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31 de janeiro de 2014

Coqueluche do Momento


Já escrevi aqui por esses dias, mas devido à importância, retomo:
Novos casos de coqueluche têm aparecido
E o que era uma doença "de se ouvir falar" (mais ou menos como o sarampo ou a difteria, estas virtualmente "sumidas" do mapa), volta a preocupar.
Crianças (principalmente as muito pequenas) com tosse extenuante de duração prolongada (principalmente aquelas que não têm história de bronquite ou asma), independente da presença de febre, devem ter o diagnóstico de coqueluche ("tosse comprida") cogitado.
Sempre de forma resumida (não tenho a pretensão de transformar esse espaço em mais um compêndio):
Coqueluche tem o seu diagnóstico fortemente sugerido pelo padrão de tosse (uma dica é filmar a criança no acesso) e pelo hemograma (exame de sangue).
Na suspeita (mesmo em vacinados) o início de antibióticos macrolídeos (não do grupo da amoxicilina!) diminui os riscos (ainda que não totalmente).
Casos graves devem ser hospitalizados (os muito graves em UTI, sempre que possível).
Importante, então, se informar (sem pânico) e estar atento.

28 de janeiro de 2014

MM


Quantos Marlboro Men existiram?
Quantos morreram por doenças causadas pelo próprio produto do qual fizeram propaganda?
Ontem, dia 27, caiu a quinta vítima. Este pouco mais velho, aos 72.
A Philip Morris, indústria fabricante do famoso cigarro, alega que existiram mais do que cinco em 55 anos de comerciais (comerciais que marcaram época ao convencerem homens-machos de que fumar cigarro com filtro não era coisa só de "mulherzinha" - e deu muito certo). Estariam os cinco, então, dentro da estatística "normal", visto que os MM foram envelhecendo, e de alguma coisa tinham que morrer.
Foram quantos, então? Dez? Se foram dez, metade morreu da mesma arma. Quinze? Ainda, um terço.
Tony, o tigre da Kellogg's (também nascido nos anos 1950) não é um bicho de verdade. Se fosse e se tivesse morrido de diabete, seria forçado dizer que morreu pelo consumo dos seus próprios cereais.
Os MM eram todos viciados. Um deles fumava inclusive pelo buraco da traqueostomia na fase final de um câncer de laringe. A maioria morreu culpando o cigarro (mas, há que se culpar alguma coisa, não é mesmo?).
Mas chega a ser inacreditável. Não que ainda se faça propaganda. Até porque as propagandas estão mais raras - ou mais sutis, como nos personagens de filmes. O inacreditável é ainda existir cigarro!

24 de janeiro de 2014

Um Poço


Ansiedade.
Já me dá só de pensar.
Pensar no que?
Pensar que nas recomendações oficiais das Sociedades Disso e Sociedades Daquilo (que ditam normas para a atuação médica no mundo inteiro - sobretudo as americanas) o tratamento infantil e juvenil da ansiedade já é basicamente medicamentoso.
Tá na cara. Que outras opções esperaríamos?
Tratar ansiedade de forma não medicamentosa no adulto já é complicado. 
Ansiedade faz parte da vida, exceto quando se torna um transtorno, definido pela presença dela ali, o tempo todo, atrapalhando qualquer atividade que o indivíduo possa exercer.
Um ansioso é não raro percebido do berço. E nem sempre as consequências para ele vão ser só ruins. Ansiosos são na maioria, "espertos", "ligeiros". Ruim? Não. Ansiosos se contrapõem aos "calminhos" para criar ambientes equilibrados, diversos. Além do mais, ansiosos vivem fases "calminhas" enquanto "calminhos" vivem fases ansiosas (no caso de perda de um emprego, por exemplo).
Remédio para todos eles?
O mundo corporativo, fonte da qual médicos bebem, diz que sim, adultos e crianças incluídos.


Há opções, nenhuma delas muito rápida - ou fácil. A maturidade, por exemplo, nos faz menos ansiosos. Só não sei se estamos dispostos a esperar.

