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30 de março de 2012

Já Tomou Seu Sanguinho Hoje?

Estou lendo aqui a “nova” recomendação da Associação Americana de Bancos de Sangue para se “levantar a barra” para as necessidades de transfusões, e pensando...
Zzzzz...
(Hein?) Pensei demais!
Então: num passado muito recente (falo isso porque esse passado já me diz respeito!) bastava se andar por alas pediátricas de hospitais para se ver canos que saíam de bolsinhas vermelhinhas para braços de pequenos pacientes a torto e à direita.
As indicações para isso? Acredite se quiser: tradição!
Níveis baixos de hemoglobina (indicadores numéricos de anemia) eram muitas vezes o único critério para mandar vir mais uma bolsinha!
As fatalidades relacionadas à AIDS no final dos anos 1980 foram mudando o panorama no sentido da “economia sanguínea” tornando os médicos muito mais criteriosos.
Infecções virais relacionadas a transfusões são hoje muito raras, mas ainda persistem complicações alérgicas pulmonares, renais e cardiológicas.
Pacientes anêmicos – excetuados aqueles com causa aguda como sangramentos importantes – “aprendem” a conviver com sua hemoglobina baixa e podem ser tratados de forma mais vagarosa, normalmente com medicamentos.
Por isso tão importantes quanto as campanhas para doação são as normatizações mais rígidas dos hospitais.

Obs.: não posso deixar de lembrar que a associação com a desnutrição – hoje virtualmente desaparecida – tornava a necessidade de sangue muito mais premente.

27 de março de 2012

Carteira Super Carimbada

Com o virtual desaparecimento da desnutrição (importante causa de infecção na infância) e o incremento do calendário vacinal gratuito, está ficando meio difícil pensar em alguma infecção comum que ainda ronde nossas felizes crianças.
De cabeça, assim, consigo pensar em um ou outro germe que ainda mereceria a criação de vacina (vírus da herpes, por exemplo, ou um ou outro meningococo e pneumococo não “contemplados” nas atuais vacinas).
A partir daí acho que propostas de novas vacinas terão maior custo que benefício (e quando escrevo “custo” penso inclusive nos bumbuns e coxinhas furados por todo lado, custo não negligenciável).
Acontece que propostas virão. E pais terão suas cabeças feitas pois, como sabemos, primeiro se cria o produto e, logo em seguida, os temores para os quais aquele produto será a propalada solução.
E vai chegar a hora em que pais mais informados terão que “peitar” o calendário vacinal oficial.
Fazer o que?

23 de março de 2012

Por Que o Jovem Não Gosta de Ler?

O gosto pela leitura é algo inato?
Num certo sentido, sim.
Pessoas retraídas, tímidas, introspectivas costumam fugir dos incômodos da vida em sociedade lendo. A leitura, então (mas não só ela), cumpre essa função. Ponto.
Como fazer para que os jovens se atraiam mais pelos livros nos dias de hoje?
Inicialmente, fazendo o contrário do que se costuma fazer. Obrigá-los a ler (como as escolas insistem) é um tiro no próprio pé. Ler o que não queremos – como de resto fazer qualquer coisa que não queiramos – serve apenas para desestimular.
O certo é perceber o gosto, conceder liberdades por estilos, autores, assuntos (do gibi ao livro grosso – que às vezes tem muito menos conteúdo).
E ler. Desde cedo, perto das crianças, também não importando tanto o quê.
A leitura é elitista, elitizante?
É. Claramente é, ué! E tem algum mau nisso? A ampliação no universo do conhecimento elitiza.
Ter dinheiro, por exemplo, também elitiza. Não é por isso que andamos rasgando notas por aí. Também não é por isso que devemos ser boçais.
À parte tudo isso, queria comentar um artigo de um jornalista do jornal Le Monde.
Segundo ele, tanto a bebida quanto os livros cumprem um papel social de rebeldia do jovem contra o status quo.
Jovens assustados com o mundo que os cerca (nesse caso, retraídos ou não) podem se afundar tanto na bebida quanto nos livros para combaterem essa ansiedade, para aprenderem a lidar com ela.
A diferença é que uma ajuda a construir, a outra ajuda a destruir.
Bom ponto de vista. E bem polêmico. Claro que há que se contar com outros importantes fatores como a genética para o vício do alcoolismo e com os próprios indutores sociais ao uso da bebida (a mim parece que boa parte do mundo caminha aos poucos para uma Rússia, onde quem não bebe se torna quase um marginalizado, fruto de uma indústria perversa aliada a uma publicidade mais perversa ainda).
E na minha sempre humilde opinião, há dois outros grandes entraves atuais:
A situação social: ler é caro (mas não impossível), seja no livro, na internet ou no e-book.
E a cabeça hiper-estimulada do jovem: a concorrência é muito grande com muita coisa (além da própria internet – que contém leitura – videogames, TV, jogos no computador, Ipads, Iphones, etc.). Não sei se você já tentou: é muito duro ler qualquer livro num Ipad quando você sabe que tem todo um universo muito mais “móvel”, mais “animado”, mais colorido, mais explícito com um mero deslize do dedo médio.

