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31 de dezembro de 2016

Novo


O que faz um ano ser melhor - ou pior - que o outro?
Não é uma pergunta fácil de ser respondida, pois a nossa vida não se conta - apesar das aparências - em anos. 
Podemos ter passado os piores trinta segundos da nossa vida num ano que na soma não foi tão ruim. E vice-versa: Adoráveis momentos podem ter sido inseridos num ano lembrado como muito, muito sofrido.
Nossa retrospectiva mistura as datas, tanto quanto a receita de um bolo mistura ingredientes. De forma que no final das contas, o que fica é um sabor marcante e único. Com nuances tão delicados e indistinguíveis que será impossível a rotulagem, mil novecentos e isso, ou dois mil e aquilo.

Ainda assim:  

Feliz 2017!

27 de dezembro de 2016

Semana Morta


Essa semana entre Natal e Ano Novo não existe.
Se você, por exemplo, nasceu nesta época, pode se apalpar. Viu? Você não existe!
Vi anteontem na televisão: sessenta milhões de pessoas estão esta semana em Nova Iorque. Sessenta milhões? Não pode ser verdade, a ilha afundaria! 
Sessenta milhões de pessoas fazendo selfie numa vitrine da Quinta Avenida? Faça as contas, é rapidinho: uma semana tem 10.000 minutos. Sessenta milhões de pessoas na semana, dá 6.000 pessoas se acotovelando para tirar a melhor foto de uma boneca a cada minuto (ou 100 pessoas por segundo)! Não vão ficar boas. Um vulto sorridente sendo empurrado por outro vulto.
Enquanto isso, há muita cidade morta. Se você mora em alguma cidade pequena e deixou casa fechada e está preocupado, não se preocupe: mesmo os ladrões estão em Nova Iorque, fazendo selfie em vitrines da Quinta Avenida!
Mesmo em meio a essa terrível crise política e econômica, brindemos, tentando não deixar a água no champanhe estragar a festa.

(Como disse um conhecido:
"Nossa situação só não está pior que a de dois lugares: da Venezuela e de Caracas!"
"Mas Caracas é a capital da Venezuela!"


"Caraca! Então é a de um lugar só!")

23 de dezembro de 2016

Entrevista Com Um Desiludido


"E então, quando foi que você descobriu que o Papai Noel não existe de verdade?"
"O que? Papai Noel... não... existe?"
"Bem..."
"Tô brincando! Descobri lá por volta dos 6 anos de idade."
"E foi muito... doído?"
"Doido?"
"Não, doído, acento agudo no i"
"Sei. Brincando de novo... Não vou dizer que não foi. Aquela sensação de que todos te enganavam, sabe? Muito chato saber que todos participavam de um teatro para te enganar, a você, seu irmão mais novo e aos seus primos, igualmente novos e crédulos. Mas imagino que mais doído do que foi para mim, foi mesmo para os meus pais. Ainda hoje lembro do olhar da minha mãe, sofrida por confirmar uma verdade que eu já há muito suspeitava. Lágrimas escorriam, mas ela tentava disfarçar, pobrezinha."
"E você acha que isso, essa descoberta da verdade, de alguma forma influenciou na sua personalidade, na sua maneira de ver as coisas, ou mesmo de encarar outras supostas verdades?"
"Não. Quer dizer, não tenho muita certeza a respeito. Só quem pode te responder isto é o meu psicanalista. Ainda que eu suspeite que nem ele vá saber respondê-lo. Além disso, ele tem uma barba branca e uns óculos redondinhos, que eu não sei, não! Se fizer rou-rou, saio correndo!"
"E com os seus filhos? Você falou a verdade, ou fez o mesmo que seus pais fizeram com você?"
"Não foi uma vingança inter-geracional, mas, claro, deixei que eles de alguma forma aprendessem a verdade por conta própria."
"E não fez mal?"
"Não. Também eu me aproveitei do mito para manter quartos mais arrumados, para que comessem um espinafre de vez em quando, para que me deixassem ver um programa de televisão sossegado no período noturno."
"Então a sua conclusão é de que devemos manter o mito vivo?"
"Sim. Acho que sim."
"Não é mentir para as crianças?"
"Talvez seja. Mas não acho que fará mais mal que o mito da Branca de Neve, da Alice, do Hulk ou do Airton Senna."
"Ei! Mas o Airton Senna existiu!"
"Existiu. Mas virou mito, inclusive para muitos adultos, que acreditam piamente que virou um santo, que tinha uma missão, que viu Jesus Cristo numa curva, e etc."
"Verdade! Só mais uma pergunta... Você faria o papel do bom velhinho para sua família?"


"Não. Desculpa, sei que toda essa conversa é muito lugar-comum. Bom velhinho já posso até ser, mas realmente não tenho mais o saco!" 

