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4 de maio de 2018

Seu Google


Sabe, seu Google, eu sei que o senhor (não sei se posso chamá-lo por "você") só tem um interesse em mente, que é vender.
Por isso, quando o senhor me enxerga através desse seu lado, me enxerga como um consumidor, alguém que tem interesse nisso ou naquilo para comprar, consumir, procurar por mais, comprar de novo, consumir mais e mais e... pronto! É disso que somos feitos para o senhor, de valores não outros que monetários, mercantilistas, ou o que quer que seja que gere mais lucros para os outros, mas principalmente para o senhor!
Desculpa aí, seu Google, a franqueza, mas embora muita gente não perceba (ou por incapacidade, ou por desinteresse das consequências) eu, sim, percebo, o que o senhor faz com a gente. Não o tempo todo, porque também tenho minhas fraquezas (e o senhor bem sabe disso, pois as explora com muita competência), mas boa parte do tempo.
Sabe, seu Google, o motivo de eu buscar um assunto ou um artigo aí nos seus domínios nem sempre é para comprar. Às vezes é só para sonhar mesmo, muitas vezes porque nem posso pensar em comprar. Outras vezes recorro ao senhor com um interesse passageiro, quase como em um sonho. Mas aí o senhor já me põe na lista dos "eternos interessados em...". Tudo bem, pode pôr, fazer o que, se é esse seu modo de pensar? Tudo está a venda, tudo pode ser comprado, ou transformado em mercadoria... Mas se engana, o senhor, seu Google, não é assim que o mundo real funciona, e talvez um dia o senhor reconheça isto. Pessoas são feitas antes de tudo por sentimentos, e sentimento não é algo que possa ser sempre colocado em algoritmos, como dados bancários, apenas para uso comercial.
Desculpa estar tomando seu tempo, seu Google, sei que o senhor tem muito mais o que fazer do que ficar me escutando ("tempo é dinheiro", como dizem os seus!). É que não sabia para quem dizer isso tudo, sabe, até porque ninguém nesse seu mundo, voltado para o consumo incessante, quer mais ouvir a gente. Estão todos tomados pelo feitiço que o senhor (junto com o seu Apple, seu Facebook, seu Tweeter e os demais) ajudou a construir. 
Tenho até medo de dizer isso para o senhor, mas espero que um dia mais pessoas acordem. Não digo que não usem as facilidades que os senhores nos propõem. Não, esperar isso seria ingenuidade demais da minha parte, ainda que saiba que seu negócio se baseia essencialmente nas pessoas ingênuas. Mas que façam um pouco como eu. Que de propósito desfaçam, atordoem seus mecanismos. Que busquem coisas em latim ou em aramaico, que usem e abusem dos filtros, que vejam coisas pelas quais não tenham o menor interesse, só para bagunçar um pouco a sua vida. Tentando mostrar quem é que manda, ou que deveria mandar. 
É quase que o máximo que nós podemos fazer, e é pouco, bem sei. É meio quixotesco, paranóico, mas prefiro pensar que agindo assim ainda causo ao senhor algum desconforto, algum desentendimento, lhe dou algo para pensar. Não quero que reine confortável nos manipulando, achando que vê nossos pensamentos até mesmo antes que saiam das nossas cabeças. 
Boa noite, seu Google. 

Amanhã eu volto, tá bom?