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30 de agosto de 2011

Dá Um Beijinho Que Passa - Excesso de Medicamentos para Crianças

“A dor é parte do uniforme do atleta profissional”
(Oscar, o outro, o mais famoso, o Schmidt)

Faz parte da formação do médico o dar remédio. E parece estranho que um paciente se queixe de dores e saia de algum consultório sem receita de pelo menos um analgésico.
E fica ainda mais estranho frente à variedade de analgésicos e antiinflamatórios hoje disponíveis no mercado farmacêutico (que ainda que lide com um bem tão precioso quanto a saúde, é um mercado, é bom que nos lembremos).
Remédios para a dor estão no topo das listas de reações adversas e de efeitos colaterais, alguns deles de longo prazo, mas não há de se querer que quem sofre muito os deixe de lado.
O problema é com “qualquer dorzinha”, a dor que faz parte do dia-a-dia, seja dos atletas como o xará Oscar ou da dona de casa (ou mesmo das crianças, que se machucam muito e somatizam mais ainda, principalmente em dias de famílias “instáveis”).
Para a saúde da família, sugiro sempre que a farmacinha de casa componha-se de 3 ou 4 remedinhos básicos, incluindo o analgésico (mais do que o antiinflamatório) , e pouca coisa além disso.
O “amor pelo remédio” mostra mais defeito da cabeça do que do corpo. Devemos (até certo ponto, claro) aprender a amestrar a dor, a não dar muita bola para ela em muitas situações cotidianas, para que não sejamos nós dominados por ela.

26 de agosto de 2011

A Gripe Que Não Cura Nunca! - Viroses de Repetição na Infância

(leia o título acima com voz cavernosa, e veja que efeito assustador ele dá! Não sei se já foi feito, mas é um ótimo título para um filme de terror - gênero “terror pediátrico”, gênero incipiente, mas muito promissor).

Essa percepção por parte dos pais, a de que a gripe não está curando há muito tempo, é errada. Errada por quê?
Porque sintomas gripais podem durar o que? Sete dias, no máximo.
Quando o prazo é muito maior, o que está se vendo não é uma gripe ou um resfriado, mas mais de um! E não são raros os resfriados que se emendam uns nos outros em certas faixas etárias, notadamente em crianças nos dois primeiros anos de freqüência em escolinha ou creche.
São casos em que os pais se confundem nos prazos. A coriza, a tosse, os roncos no peito estão presentes desde quando? Muitas vezes dá impressão de que há meses eles existem (ainda mais se levando em consideração que os pais alongam a percepção do tempo ao verem seus filhos doentes – 12 horas podem parecer dois ou três dias, por exemplo).
- É, mas espere, e as febres?
As febres costumam sinalizar o início (ou reinício) dos quadros gripais.
Então numa criança com coriza, roncos e tosse que volta a fazer febre, essa febre mostra um novo vírus que se aproveita do terreno propício da virose anterior ou, mais raramente, alguma infecção bacteriana, também se aproveitando do catarro acumulado ou da defesa um pouco “baleada”.

23 de agosto de 2011

Diga-me Com Quem Andas (E Comes, E Dormes...) - Influência da Família nas Doenças das Crianças

Quando um determinado paciente pediátrico (adolescente inclusive) adentra ao consultório, seus pais ou responsáveis vêm normalmente falando dele, obviamente.
E embora seja uma obviedade, o que não parece óbvio para os pais é que o problema (ex.: obesidade, ansiedade, problemas escolares, agressividade, etc.) não é muitas vezes um problema dele, mas de toda a família!
Mães negam, pais muitas vezes nem vêm, avós acham que todos estão errados, inclusive os médicos.
São casos em que o pediatra precisa (mais ou menos sutilmente) interrogar hábitos, inquirir sobre relacionamentos (atuais ou desfeitos), investigar relação de poderes.
E muitas vezes propor mudanças de comportamento ou tratamento mais de membros da família do que da própria criança.

