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31 de julho de 2015

Zapzapeando


Pra mim, é um aliado (ainda?).
O smartphone, e agora mais especificamente o Whatsapp (Zapzap, pros íntimos da lingua inglesa!), ajuda muito no tirar dúvidas dos pacientes, rever sintomas, ver lesões de pele, etc. Muito mais do que já existia no simples celular. Com menor custo (pode-se escrever à vontade, o que nem sempre é tão bom), maior acessibilidade (a não ser nos casos de emergência, quando a ligação de viva voz ainda é mais importante) e, de quebra, ajudando a identificar pacientes (a foto do Whats substitui e muito bem a foto do prontuário do paciente, com a vantagem de que se renova).
Não falo mais porque não recebo royalties!
Mas já há situações engraçadas:
"Como está o Luis Henrique?"
"Tá bem. Baixou a febre."
"E a dor?"
"Tá melhor, também.""Babau."
"Babau? A dor? Babau?"
"Papau!"
"Pa...pau?"
"Papai!"
"Papai? Ô menino, devolve o celular pra mãe, que o tio quer falar com ela!"

28 de julho de 2015

Mudando de Mãos


A historinha (verdadeira):
Um ratinho (estilo Jerry) que sempre se cuidou, sempre evitou passar por perto ou confiar no gato (estilo Tom), a partir de um certo momento, começa não só a dar bobeira, mas até a procurar o gato, a provocá-lo. E aí, com a diferença em relação ao famoso desenho: vira espeto.
Essa história com final infeliz tem acontecido no laboratório com ratos intencionalmente infectados pelo Toxoplasma gondii, um parasita que infecta perto da metade da população (humana) mundial: ficam "doidões", alteram seus comportamentos de forma anormal e muitas vezes definitiva.
A hipótese recente é de que o mesmo possa acontecer ao ser humano e que, assim como com outros germes imputados em alterações psiquiátricas (como as bactérias da sífilis, o estreptococo, o citomegalovírus, etc.), no futuro essas doenças sejam mais da alçada do infectologista do que do psiquiatra.


É esperar pra ver.

24 de julho de 2015

A Panacéia Nunca Sai de Moda


A velha tendência de se dar remédio para os pequenos problemas das crianças está voltando com tudo nessa temporada.
Aquela dorzinha de barriga reflexo de uma digestão um pouco mais difícil, a dor de cabeça após horas de bagunça, um vômito e até mesmo uma coriza da criança pequena não precisam passar sem serem medicadas, não é mesmo?
Para que ter que ensinar uma criança a dormir na hora certa, se dispomos de ótimos analgésicos no mercado farmacêutico, com pouquíssimos efeitos colaterais?
Uns espirros, gente, quer coisa mais feia, nojenta até? Descongestionante neles!
Um choro de bebê. Nossos ouvidos não foram feitos para ouvir isso (foram feitos para ouvir a Beyoncé)! Remédio!
Ardência na garganta? Remédio! Palpitação? Remédio! Medo de avião? Remédio! Qualquer medo? Remédio! Medo de ter medo? Remédio, claro! Efeitos colaterais dos remédios?... Mais... remédios! Ou alguém tem alguma outra sugestão?
Não fosse por isso, pela nossa vida estar sendo muito mais completa pelo uso frequente e coerente dos medicamentos, por que estaríamos vendo o aparecimento de três farmácias por quadra nos centros das cidades? Elas estão ali por nós, para nós, graças ao bom Deus dos remédios!
Pra que livrarias? Parques? Ciclovia? Piscina? Museu? Quadras? Teatro? Cinemas? 
Farmácias, queremos farmácias!

