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6 de janeiro de 2017

Sabores da Infância


Não sei se foi uma miragem auditiva (uma "ouviragem") mas, ao deitar numa dessas tardes preguiçosas de verão intenso, ouvi ao longe, já às margens do rio Morfeu, um apito, o delicioso apito do vendedor de picolés da minha infância. Pensei: "Agora vou de vez!", sorridente. 
Que nada! Logo vêm à cabeça os ipês para, hoje em dia, nos atrapalhar o sono: IPTU, IPVA, IPTcétera. 
Não funcionam mais, os apitos de outrora. O mesmo delicioso som já não faz mais efeito, pois os ouvidos mudaram. 
Som prazeiroso como esse só a da monótona e metódica cigarra, que embalavam os sonos da criança feliz na moleza das tardes estivais.
Também não as ouço mais. Foram cantar em outra freguesia. Mas imagino que também não fariam o mesmo efeito.
Mudando o órgão do sentido, mas tentando recuperar - não sei por que - as emoções da infância, dia desses me atraquei (cuidando para que ninguém me visse) a uma daquelas caixas de sorvete seco que se encontram em supermercados de atacado. Deliciosos, não é? Só fiquei na dúvida entre ele e os suspirões coloridos.
Eca! Não têm mais o sabor de antigamente. Puro e sem vergonha açúcar mas, também, o que é que eu esperava? A doçura estava no contexto, no entorno, e até mesmo na proibição de comer aquelas maravilhosas "porcarias". Agora? Agora eu posso! Coisa mais sem graça!
Não que a memória traia. Ela apenas embeleza a experiência que pode não ter sido tão bela assim. Que fique tudo lá, até que ela também se apague, como o gosto doce da infância.