19 de agosto de 2011

Fitando o Inócuo - Fitoterápicos

Prefiro um nada mais ou menos a um fitoterápico ótimo.
E por quê?
Porque na medicação dita fitoterápica, “de plantas”, ocorre o inverso da situação vitamínica.
Na maioria das vitaminas prescritas como “algo a mais” para a dieta, isola-se a substância de interesse do suposto alimento para ser dada à parte. Dessa forma perde-se outros variados nutrientes que se somariam ou potencializariam o efeito vitamínico.
Um exemplo: é muito melhor comer meio kiwi do que tomar 15 dias de vitamina C isolada.
Já nos fitoterápicos, com o pretenso benefício da substância presente na planta, levamos “de carona” muitas sustâncias ruins, e algumas até com potencial nocivo.
Além disso, há a enorme dificuldade na dosagem, que no caso da medicação tradicional é o que é levado em conta. Quanto da substância da planta há em cada remédio fitoterápico? Numa planta mais verdinha há mais ou menos do princípio desejado que numa mais amarelinha? Como se medem essas coisas num fitoterápico?
A pensar. E enquanto se pensa, se realmente necessário, leve um medicamento tradicional, a quem se pode culpar com mais exatidão quando as coisas dão errado.

(O grande apelo da fitoterapia se relaciona com a “suavidade” propagada nos tratamentos, com a volta à natureza, com o colinho da vovó. A abstenção dos medicamentos – nos casos em que deles não se precisa – a natureza e o colinho da vovó podem ter ótimos resultados, sem darmos lucros às farmácias - ou prejuízo pra nós).

16 de agosto de 2011

O Velho Gianecco

Gianecchini está se aproximando dos 40 anos.
E para toda a história da humanidade (com exceção do último século) está se tornando um velho.
Em forma (a mulherada que o diga), mas para os empoeirados livros de patologia, um coroa, um “quase velho”.
E como qualquer outro sujeito de quase quarenta, com as susceptibilidades da quarta década.
Não o estou agourando. Minha ponta de inveja da sua galãzice perde feio para minha admiração pela pessoa e pelo ator que é.
Meu argumento é o da difícil serenidade frente ao adversário.
Qualquer diagnóstico com um “oma” na extremidade assusta, e hoje em dia assusta ainda mais saber que um ou outro “oma” possa ocorrer (ou, o que é pior, possa até levá-lo embora) num sujeito em que se as rugas só se mostram na lente de aumento.
Brigar não é feio. É quase uma obrigação (falo “quase” porque muita gente boa cai com a primeira porrada).
Mas a atitude do avestruz, do “não há de ser nada”, do comigo não, e mais, a crença na invencibilidade, na imortalidade, tem se tornado uma perigosa regra que os tais livros de patologia ainda têm teimado em às vezes ignorar, trate-se ou não, tome-se remédios daqui ou do exterior.

12 de agosto de 2011

Velho Narciso

Por que será que os filhos, na medida em que crescem, se irritam tanto com certas coisas que seus pais fazem?
Pelo simples fato de perceberem a inexorabilidade das suas próprias características irritantes refletidas nos seus pais.
Na verdade, são os filhos os reflexos dos pais, e não contrário. Pais também se irritam com seus mini-espelhos, mas aprenderam a ser mais tolerantes – até porque viram aqueles atuais porres com olharzinho inocente (“olhar de gato do Shrek”), quando eram menores.

9 de agosto de 2011

Chute Integral - Diagnósticos Pessoas Leigas

Curioso como pessoas leigas costumam dar diagnósticos. Não baseados em doenças ou afecções, mas nos órgãos inteiros:
Dificuldades digestivas:
- É o fígado.
Ganho de peso?
- Tiróide!
(assim mesmo: “Você está com tiróide!” – Que bom! Eu também estou com a minha, logo aqui no meu pescoço!)
Dor nas costas:
- É os rim! (quase sempre com aula de concordância...)
Outro fato curioso é a exclusão de órgãos mais, digamos, inóspitos. Dificilmente você vê alguém dizendo:
- É o pâncreas!
Ou ainda:
- A causa é provavelmente seu baço.
Baço? Alguém já ouviu falar em baço? Pra que serve essa coisa de baço? (não seria braço, não?)
Pensando bem, eu também, quando chego com meu carro na oficina, chuto:
- Acho que é o carburador!...

