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31 de janeiro de 2017

Vi de Um Game


Deu nos jornais do fim de semana.
O sujeito, ao se deparar com uma cratera enorme (maior do que a extensão de um carro) no asfalto no estado de São Paulo, tomou uma decisão: acelerou com a intenção de "voar" por cima do buraco.
Resultado, claro, desastroso. Não poderia ser diferente. Fraturas múltiplas, perda do carro. E agradecido por continuar vivo.
Não conheço o motorista, mas quem toma uma decisão do tipo, contrariando o mínimo bom senso, mas principalmente as leis da física?
Podem perguntar: viu em algum(s) filminho(s) de ação, onde esse vôo é fichinha pro ator!
Nem mesmo o ator voou de verdade. Foi seu dublê, bem pago pra correr risco de morrer com cabos, acolchoados, estudos complexos da cena. Ou então, num game de carrinhos maluquinhos.
Não explicaram para o rapaz (imagino - e espero! - que seja ao menos um rapaz, pois um senhor maduro pensaria mais de uma vez).
E aí me vem o paralelo de alguns acidentes com animais envolvendo (quase sempre) crianças.
A pobrezinha assiste, por exemplo, ao Madagascar, e pensa que zebras são animadas e falam, que leões são legais e falam, que hipopótamos são românticos e... falam.
Aí, um belo dia de visita a um jardim zoológico, põe a mãozinha na jaula do bicho. Ou entra dentro dela (ou, mais especificamente, na área restrita ao animal que recria o ambiente dele)!
Quem é mais sem noção? Quem é mais perdido? O "rapaz" em questão (o do buraco), a criança ou os pais da criança? 
Da criança tomo a defesa eu, pois crianças são sem noção, mesmo. É parte do universo delas. Cabe a quem cuida não deixar acontecer. 
Agora... um suposto adulto supostamente habilitado, supostamente com suas faculdades mentais intactas (existe um psicotécnico?) se jogar no buraco sem intenção real de suicídio preocupa. Preocupa toda uma sociedade.

27 de janeiro de 2017

Velho Índio Sentado





Me espanto repetitivamente com a capacidade que têm os mercados de dirigirem nossas ações em todos os âmbitos de nossas vidas.
É a coisa do "eu penso que decido" sobre qualquer coisa, mas quem decide é o mercado, e não eu.
Essa estratégia é tão eficaz, mas tão eficaz, que ela se perde nela mesma.
Um grande exemplo foi o que aconteceu com a indústria automobilística norte-americana. 
Na hora que "o mundo" decidiu que o legal eram os carros da indústria japonesa, os próprios americanos fizeram o mesmo. Começaram a comprar carros que destruíram sua própria indústria, sua própria economia! Hoje o que se vê em ruas americanas não é um esforço patriótico de consumo dos seus próprios produtos, tentando salvaguardar o seu mercado. Não. É o "F...!". Eu quero aquele, e dane-se o resto. 
Por que falo isso?
Porque tenho dito e repetido que na questão medicamentosa é exatamente a mesma coisa:
O "mundo" decide o que é melhor pra você, o que você deve tomar e o que não deve. 
Medicamentos excelentes (na difícil combinação preço x segurança x eficácia) foram e têm sido retirados do mercado. Medicamentos horrorosos (na mesma combinação, seja pelos altos preços, seja pela insegurança nos efeitos de longo prazo, por exemplo) são propagados como "a nova maravilha". E a turma cai (quando digo "a turma", digo médicos, pacientes, mídia, etc)!
Alguém sempre lucra muito com essas mudanças de horizontes.
Mas muita, muita gente sai perdendo.

E adianta pouco espernear. Só fazemos isso por hábito. Como o daquele velho índio sentado na beira do asfalto, lamentando o fim da sua civilização.

24 de janeiro de 2017

Big Músculos


Quando a gente vai ficando "carregado de anos" vai percebendo tristemente que, dentre outras perdas, perde também massa e força muscular.
Inevitável. Não há academia ou suplemento no mundo que mude essa realidade, por mais que se tente.
O que não é inevitável mas tem sido visto na geração atual de jovens e crianças é algo trágico comparado com a senescência muscular do idoso.
Crianças "paradonas", caseiras (seja por que motivo for) não desenvolvem os músculos na "hora certa", na hora em que deveriam desenvolver. Essa atrofia precoce terá consequências para toda a vida e desde cedo, mas agravará e muito as incapacidades próprias da velhice.
Além da movimentação, da utilização, músculos precisam de nutrição adequada para se desenvolverem. Biscoitinhos, docinhos, "chips", batata frita e refrigerantes nutrem os músculos de forma superficial (não os "constróem", apenas geram combustível de má qualidade para seu funcionamento). 
Além disso, os próprios músculos "subdesenvolvidos" teriam que ter uma importante função metabólica (ciclo virtuoso muscular) de aproveitamento da glicose ingerida (por exemplo, da grande maioria das porcarias citadas acima). Flácidos, pouco funcionantes, não captam a glicose circulante, que irá se converter em gordura, gerando ainda mais desequilíbrio.
Precisamos divulgar esse conhecimento.