20 de dezembro de 2016

De Boca Aberta


Pediatra não é dentista tanto quanto dentista não é pediatra e a gente sempre começa a conversa sobre os dentes das crianças com essa ressalva.
Com que idade começa escovação, que tipo de pasta e escova usar, passa ou não passa fio dental?
São perguntas que os pais fazem e que têm como respostas um tanto de aprendizado com profissionais, outro tanto de leitura que se supõe "especializada", algo de bom senso, e por aí vai.
A questão é que muitas dessas recomendações têm passado nos últimos tempos pelo crivo da comprovação científica, das "evidências".
E aí têm aparecido surpresas para nos deixar um pouco "de boca aberta".
Por exemplo: o fio (ou fita) dental, tão apreciado por quem quer ter a sensação de uma boca limpinha (e recomendado por quase todos os dentistas) não tem sua confirmação como algo que previna cáries (e até mesmo, talvez, as gengivites). 
(Um parênteses aqui: e o mau hálito? E as amidalites caseosas - aquelas causadas por restos alimentares "presos" nas amígdalas? Ainda fecho com ele, pelo menos por isso!)
A profilaxia semestral também tem sido questionada. E aí a questão custo entra em jogo. 
Outra: o tipo de escova realmente importa? Escovas têm progredido para engenhocas diferentes das que sempre conhecemos, mas... precisa? O debate está ainda aberto.
Número de escovações diárias, importância do flúor na água, tipo de pasta também carencem de comprovação (a fluoretação da água, por exemplo, é só um exemplo de situação da qual talvez nunca tenhamos comprovação científica, pela dificuldade técnica de estudos abrangentes).

Ou seja: perdoe seu profissional se ele disser a você algo como: "Não tenho certeza!".

16 de dezembro de 2016

GPS


Acho o tema "orientação sexual" interessante porque afeta o dia a dia da sociedade como um todo, mas afeta o sistema de saúde pública muito mais do que se possa imaginar.
É interessante porque com toda cara de liberalidade com a qual levamos nossas vidas, ainda vemos enormes, terríveis preconceitos.
Ao mesmo tempo assusta um pouco (e temos que falar isso com muito cuidado para não termos nossas janelas quebradas) o recente "proselitismo gay", essa coisa das novas gerações de que a homossexualidade deva quase que ser obrigatoriamente experimentada para que se possa dizer que não se gosta, como se a relação sexual com alguém do mesmo sexo fosse um sashimi esotérico ou um pedaço de brócoli. 
Boa parte da mídia é gay. Ótimo. Ajudou muito a quebrar barreiras, a derrubar tabus. Artistas, cantores, publicitários e mesmo donos de indústria também são homossexuais. Sem qualquer problema. Com a exceção de que têm exercido um crescente papel na educação das crianças, no vácuo da presença dos pais (e especialmente da figura masculina educadora). Isso não é conversa de machista-conservador-enrustido. Não. 
Meninos "vocacionados" ao comportamento hetero não precisam se sentir incomodados, tanto quanto não deveriam sentir um choque quando encostados por alguém do mesmo sexo. Sexualidade é identidade. Deve ser sempre - e cada vez mais - respeitada. Mas a balança não deveria pender para um lado ou outro ao sabor dos modismos, da mídia, ou mesmo da pressão social. 
Isso sempre tem feito pessoas (e seus parentes) infelizes, doentes, fisica e psiquicamente.
Se você é gay, sugiro que se assuma. É o melhor que tem a fazer. Por mais sofrimentos que cause no curto prazo, sua vida será mais "leve" no futuro (ainda que não exatamente "fácil" como esperamos que seja num futuro ainda longinquo).
Se você tem convicções hetero, seja firme na sua heterosexualidade. Se ainda por um outro lado sente-se "curioso", se sente aquele "choque" que me referi acima, talvez deva mesmo repensar sua orientação, tarefa que demanda algo de coragem e sinceridade.
A brincadeira da música do Adnet de que "todo mundo é gay" não deve ser verdade. Mas ela interessa para fazer as pessoas repensarem suas posições. Interessa também para que cheguemos mais próximos dos "números reais" do comportamento sexual. Fará bem a todos, imagino.


(Só lembrando que o próprio conceito do limite entre a homo e a heterosexualidade está tendendo a ser borrado hoje em dia. É possível que todos os "alfarrábios" sejam jogados fora em questão de poucos anos e eu precise pedir desculpas por essa postagem tão démodé)

13 de dezembro de 2016

Síndrome do Porquinho


"Doutor, minho filho engoliu uma moeda!"
"De quanto?"

