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29 de setembro de 2015

"Cheiro" de Infecção


Os indícios clínicos de uma infecção importante em fase inicial numa criança são sempre uma combinação de fatores: idade, estado da saúde prévio à doença, agressividade do germe, tempo de amamentação, uso
frequente de antibióticos, prematuridade, clima, etc., tudo influencia para se pensar em alguma doença mais ou menos séria.
E todos esses fatores devem ser levados em consideração na tomada de decisões, do exame ao início dos antibióticos.
Como se deduz, não é - ou não deve ser - uma decisão leviana.
Um dos fatores menos explicáveis é o "cheiro de infecção".
Não o comumente entendido como tal, aquele cheiro real de infecções purulentas por determinados germes, por exemplo, mas o "cheiro" metafórico, aquela impressão (que, claro, pode estar errada) de algo que o médico já viu evoluir mal em outro paciente, da somatória de alguns dados mais ou menos mensuráveis (o valor da temperatura e o estado geral são evidentes, mas há, às vezes, um "jeitão" de infecção nem sempre tão mensurável).

O adiamento das decisões pode ser perigoso, mas pode também ser muito bem-vindo, ainda que cause ansiedades (desde que se possa rever o paciente em curtos prazos). Evita custos e sofrimentos com exames, por vezes desnecessários.

25 de setembro de 2015

Deixa Pra Cá


Vou "falar" de comida de novo.
Uma enorme pesquisa desta semana mostra que os americanos (mas outros países também) estão voltando a consumir grandes quantidades de alimentos anteriormente "condenados" por especialistas (notadamente alimentos com grande quantidade de gordura saturada, como leite integral, manteiga e carne vermelha).
No que fazem muito bem (sem exageros, e se for pelos motivos certos).
Parte da explicação, no entanto, pode ser pelo que expusemos em postagem recente (sensação de "crise", seja de que tipo for). Até porque o consumo de açúcar refinado (um "veneno" em grandes quantidades) também aumentou.
Mas outro motivo pode e deve ter sido a "sacação" de que décadas de grandes fru-frus com gorduras saturadas e alimentos mais "naturais" como a carne vermelha resultaram em piora, e não melhora dos índices de saúde.
Relaxaram, então!...
Suspeito (tenho quase certeza) que os grandes vilões não estão nem nunca estiveram na mesa. Quem, por exemplo, come um pacote de bolacha recheada à mesa?

22 de setembro de 2015

Isto ou Aquilo


Os pais de pacientes (leigos) têm cada vez mais ouvido o termo "bronquiolite". E a confusão com a "bronquite" (mais corretamente, crise asmática, mas que ainda leva o antigo nome, até para compreensão) é inevitável.
Não é só na nomenclatura (nas três letras) que a confusão acontece. Sempre foi difícil diferenciá-las. 
Principalmente em crianças muito pequenas (menores de 1 ano e meio), visto que crianças maiores 1) são mais frequentemente asmáticas 2) têm menos risco com infecções pelos vírus que causam a bronquiolite.
Como resumão:
A "bronquiolite" costuma responder pouco ou quase nada às medicações (mas a minoria evolui mal), tem epidemias de inverno, pode ter sintomas durando até quase um mês (o que causa muita ansiedade em pais e, consequentemente, nos médicos).
A "bronquite" responde à medicação correta (e aí deve durar menos tempo). 
Febre, raio X, exame físico, história familiar? Tudo muito parecido! Quadros que realmente se confundem...

