Há cerca de dois anos, escrevi um texto a ser postado que na época me pareceu um pouco “excessivo” ou meio “fora de propósito” para nós, brasileiros. Guardei-o. Hoje, já não o acho tão fora do contexto assim:
Tente imaginar a seguinte situação: Você, um pré-adolescente, cheio de inseguranças – como é próprio da idade – apresenta dificuldades no controle intestinal. Sempre cuidou muito para que a situação passasse despercebida dos seus colegas de escola, alguns deles bem maiores que você.
Sua mãe, superprotetora, sempre fez de tudo para tratá-lo, o que – sem que ela soubesse – pode ter se transformado na própria “raiz” do seu problema.
Num determinado dia, você senta num auditório cheio de colegas – muitos dos quais o acham meio “estranho” – para uma palestra. Como sempre, precisa sair duas ou três vezes para ir ao banheiro, temendo muito ser notado por isso.
Novamente sentado no seu lugar, é solicitado a dar uma opinião pelo palestrante. Fala o que parece ter sido uma bobagem. Nisso, um dos grandalhões do “fundão” retruca em alto e bom som: “Cala a boca aí, ô bunda solta!”
A maioria dos seus colegas, meninos e meninas, se mata de rir. Até o palestrante parece estar segurando uma risada. Acrescente a isso a imaturidade, a testosterona (hormônio que “cega”, que dificulta a análise e a atitude frias por parte do agredido).
Some o pequeno vínculo com amigos, que serviriam de suporte. Adicione o convívio cultural fácil com armas de fogo.
E, como última pitada, um entorno social machista, do tipo que “não tolera ofensas”.
A história parece muito pouco provável?
Mas é um bom retrato do que acontece na sociedade americana, onde assassinatos em massa têm sido uma nefasta moda nas escolas.
No Brasil, nos faltam alguns elementos (o endeusamento cultural das armas, por exemplo). Além disso, aqui somos mais “relaxados”, costumamos saber rir mais de nós mesmos, característica fundamental.
Outro atenuante é o de “resolver depois da aula”, que por paradoxal que seja muitas vezes resolve mesmo, não deixa que a bola de neve cresça, até fortalece algumas amizades.
Mas... nunca se sabe. Gostamos de copiar. Adotamos “High School Musicals” cegamente. Tomara que paremos por aí.