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8 de agosto de 2008

Kay & Ray


Quais os limites da personalidade? Até que ponto nosso ser é influenciado por doenças, transtornos ou “desvios patológicos” da normalidade?
Dois livros modernos – mas já clássicos – abordam o tema, ainda que de forma indireta.
No primeiro, Uma Mente Inquieta, a autora, Kay R. Jamison, uma psiquiatra norte-americana literalmente se coloca no lugar de seus pacientes ao sofrer ela mesma do transtorno bipolar (na forma mais severa, com fases maníacas que a levaram inclusive a tentar o suicídio).
Em determinada parte do livro, Kay relata seu medo de ter a candidatura ao emprego recusada pela patologia, ao que seu chefe respondeu: “Sem nossa equipe de bipolares, acredito que este hospital seria um lugar muito chato de se trabalhar!”.
No outro livro, O Homem Que Confundiu Sua Mulher Com Um Chapéu, pouco mais antigo, o neurologista e escritor Oliver Sacks (famoso pela participação como roteirista e personagem do filme “Tempo de Despertar”) relata a curiosa história do paciente Ray, portador da Síndrome de Tourette desde a infância. Devastadora para seus relacionamentos e vida social (os portadores desta síndrome, dentre outros “descontroles” involuntários, “soltam” palavrões e grunhidos nos momentos mais inapropriados), a síndrome era para este paciente parte da sua personalidade, do seu “self”.
Ao ser tratado (com Haldol, medicação que paralisa movimentos, mas também boa parte das emoções) Ray liberou-se de grande parte dos constrangimentos. Sem movimentos “malucos”, “alienados”, “normal”, enfim.
Porém, assim como Kay ao tomar sua medicação para a bipolaridade - que, ainda assim, a autora insiste que para ela foi questão de vida ou morte – Ray começou a sentir que “algo estava faltando” (termo exatamente igual em ambos os textos). Este “algo” no caso de Ray era sua vivacidade, sua rapidez de raciocínio, sua capacidade de surpreender os outros mesmo quando soltava um “filho da...” impensado (algo que já esperavam dele amigos e familiares).
Patologias, deficiências, diferenças, extravagâncias, aparências. São características que dão cores à nossa personalidade, são nossa história. Moldam nosso comportamento em relação a nós mesmos e aos outros (e vice-versa).
Tratamentos, mudanças, “consertos”, disfarces podem ser desejáveis ou mesmo absolutamente necessários.
Mas... Será realmente bom?
E... a quem cabe essa decisão?

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