E precisamos tentar combater com mais afinco esses junk foods.

20 de janeiro de 2017

Em Nome da Fome


Em muitas ocasiões tenho vontade de perguntar às mães:
"O que é fome?"
Mas fico com um pouco de receio de ouvir um:
"Ai, lá vem você com uma daquelas charadinhas!"
Então me calo.
Mas por que isso?
Porque pais têm (e aí é: sempre tiveram) a mania de mandar na fome dos seus filhos! Eles é que querem decidir quando, como, quanto e o que seus filhos devem comer.
Só que... a fome não é deles (a se pensar bem, nem os próprios filhos são, mas aí é uma questão filosófica que vou me privar no momento...)! 
Então: assim como um gosta de novela e o outro gosta de filme de terror, um gosta de sertaneja e o outro de música clássica, um... (você entendeu, né?), assim também nos apetites da mesa os gostos são extremamente variáveis! 
Tem gente que põe amendoim encrustrado na banana, como uma jóia preciosa tropical. Tem outro que não pode nem olhar pra cara do camarão que já tem ânsia. Um outro que só come feijão se for gelado. Outro ainda... Vou parar porque você pode estar de estômago cheio, e posso causar sintomas indesejados...
São todos seres humanos. Com hábitos muitos distintos. Imagino que os coalas só se alimentem dos seus deliciosos eucaliptos, mas nós não!
Mas a questão mais angustiante da fome é quantitativa: uns tem muita, outros muito pouca, naturalmente. 
E se a mãe é uma glutona (e note que pode não ter sido assim a vida inteira), muitas vezes vai querer que seu filho a acompanhe. Curiosamente, a raiz psicológica do fenômeno pode ser até um "estou gorda, você vai me acompanhar, como não?" (mas quem vai ter a coragem de dizer isso pra ela?). Inversamente, pode tentar fazer com que seu filho coma muito pouco "para que não fique como ela", o que também é perigoso.
Resumindo: fome (só pra lembrar) é aquela sensaçãozinha que vai do levemente desagradável ao desesperador, que nos avisa que está na hora de repor o combustível. É isso que deveria regular nosso comportamento alimentar. Não deve ser "dos outros". Não deveria ser tão influenciada pela presença, visão, facilidade de obtenção do alimento, principalmente na tenra idade. Não deveria ser 
mandada pela mídia, pela troca por um brinquedo...

Mas deve ser basicamente respeitada.

17 de janeiro de 2017

Geração "?"


Qual a receita para que os jovens - principalmente os jovens da periferia - não "se percam", não sejam vítimas fáceis das drogas, da violência, da miséria?
Todo mundo sabe que não há receita. Assim como todo mundo que presta atenção à sua volta vê que os índices ruins em relação aos jovens periféricos nunca param de crescer.
Roberto Saviano, jornalista italiano premiado e corajoso, comentou numa entrevista a um programa na TV Rai a respeito, que deveríamos tentar, a despeito da noção generalizada contrária, mostrar ao jovem que suas conquistas dependerão de real esforço, de que as ações para suceder na vida são complexas, e não simples, "fáceis", e que (também diferente do que se quer fazer crer) não há um "complô das elites" jogando contra suas realizações pessoais e profissionais.


Isso tudo depende de dois sérios fatores que estão rareando: educadores e pais. Pais que dêem sobretudo exemplo, mas que não alimentem o "você acima de tudo", a ação egoísta, a noção de que "ninguém faz nada por você, então se vingue", que é uma visão que vem crescendo com a marginalização das antigas classes médias, com os políticos populistas, com a deseducação, com a confusão das mensagens do "capital acima de tudo" contra o da "socialização da desgraça".

13 de janeiro de 2017

Enxuto


Não é uma decisão de Ano Novo.
É economia. De tempo e de incômodos.
Durante todo o ano de 2017 não vou assistir a um jornal televisivo, nem vou ler nenhuma notícia na internet.
No final do ano assisto, com todo interesse, a "Retrospectiva".
Sim, porque o que não for incluído na retrospectiva não chegou a ter maior importância. 
Gasto duas horas, economizo umas duzentas.
Exceto fofocas. Dessas, não abro mão. Não vou conseguir me segurar pra saber se a Angelina casou de novo, ou se o Brad se suicidou. Ou se as coxas da Anitta tem celulite de verdade. Isso é coisa importante! Não dá pra deixar pra depois, estar assim tão desinformado! Isso mexe com a vida de todos nós, diga que não!

(Dia desses o pessoal do Manratan Conéquixião - aquele programa do Globonews do domingo à noite, sabe? - disse que pra geração dos de menos de trinta quem não está no Youtube não existe, que ninguém lê nem vê nada que não seja imediato e "youtubado"... Ou seja, eu e você que está me lendo não mais existimos! Fui!)

