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28 de junho de 2016

Face a Face


Por que o Facebook faz tanto sucesso?
Por que, após já tantos anos, não se consegue criar algo que rivalize com ele (a não ser, agora, em certa medida, o Whatsapp) - e não é por falta de tentativas, visto que o potencial de lucro é bilionário?
Provavelmente não por "aproximar pessoas", que foi - e continua sendo - o motivo anunciado. Anunciado e mantido porque na aparência mais nobre do que nossos reais motivos, motivos mais humanos, mais "pé no chão", mais instintivos, necessários mesmo.
Além da mais evidente curiosidade sobre a vida dos outros (de quase todos os outros), para que eu possa saber como vivem, e aí me comparar nas minha maneira de levar a minha vida, de sonhar, de tentar imitar (o Face é uma enorme imitação de "estilos", que sobrepassou a realidade da própria moda das ruas), de até mesmo invejar, de invejar com todas as forças, de até mesmo odiar, de exercitar o ódio por aquele outro da maneira mais sorrateira, que é a maneira solitária, escondida, "vitoriosa" (porque o outro - aparentemente - não sabe que está sendo invejado, odiado, etc. por aquelas pessoas), na verdade o Face (assim como ultimamente o Whatsapp em certa medida) é uma grande, uma enorme terapia de grupo. Uma terapia de grupo quase universal.
Me expondo ali - ou expondo o que eu acho que devo expor - vou dizendo aos outros como eu sou (ou mais propriamente, como eu acho que sou, ou ainda, como acho que devo me mostrar aos outros, o que, em numa certa medida, "atrapalha - mas não anula - o benefício terapêutico", visto que camufla o verdadeiro eu). 
E aí (outra sacada do Face, essa mais intencional), com os "curtires" (plural de "curtir") e comentários, temos a grande sensação do pertencer (e mais ainda, de estarmos sendo amados - esqueçamos o invejados, odiados! - pelos outros). Trocamos curtidas, para nos sentirmos também curtidos. 

Vazio, como todos sabem. Não nos faz melhores, não é novidade. Mas não sabemos mais como sair dele.

24 de junho de 2016

Veja Seu Filho Pelado (Pelo Menos de Vez em Quando)




Continuando o assunto da postagem anterior...
Apenas ao final da segunda guerra mundial é que se criou tabelas para se comparar o desenvolvimento de crianças quanto ao aparecimento de características puberais, em direção ao mundo adulto (morfologicamente falando, ou seja, nas características físicas).
A partir daquela época, muita coisa já mudou. O início do desenvolvimento das meninas, por exemplo, de lá para cá, diminuiu cerca de 1 ano como média (hoje meninas que apresentam primeiros brotos mamários aos 8 anos - ou até menos - podem ser consideradas como normais). Várias são as hipóteses pra isso: mudanças na alimentação, menos stress, menos doenças na infância, "erotização" da infância, perturbadores endócrinos, etc.
A avaliação física completa (incluindo genitais), portanto, se mostra importantíssima. 
Nos casos relatados anteriormente (pudor, medos, pouca intimidade com o paciente, etc.) um substituto para o exame propriamente dito pode ser perguntar para os pais (mostrando a tabela de Tanner, a referência visual para os sinais físicos da puberdade) em qual desenho os filhos se "encaixam" (um estudo americano recente mostra que "vale, mas não vale"!)
Ocorre que (pra nossa grande surpresa) muitos pais olham para seus filhos meio desconcertados e re-perguntam eles mesmos para eles: "qual desses, filho (a)?"
Nunca vêem seus filhos pelados!
Respeito à sua privacidade? Vá lá. 
Mas alguma noção de como estão seus filhos, também no aspecto físico (maturacional) me parece importante. Uma olhadinha ou outra, pelo menos enquanto "não se mandam", faz parte da atenção devida dos pais em relação aos filhos, nem que seja para se ter ideia de que está tudo bem. 