21 de julho de 2015

Meu Dodói


A dor - dependendo da dor - fica gravada na memória.
Uma tremenda dor de dente, por exemplo, é inesquecível.
A criança que vivencia as dores - mesmo as mais "bobinhas"   (as dores, não as crianças) - quando estas passam, passa a temer seu novo aparecimento.
É esse um mecanismo provável da dor recorrente: o ficar checando, temeroso, se o sofrimento não vai retornar. O próprio estado de alerta em relação às dores cria uma "via preferencial" para ela. Dores que iriam embora naturalmente voltam - ou, pelo menos, se amplificam.
Diria que nos últimos tempos, com pais e filhos cada vez mais ansiosos (exatamente pelo estilo de vida ansiogênico), esse criar, "dar corda à dor" vai se tornando algo importante - e ainda pouco reconhecido. Algo que os pais deviam saber para não entrar no ciclo vicioso que seus filhos podem estar criando.
(o mesmo vale para "as dores da alma", fenômeno já vastamente explicado pela psicologia)

17 de julho de 2015

Pódio


Nos últimos tempos quando se prescreve o paracetamol, em pelo menos metade dos casos, lá vêm os pais perguntando:
"Mas não faz mal?"
Ou, mais especificamente:
"Não faz mal pro fígado?"
Virou o grande medo. 
Válido. Como com qualquer medicamento.
O problema é que ainda é a mais segura medicação para a febre e dor da criança.
"E o fígado, e o fígado?"
Como explicaram médicos britânicos num recentíssimo editorial no Archives of Disease in Childhood, a frequência da complicação (insuficiência hepática, a temida falência do fígado) é absurdamente baixa em relação à frequência do uso. Somado a isso, em "muitos dos poucos" casos registrados, ou os pais utilizaram doses superiores às recomendadas ou as próprias crianças se intoxicaram (ou ainda: outras medicações foram associadas, ou ainda: a possibilidade da medicação ter sido falsificada, fato comum em regiões mais pobres do mundo).
Nenhuma necessidade de defender o paracetamol (os autores do artigo, por exemplo, não têm relação com a indústria farmacêutica, nemmeno io). A questão é colocá-lo no ranking devido.

14 de julho de 2015

Vivo A Vida


Você é da turma que acha que uma propaganda é só uma propaganda?
Sério?
Pensa bem. Não estamos sendo movidos por elas, pelo que elas nos dizem pra vestirmos, usarmos, comermos, aspirarmos como estilo de vida?
Há pouca gente (quase ninguém) imune.
E as crianças, com certeza, não estão.
E o que é pior, os pais não se tocam muito da tremenda influência. E se se tocam, pouco ou nada fazem para contrabalançar esses efeitos. Até porque eles estão "sem moral", consumindo e fazendo tudo o que a mídia manda.
Um único exemplo da surdez publicitária ao mundo real (numa propaganda, supostamente, para adultos - muito bonita, por sinal, porque ilusória):
A menina (criança) pega na mão de um menino e sai correndo pela vida afora. Cenários continuamente mostrados: festa, viagem, piscina, viagem, parque de diversão, casamento (festa), passeio, viagem, festa. Faltou algo? Ah! Mais viagem!
Nenhum obstáculo pra puxar o companheiro pela mão. Nada de sala de estudo, nenhum quarto de hospital, fila de banco ou lotérica, engarrafamento de trânsito, etc. Só alegria!
E a menina (que é quem começa a corrida em direção à felicidade) vai sendo enganada. A vida será sempre assim. Qualquer coisa que não seja isso, está fora do script. Do comercial e da vida.
Ah, que é isso? É só uma propaganda!
Claro (ou Vivo)! Porque depois vem outra...


(a coincidência é que quando fui buscar o link no Youtube, "caí" na postagem do Porta dos Fundos mais ou menos sobre o mesmo tema)

10 de julho de 2015

Mãe ou Madrasta?


A gente nunca sabe ao certo se a natureza complota para a nossa sobrevivência ou para nos matar (provavelmente um misto de ambos), principalmente a partir de uma certa idade.
Por que digo isso?
Porque a gente costuma citar a natureza como uma verdadeira mãe ("mãe natureza"), aquela que só existe (existe porque somos parte dela) para nos manter vivos e saudáveis, e que quando a contrariamos, os problemas aparecem.
Claro, isso não é bem assim. Mas sempre é bom escutarmos o que nossa mãe tem pra nos falar.
Vou dar um exemplo. Um exemplo bobo e prosaico.
Por toda a história da humanidade, o homem sempre viveu com (perdão pelo termo) o rabo sujo. Como qualquer outro animal. No máximo um matinho, para aqueles mais higiênicos. Essa coisa de papel (justamente higiênico), de bidê, de banho duas vezes ao dia, é coisa de agora pouco. A regra era a sujeira, as mosquinhas voando em volta.
Isso (o natural, o se manter sujinho, com germes fecais pululando ao redor do ânus) sempre fez mal ou bem para a sua saúde?
Pode parecer óbvio. Mas se sabe que germes (germes dos seus devidos locais) muitas vezes protegem mais do que fazem mal. É assim na cavidade vaginal, é assim na boca, é assim principalmente no intestino. Por que não pode ser assim na sua desembocadura (no ânus)?
Eca!!
Concordo, eca! Mas vale para o argumento: quando o homem moderno cria um hábito (seja higiênico, seja alimentar, seja medicamentoso, vá esse hábito contra ou a favor da "mãe" natureza), pensando estar no rumo certo, pode estar jogando contra sua própria sobrevivência, sua própria saúde.
Quem nos disse (que eu saiba não há estudos a respeito) que bundinha limpa não predispõe a alguma doença mais séria (fissura anal e abscessos, por exemplo, são evitadas pela melhor higiene, mas...)?

