Dia desses vi num determinado site as características de determinado problema:
◊ déficits qualitativos na interação social. Meu caso. Eu, se puder, falto no meu próprio velório. Não gosto de ajuntamentos. E dois pra mim já é um ajuntamento.
◊ déficits na comunicação. Sempre tive. Até os dezoito anos não atendia telefone com receio do que vinha depois do “Alô”. Na padaria mostrava “quatro” com os dedos pra não falar “quatro pães”.
◊ padrões de comportamento repetitivos e estereotipados. Eu. O chão da minha casa tem trilha. Faço sempre o mesmo caminho, da hora da chegada à hora de ir embora. Tampo a garrafa do refri a cada servida e por aí vai.
◊ repertório restrito de interesses e atividades. Eu, de novo. Quartas e domingos, futebol na televisão. Nos outros dias, comentários, bate-bolas, mesas-redondas...
Tava lá. Com todas as letras o meu diagnóstico: Autismo.
Talvez o primeiro médico autista do mundo, não sei.
Mas talvez tenha sido apenas mais uma das confusões de quem acessa sites médicos para obter informações a seu respeito ou a respeito dos outros.
Extremamente comum, acontece a toda hora. Nesse exato momento milhares de pessoas estão se dando diagnósticos, fazendo previsões (muitas delas sombrias) sobre sua saúde futura, escolhendo medicamentos supostamente mais adequados para seus problemas.
A Internet trouxe este tremendo efeito colateral no seu bojo. Antes, quase que só acontecia conosco, médicos e estudantes de medicina, que a cada nova leitura nos considerávamos mais doentes.
Portanto, da próxima vez em que pensar em alguma doença, deixe – pelo menos em parte – seu médico diagnosticá-lo. Ele é pago pra se preocupar com você.