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30 de agosto de 2016

Só Acredito...


(A incredulidade de São Tomé, de Caravaggio)

Todo médico é meio São Tomé: tem tendência a se preocupar com aquilo que costuma ver.
Eu, por exemplo, tenho mais medo de moeda no chão do que de alergia alimentar. Por que? Porque já vi muita moeda engolida ("Síndrome do Cofre"), mas até hoje não vi anafilaxia (alergia grave) por qualquer tipo de alimento (nem pelas próprias moedas!), ainda que as moedas não costumem trazer mais do que prejuízo financeiro (transitório, "lavou, tá nova") aos engolidores.
Os exemplos abundam. 
A zika tem sido o exemplo mais recente. Muito temida, pouco vista. Merece a citação da mídia, a pesquisa. O que não merece é que nos perturbe o sono, pelo menos por enquanto. 
Quando leio sobre a zika, penso em outra doença que talvez merecesse mais preocupação. A cisticercose (doença do cisto da tênia do porco, que pode causar grandes estragos no cérebro) ainda afeta milhares de pessoas no Brasil, e tem diagnóstico difícil e muitas vezes tardio. Apenas já "manjada", por isso meio esquecida.
Interessante notar o olhar diferente de cada especialidade, também. Um especialista que atende pacientes referenciados de vários (centenas) de clínicos por um determinado problema (digamos, as próprias alergias alimentares mencionadas acima, atendidas por um alergologista) testemunhará uma alta frequência (relativa) de um determinado problema. O que pode significar um problema muito menor quando diluído na comunidade. 


Mas quem é chamado pela imprensa pra falar do assunto? O especialista, claro! E certo. Apenas que com a distorção epidemiológica, que deve ser explicada.