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9 de janeiro de 2015

Olhos nos Olhos


Os escândalos que têm pipocado na imprensa sobre médicos que fazem procedimentos para obter vantagens não são, infelizmente, nenhuma novidade.
Quando há uma indústria poderosíssima como a indústria farmacêutica (bem como a de materiais cirúrgicos) dependendo da indicação e da prescrição médicas para que seus produtos "saiam" (sejam vendidos ou utilizados) não é de se surpreender que assediem médicos inescrupulosos para que prescrevam ou utilizem tais produtos.
Sempre foi assim. E sempre continuará sendo. 
Pacientes devem, portanto, estar de olho. Quando, por exemplo, percebem uma incidência muito grande do mesmo tipo de cirurgia - ou a prescrição de um mesmo medicamento - por parte de um mesmo médico. Quando - assim como no caso de políticos corruptos - percebe um enriquecimento ou estilo de vida desproporcionalmente elevado em relação 
aos outros médicos da mesma especialidade. Quando percebe uma ansiedade ou uma "forçação de barra" para que o paciente se submeta a algum tratamento. Quando nota um radicalismo de conduta ("se quiser fazer comigo, é assim!"). 
Lembrando que nada disso é indício inequívoco mas que deve, sim, levantar suspeitas.
Há uma hierarquia no lobby industrial. Médicos de maior ranking são não só mais assediados, mas recebem também maiores prêmios. Um professor de uma grande universidade, por exemplo, pode receber altos valores (algumas vezes na forma de "prêmios", como viagens internacionais) para prescrever determinado medicamento ou utilizar algum material cirúrgico. 
Subespecialidades (ex.: reumatologia pediátrica, na comparação com pediatra geral) também são muito mais procurados por representantes dos laboratórios com vantagens, visto que os pacientes costumam dar muito mais crédito aos supostamente "mais entendidos" no assunto (o que é uma regra válida, desde que o subespecialista aja com a necessária honestidade).
Outro grande complicador do momento atual é a uniformização das condutas em nome de uma medicina mais científica, mais exata. Pode-se imaginar a tremenda pressão da indústria para influenciar em trabalhos científicos que serão responsáveis por essa uniformização. Médicos que sejam contra (por motivos éticos) a algumas dessas condutas são automaticamente taxados de "desatualizados" (o que é mais cruel, pelos próprios pacientes, o que facilita o trabalho da indústria).
Além disso, os grandes sites médicos da Internet são, naturalmente, "gratuitos" e atrativos, (com materiais de ensino de qualidade, como vídeos, materiais gráficos, etc.), o que significa: quase 100% patrocinado pela indústria.
Não há, então, para onde correr. A não ser estar atento a tudo, se informar, desconfiar. E perceber no olhar do médico se o que ele está propondo é realmente o melhor para você ou sua família.