21 de junho de 2016

Umbigo Pra Baixo


Li o título em algum blog médico recente:
"Por que a maioria dos exames médicos para na altura do umbigo?"
Não li a matéria. Mas fiquei pensando.
No caso do exame infantil, há algumas peculiaridades nesse sentido.
Bebês não mandam em nada (coitados!): pelados todos, sem exceção.
A partir de uma certa idade, entram em cena os tabus, vergonhas, constrangimentos, etc. 
Aí, temos que ter precauções. 
Muitas crianças já pequenas odeiam que se examine seus genitais. Pelos mais variados motivos. Um prosaico é o raciocínio: "me baixam as calças, lá vem agulha!" Mas muitas vezes o pudor já está arraigado nas suas cabecinhas. Temos que respeitar. Eu, muitas vezes, abro mão, quando não me parece essencial, pois já temos que barganhar outros pontos para não perder a amizade do pequeno paciente (como usar um palito para ver a garganta, por exemplo).
Já passei pela situação embaraçosa de, após ter examinado genitais despreocupadamente de uma menina de cerca de 7-8 anos, essa ter descido chutando cadeiras de "revolta"! (acho que não a preparei o suficiente...).
Em muitas situações, explicamos para os pais os motivos de precisar fazê-lo ou da não necessidade de fazê-lo. E curiosamente, muitas vezes são os próprios pais a se mostrarem constrangidos com o exame dos genitais ou região anal dos filhos. Também cada qual com seus motivos. 
Claro que em toda essa discussão também se escondem preocupações com condutas mal intencionadas por parte de médicos amplamente divulgadas na imprensa quando estes atos são suspeitados ou descobertos, o que contribui para um certo mal estar de todos os outros (que passam a ser sempre "possíveis suspeitos").

17 de junho de 2016

Evitando Tudo


O que é tragicamente engraçado quando se trata de prevenção em saúde?
É que são muitíssimas as medidas preventivas, quando se engloba a saúde como um todo. Óbvio. A gente lê e ouve isso toda hora.
O trágico é que a gente quase nunca sabe o que nos espera (com as raras exceções de certas doenças genéticas ou de males "já iniciados").
E aí, você ficou o tempo todo se preocupando em tomar o seu chimarrão frio (porque qualquer bebida
estupidamente quente é um fator reconhecido predisponente ao câncer de esôfago) e você é um abençoado genético que só teria câncer de esôfago aos... 377 anos!
Ou então você desde muito cedo se privou dos prazeres da mesa com receio da sua história familiar de diabete - sendo que você apresentava uma genética diversa - o que não aconteceu na área sexual, onde pagou um preço altíssimo por ter se infectado com um mero HPV.
Não há ainda como se traçar um mapa das nossas vulnerabilidades, atuais e muito menos futuras. E eu imagino a conversa dos seres humanos já tão angustiados com suas atuais ou futuras doenças se soubessem no que teriam que focar para morrerem aos... 377 anos (aí, sim, de velhice!):
"Não como nada que contenha corante amarelo. Posso desenvolver uma alergia a qualquer momento!".
"Eu fujo das gorduras: futura colecistite".
"Eu só uso essas pantufas o dia inteiro, pois terei uma artrite aos 60 anos, mais ou menos. Já vou poupando meus pezinhos".
"Eu ficarei surdo, por isso peço que fale mais baixo".
"Falaria, se não fosse um fumante passivo com forte propensão ao câncer de laringe. Por isso, me calo".
Loucura?
Espere mais alguns anos...

14 de junho de 2016

Velho Modismo


Não importa o que se pense, não importa o que se diga, não há motivos válidos pra se usar medicações ditas anti-inflamatórios em crianças. Quase nunca. Talvez com únicas exceções de dores de causa ortopédica - e ainda assim, por menor período possível.


Assim como o botar o bracinho pra fora da janela do carro já foi um "modismo" (muito burrinho, e de uma época de trânsito mais inocente) que foi desaparecendo pela educação, pela percepção dos riscos , e porque foi se transformando em algo (vamos dizer assim) "jacú", mas que com o passar do tempo foi voltando a acontecer nas gerações mais novas (que vão ter que reaprender que é arriscado, além de sinal de jacuzice), no caso dos anti-inflamatórios as novas gerações terão que reaprender que fazem mais mal do que bem, que não têm capacidade de influir de forma importante na evolução de inflamações de causa viral (faringites, otites, sinusites, etc., para as quais têm sido novamente - mal - pensados), que nos casos de infecções bacterianas muito menos (pois aí são os antibióticos que fazem o efeito anti-inflamatório, e não os próprios), que têm uma gama muito grande de efeitos colaterais, alguns dos quais pouco aparentes até que se tornem grandes problemas (algumas vezes mesmo em usos de muito curto prazo), que seu uso é fruto de um raciocínio muito básico - mas errôneo - de que "onde há inflamação, necessita-se de um... anti-inflamatório!" (de novo, óbvio!.. e errado, visto que o tempo é o melhor remédio - e o mais natural, e o isento de efeitos colaterais, e o que permite ao órgão inflamado de se auto-reorganizar, enquanto se usa o mais benigno analgésico para a dor).