5 de agosto de 2011

As Leis de Tolstoi - Causas Associadas dos Problemas de Saúde

Tolstoi, no seu “pequeno” e magnífico “Guerra e Paz”, tenta analisar as causas das glórias e fracassos do exército napoleônico.
Escreve:

“Quando uma maçã se torna madura e cai, por que ela cai?
Porque seu peso a atrai à Terra, porque seu pedúnculo se resseca, porque o sol a queima, porque ela se torna muito pesada, porque o vento a balança ou é porque o menino que se situa ao pé da árvore tem vontade de comê-la?
Nada disso constitui a causa. Não há senão uma concordância de condições nas quais se realizam todos os eventos vitais, orgânicos, elementares. E o botânico que dissesse que a maçã caiu pela ação da decomposição dos tecidos celulares ou outras causas análogas teria tanta razão quanto a criança aos pés da macieira que dissesse que ela caiu porque ele teve vontade de comê-la e porque ele pediu ao bom Deus”.

E lá na frente (centenas de páginas depois):

“O conjunto de causas de um fenômeno qualquer é inacessível ao espírito humano. Mas a necessidade de se buscar estas causas é própria da alma humana. E o cérebro, incapaz de penetrar na infinidade e na complexidade dos fenômenos, toma um fenômeno isoladamente para representar uma causa, se agarra à primeira relação de casualidade percebida – a mais acessível – e diz: está aí a causa.”

A lucidez das análises se presta não apenas para situações históricas, mas de resto para qualquer outra matéria.
Na Medicina, por exemplo, podemos tentar uma “tolstoizada” (com o devido respeito):

“Quando um sujeito enfarta (e cai), por que ele enfarta?
Porque seu colesterol era demasiadamente elevado, porque ele exagerou no esforço físico do dia anterior, porque ele andava muito estressado, porque sua coronária anterior mostrava uma obstrução de 80%, porque a situação com a sua patroa andava meio periclitante, ou simplesmente porque seu peso (que não era pouco) foi atraído pela Terra”.

Há médicos (e artigos médicos em publicações “de prestígio”) que querem nos fazer acreditar em uma ou outra causa isoladamente (quase sempre aquela para qual há tratamento medicamentoso ou cirúrgico disponível).
E quase todos nós caímos.
Como a maçã de Tolstoi.

2 de agosto de 2011

Nessun Dorma* - Dificuldades para Crianças Dormirem

Pouco a pouco a humanidade caminha para a exaustão.
-Extinção?
Não, exaustão mesmo!
Já não bastassem os mil motivos para os escolares e adolescentes não dormirem (ou não quererem dormir) como TV 24 horas (às vezes em todos os cômodos da casa), internet, celulares, Ipods e etc., nos últimos tempos estão também os bebês se transformando num grande problema quando se trata de enfiá-los embaixo das cobertas.
Também eles são sensíveis às TV 24 horas, internet, celulares e iPods, apenas que nesse caso, os dos outros (ainda).
Bebês não são imunes à bagunça do ambiente, muito pelo contrário. Estimulam-se com as geringonças eletrônicas, o que dificulta caírem no nosso.
E aí vem mais um problema: a disponibilidade, os mimos e a “falta de coragem” dos atuais pais em deixarem os pequenos na cama.
Isso também mudou, e muito, nas últimas gerações.
Pais que tinham “uma cambada” pra cuidar não tinham ânimo, paciência ou força para aceitar que os filhos permanecessem acordados. Era “cala a boca e durma” mesmo.
Atualmente sentem-se culpados, tiram do berço, aceitam a manha, caem na conversa do ter que dar de mamar.
Haja olheira!

*Nessun dorma (“Ninguém durma”) é, como você sabe, a famosa frase do belíssimo final da ópera Turandot, de Puccini (não que eu manje algo de italiano ou de ópera, mas esse trecho é obrigatório!).