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15 de novembro de 2016

Espelho, Espelho Nosso


Minha especialidade não permite extravagâncias monetárias, por isso fui poucas vezes aos Estados Unidos. 
Nesta última vez que fui, entretanto (neste mesmo mês que acabou de acabar), uma das coisas que me chamaram atenção foram os comerciais de televisão lá veiculados. Duas mercadorias são insistentemente oferecidas: junk food, como sempre, e, não por coincidência, a novidade dos recentes anos: remédios. Não mais os "remedinhos" - ainda que comerciais destes ainda existam, e mais do que deveriam - mas os medicamentos ditos "biológicos". 
Já falei aqui algumas vezes sobre os biológicos.
São remédios que podem ser resumidos com três adjetivos: caríssimos, não copiáveis (sem genéricos, ainda) e perigosos, pois repletos de efeitos colaterais (muitos ainda desconhecidos).
Não é que devam ser desprezados. O que incomoda é a glorificação. Têm aparecido como "solução definitiva" para males para os quais até então pouca coisa podia ser feita. E aí é que está: tem problemas médicos que vão ser melhor conduzidos com boa dose de compreensão e outra tanta de resignação (uma combinação, convenhamos, que não se integra com a maneira ocidental de se ver as coisas, ainda mais no país que a representa) mais do que com falsas promessas de cura porque "em preço alto e alta tecnologia todo mundo há de confiar".
Sei que falo (e escrevo) para o vento. Já fui vencido nesta também. Me preocupa saber que o estilo americano é molde para o brasileiro, médicos incluídos. E não tem custado quase nada para quem já gastou tanto com pesquisa, desenvolvimento, propaganda incluir algumas sumidades médicas no paycheck* também.

(Outra coisa interessante é que a legislação americana obriga a incluir a advertência sobre muitos dos efeitos colaterais no final do comercial, o que o torna quase um filme, e faz pensar: alguém vai ter coragem de encarar isto? Em países como o Brasil a norma há de ser diferente, pensam os fabricantes)

*Paycheck: folha de pagamento. É só uma infeliz coincidência a maneira como os próprios americanos pronunciam meu sobrenome (Peitcheco)!