18 de setembro de 2015

Maré Baixa, Grandes Ventres



Muito difícil fazer previsões sobre para onde vamos com essa descida ladeira abaixo da economia brasileira.
Uma certeza, no entanto, podemos ter:
Do grande aumento da incidência da obesidade e das doenças metabólicas associadas (ambas já de incidência elevadas "pré-crise").
Qualquer um de nós submetidos a pressões cotidianas tendemos a "afogar ansiedades" na comida. Com raras exceções. Nem sempre interessantes essas exceções, pois outros desafogos são ainda piores (violência, álcool, drogas, etc.). Comidas que se prestam a aliviar ansiedades não são as mais saudáveis (e há explicações fisiológicas para isso). Não conhecemos ninguém que se acalme roendo uma cenoura, por exemplo (exceto os coelhos).
Além disso, comidas mais saudáveis costumam ser mais caras, o que agrava o ciclo comilança-insatisfação-ansiedade-mais comilança. Nosso organismo foi feito para se satisfazer no curto prazo (na hora de comer) com comidas calóricas e pouco nutritivas, e no longo prazo com nutrição de verdade (e quando essa nutrição de qualidade não vem, nosso corpo pede sempre mais).
Outros fatores contribuem para o "desastre metabólico": o desligamento das academias, escolinhas esportivas por medida de economia doméstica; a diminuição das opções culturais e de lazer (que preenchem mais que a comida, mas para quem já tem o básico); o menor acesso a profissionais de saúde (conselheiros - pelo menos - na questão alimentar ou relacionada).
Na semana passada, a notícia da economia foi o rebaixamento do Brasil para nível "junk" ("lixo"!) de investimento internacional. E lá vamos todos nós nos acalmar ingerindo "junk food"!...

15 de setembro de 2015

Burla


Achei interessante a reportagem do Jornal Nacional do dia 12/09 sobre a entrada de comida em hospitais (trazida por visitantes, claro, não sozinha!).
Nela, a recomendação é quase taxativa: proibido! Pelo atrapalho da dieta prescrita pelos nutricionistas e médicos e pelo risco de infecção hospitalar (de germes trazidos para dentro do ambiente, basicamente).
Mas é? É assim tão problemático?
No final, a reportagem lembra que cada hospital cria a sua regra, e é verdade.
Oficialmente, é melhor deixar assim. Porque a turma exagera. Leva fritura, arroz com feijão "preparado em casa", hambúrguer de monte, ketchup, e etc.
Mas na maioria das vezes o doentinho, seja ele quem for, não tem uma restrição assim tão rigorosa e, mais do que um crime, quem levar um agrado vai fazer é um favor.
Hospital, médico têm meio que obrigação de ser chatos. E se a violação das regras não for perigosa, podemos contrabalançar botando (um pouco mais de) vida nesses lugares, já por natureza tão tristes.
Contrabando neles!

11 de setembro de 2015

An Amazing World Out There


Quando o recém-nato bebê põe a cabeça para fora do canal vaginal materno, um mundo inteiro o aguarda (cada vez mais ansiosamente) cá fora.
Hoje há câmeras, flashs, filmagens, recados através do celular já na sala de parto, selfies... "Chora um pouquinho pra vovó ouvir!", pedem os pais com o smart na boquinha da criança.
E o pobre coitado tem, naturalmente, que corresponder às expectativas. Ai dele se não corresponder!
Alguém que nasça avesso a multidões, mais lerdo nas suas progressões, que não curta barulho, bagunça, mídia, já nasce em sérias dificuldades.
Ao avançarmos um pouco no tempo (FF no controle remoto) vemos essa figurinha sendo olhada com preconceitos, incertezas, diagnósticos: "É normal?", "Não dorme!", "É agitado, irritado", "Chora demais", "Reclamão", "Egoísta!", e o popular: "Não dá pra fazer uma tomografia?".
Nenhuma relação de uma coisa com outra...

O genial cartunista Henfil uma vez desenhou sua graúna (pássaro-personagem) com a portinha da gaiola aberta (sugerindo que estava livre para fugir) se segurando nas grades com cara aterrorizada, como quem dissesse: "Me deixa ficar aqui dentro, por favor!". 
Assim, às vezes, imagino o recém-nascido.


8 de setembro de 2015

Urubulino Amarelo*


O amarelo, na medicina é um sinal vermelho, não amarelo.
Estar amarelo (ictérico) quase nunca significa coisa boa, principalmente no paciente adulto.
Mas no recém-nascido, pode ser diferente.
Pais de filhos "amarelos" se preocupam. Não só com a aparência dos seus filhos, mas com o olhar de mau agouro dos outros (parentes e amigos). E esse mau agouro vem justamente da afirmação acima: todos são acostumados a entender o amarelo como problema.
A icterícia do recém-nascido tem várias causas benignas, e muito mais frequentes do que as causas graves (que, no entanto, devem ser devidamente descartadas). Detectada a benignidade, pais e "adjacências" devem sossegar, e aguardar que o amarelo vá embora, naturalmente, sem ficar o tempo todo com aquele olhar de:
"Ihhh!!".