Sei que parece uma piada. Mas não é.
O "preço" do acidente importa. E o tamanho das nossas atuais moedas servem muito como uma referência. 
A moeda de 1 real (além do maior prejuízo) tem diâmetro de 2,7 cm. É o diâmetro limítrofe, com chances maiores de ficar "entalado" no estômago.
Valores menores (50 centavos ou menos), além da economia, têm diâmetros menores, raramente deixando de progredir em direção à "saída". Mas sempre é importante tentar recuperar a moeda nas fezes (e não só pelo prejuízo, mais pela necessidade de confirmação da eliminação).
Claro que não é só o diâmetro que importa. Objetos mais perigosos, como ponteagudos ou baterias  (mesmo pequenas) e imãs provavelmente irão requerer endoscopia emergencial para retirada.
E qual limite de espera de eliminação dos menos perigosos? 

Com algum acompanhamento (radiológico, inclusive), até cerca de 3 semanas!

9 de dezembro de 2016

Sem Fim


Não sei se sou eu o pessimista ou eles os otimistas (provavelmente os dois).
Mas nessa conversa toda de se jogar as aposentadorias "mais para a frente" o governo só leva em consideração uma hipótese: a de que estamos vivendo cada vez mais e (aí o perigo!) iremos sempre viver cada vez mais!
Será?
Quem disse?
Muita gente diz. Sempre com o argumento do avanço da ciência, notadamente da ciência médica.
Mas... Será isso mesmo necessariamente verdade?
Tem muita gente boa começando a achar que talvez não, não iremos viver tanto assim. Ou, pelo menos, não viveremos bem (para estarmos com capacidade para trabalhar, que é o que em última análise importa para a Previdência) durante tanto tempo. E precisaremos, sim, de auxílio governamental para conseguirmos nos manter "minimamente vivos".
Alimentação pouco saudável, poluição, stress, competição por trabalho cada vez mais exíguo, sedentarismo, lares desfeitos, alterações climáticas graves são alguns dos argumentos convincentes para que não consigamos viver tanto quanto as previsões otimistas profetizam.
E aí, cabe a pergunta técnica: se vivermos menos (digamos com uma expectativa de vida de 60 anos) vamos "voltar para trás" na idade de concessão de benefícios?

Perguntar, às vezes, não ofende...

6 de dezembro de 2016

I & I


Ineditismo e intensidade.
Com frequência os pais de crianças com sintomas de "bronquite" (ou asma) perguntam se devem fazer um raio X no momento do aparecimento dos sintomas.
Na maioria das vezes é desnecessário. Se não há dúvida diagnóstica. Se os sintomas são inequívocos. 
Há duas excessões, no entanto.
Se a criança nunca teve sintomas de "bronquite" antes - especialmente se é uma criança um pouco mais velha (ineditismo). Porque os sintomas de outros problemas (principalmente uma aspiração de corpo estranho) podem simular uma "crise banal de bronquite".
Ou uma crise de intensidade desproporcional ao que já teve antes (intensidade). Até porque dá alguma tranquilidade "ver um Rx normal" nesses casos (ainda que uma crise intensa possa alterar o raio X a ponto de simular outras doenças, como a pneumonia, por exemplo).
No restante dos casos (a maioria, portanto), nada de raio X.

2 de dezembro de 2016

Nunca "A Favor"


Não sou ninguém pra falar de aborto. Até porque minha lida é com os resultados de quem não abortou (as crianças, os anti-abortos por definição).
Parece, no entanto, que nós vamos caminhando para a "institucionalização" do aborto também. 
Claro que as coisas vão ainda demorar muito para acontecer da forma certa (forma certa lá fora é como tem que ser, diferente da nossa forma certa que é do jeito que dá e olha lá). Vão haver clínicas especializadas servindo ao SUS, vão ser atendidas na maternidade como nossos abortos "espontâneos" costumam ser, vamos ter uma especialidade obstétrica à parte? Sabe-se lá! Provavelmente uma mistura incompleta de tudo isso, como tudo aquilo mais é.
Como alguém que pensa mais do que crê também acho que em muita coisa pode melhorar a situação atual de mulheres que arriscam (e frequentemente perdem) suas vidas. Concordo com a definição de hipocrisia os preceitos religiosos sempre (e muitas vezes raivosamente) alegados.
Uma coisa, entretanto, me angustia:
Somos o país do otimismo sem motivo, do deixar pra depois, do não-vai-acontecer. Estamos num momento (que pode ser longo) muito vulnerável em termos de políticas públicas, de educação, de condição social e econômica, e etc.
E nessas situações, um aborto "anunciado, anistiado e facilitado" pode mesmo se transformar numa "pilulona do dia seguinte", do estímulo à irresponsabilidade (ou ao desestímulo à responsabilidade, como queiram). Temos sido assim em quase tudo: remediando mal o que poderíamos tranquilamente evitar. 

Poderemos (e até mesmo devemos) tentar. Mas ainda devemos refletir sobre.