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29 de julho de 2016

Das Trevas


É de tempo que a gente pede para os pais evitarem de usar remédios mais específicos para a dor abdominal dos seus filhotes.
Analgésicos mais simples, do dia a dia (como o paracetamol ou a dipirona), costumam dar conta do recado.
No livro "Os Botões de Napoleão", os químicos escritores explicam que o mito das bruxas de séculos passados (até o século XVII, principalmente) parece ter ser sido criado em parte devido ao uso de plantas medicinais contendo o alcalóide escopolamina. Presente na fórmula da maioria dos chamados antiespasmódicos, a escopolamina, assim como melhorava dores (na forma de infusão), também gerava potentes alucinações e comportamentos bizarros, inclusive na esfera sexual.
Para uma época de alta religiosidade e sexualidade reprimida, as atitudes "místicas" de tomar um chazinho, e a partir daí, se desreprimir, falar bobagens, soltar a lingua, se imaginar fazendo sexo com um diabo bonitão e viajar numa vassoura (alucinações algo frequentes em quem usava a substância) foram reforçando o mito de que aquelas curandeiras faziam coisas que não deveriam ser feitas. 
Segundo explicam os autores, o cabo da vassoura servia algumas vezes como veículo para o remédio quando usado via vaginal. Era passar um unguento de escopolamina, montar nua na vassoura e... boa viagem!
Claro que o preço era caro. Pagavam com a vida quando descobertas bruxas e sua "clientela".
Hoje as doses habituais são menores e controladas. Mas é bom que se saiba que, se serviram pra criar um potente mito da bruxaria (além, claro, de muito sugestionamento e mais ignorância, na criação do "inimigo herético" como parte de um jogo de poder da igreja, sem falar no medo do machismo de que as mulheres de alguma forma "se liberassem")*, não devem ser remédios muito tranquilinhos no uso...

* Além de tudo, a bruxaria encarnava o "lado mal" presente em todos nós, como bem mostrou a história de McBeth, de Shakespeare.