(* o personagem Urubulino do Chico Anysio era muito interessante: o sujeito, normalmente médico nesse caso - para torná-lo ainda mais urubulínico, pois nada pior que um médico Urubulino - que, ao menor sinal de problema com o outro, já ia fazendo a cara acima, "Ihhh!"...)

4 de setembro de 2015

Frescurite Alimentar


Não é um novo diagnóstico.
Mas está se tornando muito, muito comum.
É a salada mista de diagnósticos verdadeiros de alergia alimentar com a intolerância, com a... frescurite, mesmo!
Do bebê ao senhorzinho, parece que o mundo inteiro resolveu ter alguma encrenca com o que habitualmente se come. As queixas são variadas: desde o excesso de gases até o... nada! Mas que, por um motivo ou outro, o médico ou o nutricionista (ou o pajé, ou seja-lá-quem-for) resolve decretar que tal ou tal alimento (ou uma fração dele, como no caso do glúten) simplesmente "está te fazendo mal!".
A curiosidade é que o "paciente" facilmente engole (nesse caso, sem alergia ou intolerância), talvez pelo fato de achar que "ele (médico, nutricionista, pajé ou seja-lá-quem-for) deve saber melhor do que eu"...
Apesar de onívoros, não há de ser tudo mesmo o que podemos comer que não vá dar "uma coisinha ou outra" (gases, evacuações mais ou menos frequentes, uma leve dor ou uma dor mais incômoda, mas passageira, azia, dor de cabeça, etc.). Eu, por exemplo, passo muito mal com parafuso. Vida que segue. 
Claro que foi se descobrindo aos poucos que a doença celíaca é mais frequente do que antes se imaginava. Ou que a alergia alimentar está em alta (e nem poderia ser diferente, pela "invenção" de alimentos em laboratórios). Em contrapartida, o refluxo gastroesofágico, por exemplo, foi perdendo a moral como algo muito sério na maioria das pessoas portadoras. 
Mas a grande diferença, imagino eu, se deve ao "excesso de conhecimento", à vida voltada pro próprio umbigo (ou pra dentro dele) como nunca se viu e à medicalização de situações banais.
Hoje, se você combinar um mero churrasco, vai ter que fazer um cardápio à parte para os "intolerantes", alérgicos, celíacos, vegetarianos e etc. Tá ficando difícil...

1 de setembro de 2015

No Começo Era O Verbo


"Tome isso aqui, que você vai ficar bão!" 
Há muito tempo não pode mais ser assim a informação do médico para o paciente. Nem deve ser o que o paciente espera do médico.
Não existe - ou quase - o "ficar bão". Nunca existiu. Mas parecia existir para nossos pais e avós. Quanto mais pra trás no tempo, mais parecia existir, pela simplicidade dos conceitos "curar", "adoecer", "medicar", etc.
Muitas das doenças que nos afligem vão exigir tratamentos que são (muito) imperfeitos - e também sempre foram. 
É por isso que os médicos devem (deveriam) explicar o que querem ao prescrever o tratamento, quais são as dificuldades de administração, noção de custo (caro, barato, pelo menos), e, muito importante, as opções.
O tremendo empecilho são os interesses de cada um: indústria (em primeiríssimo lugar), profissionais, e os interesses do próprio principal interessado, o paciente (que, claro, tem que ser levado em conta). 
Mas há outros. E dentre eles, a ignorância. 
Em matéria de farmacologia, de terapia, somos todos (profissionais de saúde e pacientes) mais ou menos ignorantes, não nos enganemos. 
O duro é a ignorância do be-a-ba, do não saber onde a coisa começa. Do ter, como costumo dizer, que explicar o começo do mundo. Neste caso, os resultados serão quase inevitavelmente ruins.