10 de janeiro de 2017

Bookaholic


"Por que o senhor acha que a leitura é tão importante?"
"Porque a leitura nos mostra quantas pessoas inteligentes existem no mundo. Porque nos dá a exata medida de nossa própria burrice."
"Então o senhor se acha burro?"
"Toda medida é comparativa. Sou alto para um peruano, mas sou de altura mediana para um escandinavo. Posso, às vezes, me achar muito inteligente. Aí, pego um livro. Claro que não me situo somente dessa forma. Ao ver um quadro de Velásquez. Ou Rafael. Ao admirar as formas arquitetônicas de algum edifício ou ponte. Ao utilizar um avião, um tablet, um ar condicionado ou até mesmo um isqueiro, vou dando conta de quão mesquinha é minha pretensão à mínima inteligência."
"Mas isso tudo, quero dizer, essa contemplação das capacidades alheias, não o faz sentir diminuído demais, humilhado, deprimido..."
"... Burro?"
"Não fui eu que disse!..."
"Mas é justamente isso. Preciso, devo me sentir assim. Pelo menos levemente burro! É o que me faz melhorar. Pelo menos até o limite das minhas capacidades. Deprimido ou não, humilhado ou não, pouco importa. Diminuído? Quem sabe? Se é esse o preço a se pagar..."
"Todos os que lêem sentem-se assim?"
"Não sei. Só posso imaginar. Conjecturar. E imagino que são muitos os que, como eu, nutrem-se da sensação da ignorância para salivarem por algum novo conhecimento, mínimo que seja."
"Tem muita gente que passa uma vida inteira sem ler um livro..."
"Tem. Os que admiram, invejam ou servem aos que lêem mais do que eles."
"Mas não tem muita bobagem sendo escrita?"
"Também tem. Mas se você está morrendo de fome e come a casca de uma árvore ou mesmo capim não consegue ainda assim retirar algum mínimo nutriente?"
"É triste, imagino, sentir essa constante ânsia, essa falta, essa perpétua carência de algo que o complete..."
"Triste, mas perfeitamente de acordo com o caráter humano. Uma pedra, ainda que nunca a tenha entrevistado, conforma-se com a condição de pedra. Da mesma forma a paca, a anta, a lhama, o bezerro. Nutridos, longe dos seus inimigos naturais e perto de seus semelhantes, vivem em paz. Não, espera! O que estou dizendo? Também eles, animais, têm sede de aprender. Também buscam descobrir o que há embaixo da conformada pedra, ou como atravessar um rio ou a melhor maneira de quebrar uma noz."
"Só não vão aos livros".
"Boa. Não vão aos livros. Passam a vida inteira testando com a prática individual - ou mesmo coletiva - algo que poderiam herdar de maneira fácil se fossem letrados, se se comunicassem de maneira mais efetiva, se dominassem os códigos. Não recomeçariam quase do zero a cada nova geração."
"Essencial, então, ao ser humano, os livros?"
"Se não quiserem deixar de sê-lo. Se não almejam a uma outra raça. Sub-raça. Sub no sentido de inferior, de incompleta, de pacificamente (mas mais provavelmente selvagemente) estreita."
"Mas os animais não são mesmo mais felizes, na sua ignorância?"

"Menos estressados, certamente. Menos ansiosos, em muitas situações. Mais felizes? Não sei. Pergunte você a eles. Eu até hoje não obtive qualquer resposta. Mas se você a obtiver, por favor, ponha num livro!"

6 de janeiro de 2017

Sabores da Infância


Não sei se foi uma miragem auditiva (uma "ouviragem") mas, ao deitar numa dessas tardes preguiçosas de verão intenso, ouvi ao longe, já às margens do rio Morfeu, um apito, o delicioso apito do vendedor de picolés da minha infância. Pensei: "Agora vou de vez!", sorridente. 
Que nada! Logo vêm à cabeça os ipês para, hoje em dia, nos atrapalhar o sono: IPTU, IPVA, IPTcétera. 
Não funcionam mais, os apitos de outrora. O mesmo delicioso som já não faz mais efeito, pois os ouvidos mudaram. 
Som prazeiroso como esse só a da monótona e metódica cigarra, que embalavam os sonos da criança feliz na moleza das tardes estivais.
Também não as ouço mais. Foram cantar em outra freguesia. Mas imagino que também não fariam o mesmo efeito.
Mudando o órgão do sentido, mas tentando recuperar - não sei por que - as emoções da infância, dia desses me atraquei (cuidando para que ninguém me visse) a uma daquelas caixas de sorvete seco que se encontram em supermercados de atacado. Deliciosos, não é? Só fiquei na dúvida entre ele e os suspirões coloridos.
Eca! Não têm mais o sabor de antigamente. Puro e sem vergonha açúcar mas, também, o que é que eu esperava? A doçura estava no contexto, no entorno, e até mesmo na proibição de comer aquelas maravilhosas "porcarias". Agora? Agora eu posso! Coisa mais sem graça!
Não que a memória traia. Ela apenas embeleza a experiência que pode não ter sido tão bela assim. Que fique tudo lá, até que ela também se apague, como o gosto doce da infância.