7 de julho de 2015

Seu Fígado Por Um Refri (Ao Dia)


Cirrose.
Uma palavra que, para quem tem alguma noção de saúde, faz pensar em duas coisas: alcoolismo e hepatite por vírus.
A frase é do hepatologista Lawrence Serfaty, do Hospital Saint-Antoine, em Paris:
"Temos vários pacientes que não bebem uma gota de álcool, nunca tiveram uma hepatite viral, e se vêem com um diagnóstico de cirrose com um único fator de risco: o fato de beber vários "refris" por dia".
As cirroses são pra vida toda, pois são o resultado de cicatrizes espalhadas pelo fígado. Muitas evoluem para transplantes, com todas as complicações que este procedimento engendra - quando se consegue fazer. Pacientes cirróticos via de regra sofrem muito, e costumam ter seu problema diagnosticado já meio tarde.
Padecer disso tudo pelo "inocente" hábito de tomar refrigerantes é muito trágico (a cirrose nesse caso aparece como consequência da esteatose - acúmulo de gordura - do fígado, que no longo prazo provoca a cicatrização).
Os pais têm tido alguma noção do mal que eles fazem (ainda que não nesse nível). E muitos têm tentado limitar o acesso das crianças. Mas é preciso fazer mais, principalmente em nível educacional. E principalmente nas camadas mais pobres da população, que é onde o abuso continua a existir.

(Em tempo: sucos, naturais ou não, também têm frutose, e também lesam o fígado se consumidos em excesso!)

3 de julho de 2015

Possibilidades


- Doutor, isso que o meu filho tem, pode ser uma pneumonia?
- Pode. Mas pode ser só uma traqueobronquite. 
- E uma infecção no ouvido, pode?
- Pode.
- Mas é?
- Acho que não. Mas poder, pode.
- Infecção na garganta só, não?
- Pode, claro que pode!
- E então?
- Essencialmente, tudo sempre pode...
- Doutor, como assim? O senhor tá tirando uma com a minha cara?
- Não! Mas poderia!
- Olha aqui, só vim aqui pro senhor me dizer o que é que meu filho tem de verdade, e o senhor fica com essa história de pode isso, pode aquilo?
- Não sou eu, minha senhora, que estou afirmando que isso pode ou aquilo outro pode, você é que está me perguntando. Como eu ainda não tenho certeza sobre o que o seu filho tem, tenho que (com a minha consciência) responder à senhora... pode! Agora, se a senhora quer que eu minta, ou invente...
- Não quero nada, quero só que o senhor me diga...
- Sim, já sei. Ocorre que diagnósticos são feitos baseados em história clínica, em exame físico, em raciocínio clínico, em evolução do problema com o passar de algum tempo. São baseados até em intuição, na experiência do médico, e nem sempre vem assim de cara, ao olhar simplesmente para o doente. Agora, para começar, se a senhora puder me responder a algumas perguntas...

E tem o inverso:

O paciente que chega com quase nada de sintomas, e o médico já vai dizendo:
- Olha, isso pode ser uma apendicite. Ou então uma infecção na bexiga. Ou até uma pneumonia! Ou, quem sabe mesmo um...
É o caso de se dizer:
- Doutor, o senhor pode pelo menos me examinar?

Como dizia aquele senhorzinho meio afeminado:
- Pode??