, do chão, conversa tranquilamente com ela a respeito
O excelente site canadense AboutKidsHealth nos ensina que dentre todos os países do mundo, os que têm os menores índices de gravidez e doenças sexualmente transmissíveis são aqueles nos quais os pais admitem que os seus filhos adolescentes possam estar tendo atividades sexuais e aproveitam o ensejo para conversar com os filhos a respeito de prevenção de gravidez, das DST (doenças sexualmente transmissíveis), de relacionamentos abusivos, etc.
Fácil?
Não, certamente. Mas o mesmo site analisa que políticas “do avestruz” (meu complemento) como a adotada pelo governo americano em que se pede para que os adolescentes esperem pelo casamento na abstinência são irreais, e têm levado a resultados insatisfatórios.
Chama, ainda, atenção para a velha forma de raciocínio dos pais: “Se eu falar muito do assunto, vou estimulá-los a fazerem sexo”. Tudo bem, então não fale. Mas compre cadeiras reforçadas.

1 de agosto de 2006

Onde Não É Chamado



Não entendo nada de música, mas notamos, ao percutir as cordas de um violão, que a caixa do violão vibra como um todo.
Assim também acontece na cavidade nasal de crianças pequenas:
Quando há secreção nasal em grande quantidade, o ar entra “em rebuliço” por esta cavidade, fazendo com que sintamos que há secreção no peito quando na verdade não há.
E mesmo ao pegarmos a criança pelo seu tórax sentimos a presença de secreção ali, quando o que estamos sentindo são os roncos de transmissão do nariz.
Como diferenciar da verdadeira secreção “no peito”?
Através do uso do estetoscópio, percebemos quando o peito está limpo. Outra dica é a ausência de tosse, pelo menos da tosse “carregada”, principalmente em face de um nariz muito cheio de secreção (entupido ou escorrendo).

Secreção em lugares diferentes pede tratamentos diferentes. Secreção nasal, por exemplo, não tem quase nenhum benefício do uso de nebulizações.