10 de junho de 2016

Bobagem Exponencial


Não deveria ser surpresa, mas fiquei estagnado (esses corretores ortográficos!..) estarrecido com uma conversa whatsappiana entre mamães de filhos pequenos que me foi mostrada por uma conhecida a respeito de "sugestões para as cólicas do seu bebê".
Gentem! É um circo de horrores o nível de desinformação que rola por aí!
Claro! Sempre houve a chamada "conversa de comadre" nas questões de saúde, ou a "comadreterapia" (existe o termo?). E nem tudo é problema. A gente sempre pode se utilizar de uma ou outra dica de amigos ou vizinhos, mesmo na saúde (até um certo limite), por que não?
O que as redes sociais (e principalmente o Whats) estão fazendo mais recentemente é potencializar as bobagens.
É dica de tudo quanto é tipo. É besteira de todas as cores, credos e nacionalidades. É argumentação (com a chancela de telefone sem fio de consultas médicas, sites, blogs e comerciais) a dar com o pau. Assustador. Mesmo.
Mais assustador, no entanto, é imaginar os resultados nas vítimas de tanto besteirol do outro lado da linha.
Criancinhas, por exemplo, que não têm culpa por suas mamães viverem em tempos de alta tecnologia e pouca reflexão.
(Alguém ficou curioso com o que eu li lá? Fiquem! - Que maldade!...)

Por falar em Whatsapp, tem gente mais sem noção que pessoas que deixam aquele fifififiu de quem recebeu mensagem ligado e em volume alto?

7 de junho de 2016

Temporizando


Quando Freud conheceu a cocaína (uma substância até então muito pouco conhecida no mundo todo), imaginou se tratar de uma possível solução terapêutica pra quase tudo, principalmente para os "males da alma". Chegou a provar em si mesmo, e inicialmente a achou maravilhosa.
Com as decepções subsequentes - inclusive com a perda de pacientes e amigos para a "droga milagrosa" - Freud, um pesquisador obstinado, ao invés de se dar por vencido, seguiu por outro caminho, esse mais difícil, mais complexo, e também não isento de efeitos colaterais. Caminho do qual ele foi "pai": a psicanálise.
Com ela, também se poderia tentar curar as depressões, manias, neuroses, psicoses, e mesmo as doenças do corpo, de natureza psicológica em muitos casos. 
Não foi bem o que aconteceu. O resultado dessa "nova terapia" é mais ou menos conhecido por nós todos. Também aqui, o que houve não chegou a ser uma solução, mas um desafogo, uma tentativa de se chegar mais perto da compreensão da imensa barafunda emocional na qual estamos mergulhados.
A lição a se tirar da história é que não há mesmo drogas (ou mesmo terapias) milagrosas de qualquer natureza, em qualquer área. E, principalmente, não há drogas (medicamentos) nas quais não apareçam efeitos colaterais, cedo ou tarde. 
Propostas terapêuticas atuais precisam do tempo para se firmar, para caírem em descrédito ou para se estabelecerem no meio termo, como apenas mais uma opção (muitas vezes mais uma dentre tantas ruins ou apenas razoáveis).

3 de junho de 2016

Esculhambose


Sempre se usou certos diagnósticos médicos em vão
Mas talvez não tanto quanto agora. Sei lá.
A culpa só pode ser da universalização da informação e da internet, onde cada um pode ser seu próprio médico. Só que não. 
Houve uma época (dizem!) em que boa parte da humanidade era esquizofrênica. Aquela coisa do "Que tanto você fala disso,tá esquizofrênico, é?". 
Outra que eu já me lembro era o do raquítico. Eu, por exemplo, magro como um louva-Deus durante toda minha infância, era um "raquítico". Nada a ver com a vitamina D. Mas era!
A tosse comprida, enquanto existiu como doença frequente na infância, frequentava a boca de todas as vovós. Ninguém podia tossir, que as velhinhas já emcompridavam a tosse pra caberem nos seus diagnósticos.
Agora, falando de hoje, deste exato momento, milhares de crianças (e mesmo adultos) estão recebendo seus diagnósticos de intolerantes à lactose. Basta um punzinho meio atravessado e cria-se um drama.
Hiperatividade: crianças que não chegam quietas e saem paralisadas são hiperativas. Diagnóstico principalmente da alçada de professores, do jardim à universidade.
Há 27 anos não vejo um sarampo. Mas mensalmente atendo crianças que devem estar com ele. Interessante como o estigma demora a se resolver na sociedade.
Pneumonia, infecção no intestino, cólica, bipolaridade, rinite, fimose. São outros dos vários diagnósticos auto-dados. E com certificado googliano de qualidade. Difíceis de confutar. 
Um antigo professor costumava dar um diagnóstico, esculhambose - ou algo parecido - ao seus pacientes saudáveis, ansiosos por possuírem "alguma coisa". A internet o teria desmascarado...