20 de março de 2012

Nas Cabeças

Mães de crianças com cólicas têm 2,5 vezes mais probabilidade de terem enxaqueca.
E o que tem a ver o fiofó com as calças?
É difícil de afirmar, mas a sugestão é a seguinte:
Enxaqueca exibe forte tendência familiar.
Enxaqueca vem como “do nada” incomodar seus portadores por algumas horas ou dias, e depois costuma melhorar.
Enxaquecosos são muito susceptíveis ao ambiente: barulhos, luminosidades excessivas, alterações importantes na rotina.
A idéia, então, é de que as crises intensas de choro de algumas crianças (justamente aquelas mais difíceis de se suportar nos primeiros meses) possa fazer parte do espectro do que tem se chamado “crises periódicas da infância” – terminando por desembocar nas enxaquecas da idade adulta (ou mesmo já na infância).
Acho bem plausível (já que – como estamos cansados de argumentar – a história da cólica é muito mal explicada por qualquer tipo de “dor na barriguinha” ou coisa do tipo).

A propósito, aquele remedinho sem vergonha do laboratório Bristol, o Luftal (eu prefiro “Lu, a fatal”!) cria agora em comerciais para a televisão outra indicação preciosa para sua inocuidade: os borborigmos!
Borborigmos, para quem não sabe, são aqueles barulhos desagradáveis que avisam que nossos intestinos estão funcionando – na hora em que não deveriam avisar!
Claro que não adianta.
Mas aqui vão os truques para o casal de namorados:
1) coma pouco
2) evite alimentos que fermentam demais, como maçãs ou feijão
3) ponha o som no volume “borborigmo” (na maioria é acima de 3 risquinhos)
E, se tudo isso falhar, ponha a culpa no (a) parceiro (a).

16 de março de 2012

Queime Depois de Ler

Meu amigo, minha amiga, vou revelar um segredo meio perigoso que você, leigo em medicina, pode não ter muita noção, e que provavelmente vai assustar:
Dose de medicação.
Há muita (vamos lá de novo, muuiita!) variável envolvida em como sua medicação vai agir no seu organismo – desde marca do remédio, temperatura (sua ou externa), idade, estado de hidratação, saúde ou doença, tipo de doença, associação de medicações, associação com alimentos, e por aí vai (acredite, essa é apenas a ponta do iceberg das variáveis envolvidas!)...
E aí você sinceramente acha que algum médico (médico é aquele sujeito que por ter passado por 6 anos de faculdade acha inocentemente que sabe tudo sobre o corpo humano e suas relações com o mundo – ou seja, um enfermeiro de Deus, por assim dizer) saberá (ou mais exatamente, na maioria dos casos, se lixará em) levar em conta todos esses fatores na hora de decidir se é 1 vírgula 5 ou 2 vírgula vinte cinco miligramas na hora de preencher a duodécima receita do seu (dele) dia?
O que quero dizer com isso tudo?
Saia correndo e nunca mais volte em algum consultório na sua vida?
Não (sem radicalismos!).
Primeiro: perca sua inocência (tá mais do que na hora! Afinal, você já tem o que?, uns... anos!)
Segundo: se aquele sujeito (o tal enfermeiro de Deus), que supostamente deveria acertar sua prescrição, já tem tanta chance de errar (e acredite, muitos estão esforçadamente tentando acertar), imagina você (ou sua vizinha de cerca, ou o balconista da farmácia, ou sei-lá-quem-mais)...
Terceiro, e aí meu argumento mais esperado: tá vendo? Quem manda gostar tanto de remédio (ou, por extensão, de médico)?
Não é – pensando em tudo isso – melhor investir numa vidinha mais saudável, não esperando que alguma embalagem de minissaia vermelha vá nos consertar dos pés à cabeça?
Ah, então vou usar uma plantinhas!
Ei, volte aqui! Então você não aprendeu nada?

13 de março de 2012

Agulha ou Bala de Canhão?

Teoricamente todo processo febril da criança pode terminar no uso do antibiótico.
E aí, quando isso acontece, fica difícil fazer o julgamento retrospectivo: seu uso foi realmente necessário?
Com alguma freqüência a resposta será negativa. Em situações em que a febre durou muito pouco (em termos de tempo e/ou de intensidade) a partir da introdução do antibiótico, por exemplo, ainda que hajam bactérias muito sensíveis ao antibiótico utilizado (aquelas que morrem apenas com o seu cheiro, como se costuma dizer).
Outra situação muito comum é a sintomatologia prévia ao uso, como no caso de crianças com pouca ou até nenhuma febre (parece absurdo? cansamos de ver diagnóstico de infecções bacterianas em que nem febre houve!).
Para alguns pais, isso pouco importa. Importa é resolver a situação do momento e parar de se preocupar!
Bão se sesse! - como diz o caipira.
A noção de poupança (como em quase tudo na vida, inclusive em processos biológicos) não pode ser desprezada. Resolvo o problema daqui, crio um maior ali adiante.
Bactérias são, como sabemos, sábias plagiadoras do milagre da transformação da água em vinho, no sentido inverso: aprendem a driblar seus inimigos químicos com facilidade inigualável no reino... (o que mesmo? animal? vegetal? monera? procarionte? – deixa prá lá!).
Então.
Usar pouco, pelo menor tempo possível, e levando em consideração o tamanho do inimigo a ser combatido (fatores determinados pelo médico, mas nos quais você, com seus conhecimentos, pode dar uma “pitacada”, OK?).

9 de março de 2012

Come, Senão Vou Te Patê!

Uma doença que até hoje ainda não foi catalogada (como se precisássemos de mais doenças para catalogar) – até porque não é exatamente uma doeença - é a “tentativa de foie gras infantil”.
Foie gras, você sabe, é aquele patê assassino preparado com o fígado dum pobre ganso, obrigado a digerir uma quantidade colossal de alimento, o que causa sua doença hepática para nosso delicioso repasto.
Então. Muitos pais de crianças magrinhas (tadinhas!), mas com disponibilidade de alimentos, tentam burlar seus apetites (ou a falta deles) literalmente tascando comida goelinha abaixo!
Resultado: queixas freqüentes de dor abdominal, vômitos ocasionais e consultas pediátricas de pais insuspeitos, preocupados com alguma real doença, demandando que se façam exames.
E ainda mais curioso: muitas vezes há a preocupação com algum irmão obeso, que come demais!

6 de março de 2012

Os Louros do Empate

Sabe aquela coisa de botar dez crianças para competir e dar medalhas para todas, da primeira à décima, todas com igual valor?
A estratégia de dar méritos a todos, para que não se baixe a auto-estima de ninguém pode estar criando “monstrinhos inúteis”, segundo artigo do neurocientista David Rock no site Psychology Today.
Nenhum pai ou mãe atual suporta muito uma frase atravessada do tipo “você pode fazer melhor, se esforçar-se mais”.
Mas a atitude que o autor do artigo chama de “pais helicópteros”, que ficam sempre sobrevoando a cabecinha de seus filhos para que nada de errado ocorra com eles, pode ser muito prejudicial, pois não dá chance às crianças de vivenciarem a experiência enriquecedora de conseguirem algo por mérito próprio (experiência que a neurociência tem chamado de “obtenção de um maior status”, ou seja, de se perceber melhor que os outros, ou mesmo do que seu “eu anterior”).
“Seres humanos são programados para obterem melhor status”, diz Rock, “vemos isso na sociedade o tempo todo, como quando, por exemplo, esperamos horas na fila para obtermos um autógrafo de um livro que nem vamos ler”. “E não é o elogio fácil, mas a percepção de que se conseguiu realizar algo difícil – não acessível a todos – é que faz com que nos percebamos melhores e capazes, inclusive no nível dos circuitos cerebrais de recompensa”.
Não se trata de detonar o incapaz. O "x" da questão é buscar desafios naquilo que cada um pode fazer de bom.

2 de março de 2012

Pacotaço

Em certos assuntos da saúde infantil, às vezes temos que falar mais claramente.
Quando nossos pequenos pacientes vêm aparecendo com depósitos de gordura espalhados pelo corpo (“pneuzinhos”, ainda que alguns sejam verdadeiros Michelins) deveríamos cumprimentar pais (e sociedade) dizendo:
“Parabéns, vocês acabam de ganhar um novo órgão!”
Mais ou menos como ter ganho um novo pâncreas, apenas que no caso do pâncreas, um órgão endócrino que joga a favor do organismo.
Os depósitos gordurosos não têm “cara” de órgão. Não têm cara de pâncreas, de supra-renal ou de tireóide.
Mas são!
Produzem hormônios, proporcionais ao seu volume. Hormônios que jogam contra o organismo, tendendo a perpetuar o excesso de peso, dificultando a ação da insulina (o que se chama de resistência insulínica, prévia do aparecimento da diabete tipo 2, com todas suas conseqüências), aumentando inclusive os níveis de hormônios causadores da fome (ou diminuição da saciedade).
Encaremos a pança de forma diferente (principalmente para aqueles que já foram mais magros, os gordinhos “não genéticos”). Cortemos esse excesso de bobagens que a sociedade de consumo entulha nossas crianças e adolescentes. E mexamo-nos. Não fiquemos com “peninha” (ah, é só um suquinho... ah, é só mais um danoninho!..., tadinho!).
Não há nada mais tadinho do que termos que iniciar tratamento insulínico para toda uma vida em crianças que por culpa da sociedade onde não escolheram para viver se tornam diabéticas!