21 de janeiro de 2014

Pros Ossos e Pra Tudo Mais


Esse é um assunto chato (nesse blog chato, escrito por um cara... legal!), mas vamos lá:
A polêmica da vitamina D não termina!
O resumo sempre é: criança pequena deve tomar (cuidado com a dose!), exposição ao sol providencia a quantidade necessária, por isso a criança que não toma ainda assim está tão saudável quanto aquela que toma.
A partir daí, só confusão!
Pesquisadores do International Prevention Research Institute da França argumentam que níveis baixos de vitamina D são mais a consequência de uma saúde decadente do que a causa dela. E a grande quantidade de estudos em que se suplementam pacientes com problemas de saúde sem se obter resultados mostra que deve ser mesmo verdade.
Um outro motivo que causa desconfiança é o nível considerado ideal na dosagem de vitamina D (75nmol/L), valor que coloca 90% da população mundial em estado de carência (inclusive a maioria dos surfistas!).
É mais uma daquelas pílulas (ou gotas) milagrosas que uns e outros inventam para fazer "toda a diferença" na nossa saúde (tem pouco disso hoje em dia)... 

17 de janeiro de 2014

Faixa Otária


Falo não tanto como pediatra quanto como alguém preocupado com a imbecilização do país:
Quem está na faixa dos quarenta e tanto, alguma vez lembra de os pais perguntando o que eles (crianças de então) queriam ouvir no som do carro?
E, caso houvesse Cartoons e Discoverys Kids na época, abririam mão os pais de seus programas para verem desenho animado o dia inteiro?
Certamente os tempos são outros, mas não são um bom argumento para a infantocracia atual.
Crianças de outrora, "obrigadas" a verem e ouvirem o que era gosto dos seus pais, cresciam com eles, e iam se tornando adultas. Não que não vissem o que queriam, mas não tinham a prioridade na escolha o tempo todo - não importava quanta carinha de gato do Shrek fizessem.
Hoje, são os pais que se obrigam a se manter infantilizados nas suas programações e gostos, criando ambientes familiares onde o teto da idade mental pára nos treze. E um público consumidor (e uma população votante) é muito mais fácil de agradar nessa faixa etária.

14 de janeiro de 2014

Questão de Estilo


Em muitas consultas pediátricas, após a entrevista com os pais e o exame das crianças, cabem algumas perguntas básicas sobre o(s) problema(s) evidenciados:
1) Incomoda?
2) Preocupa?
3) Tem tratamento?
4) Precisa?
5) Adianta?
Pegue o exemplo de um resfriado comum e tente responder:
1) Incomoda? Sem dúvida, algum incômodo quase sempre há, seja um nariz obstruído ou uma tosse.
2) Preocupa? Sem febre importante, sem complicações, não.
3) Tem tratamento? Apenas para a melhora de alguns sintomas, não curativo.
4) Precisa? Na maioria das vezes, tratando ou não tratando, a evolução vai ser a mesma (e, muitas vezes, tratando vai haver mais riscos, pelas reações adversas do tratamento). Então, não precisa tratar.
5) Adianta? Também, na maioria das vezes, não adianta muito tratar. Vale mais a compreensão, um ambiente saudável e a espera da melhora.
Note que, dependendo do funcionamento familiar, do psiquismo dos seus componentes, estas respostas acima podem ser totalmente diferentes (no estilo : Precisa? "Mas é claro que precisa?", Incomoda? "Muito, muito!"). 
E não quer dizer que um está certo e outro errado. São maneiras diferentes de ver os problemas.
Mas, assim como os pacientes, também os médicos têm estilos de "funcionamento" diferentes.
É por isso que não podemos agradar a todos, seja qual estilo adotemos.
Mas alguma aproximação de "estilos" pode ser tentada, até o limite do razoàvel.

10 de janeiro de 2014

Chãopeta




A cena acontece em quase toda casa. E a dúvida também.
Quando a chupeta do bebê (bebê, gente, aquela pessoa no primeiro ano de vida, não no décimo terceiro!) cai no chão, é melhor devolvê-la à boca do dono ou deve passar antes pela boca "do chefe" para ser, digamos assim, "esterilizada"?
Cansei de dizer para os pais que a saliva deles (pais) continham germes causadores de cáries, e que quando a boca dos seus filhos pululassem de dentes a chance deles terem cáries aumentaria.
Não é o que tem sido dito mais atualmente.
Segundo os especialistas, o estreptococo mutans, germe responsável pelas cáries, é extremamente contagioso, e de nada adianta os pais (e pediatras) se amofinarem com a sua presença, pois o contágio, ou seja, a sua passagem para a flora bucal da criança se fará de um jeito ou de outro (como por exemplo pelo compartilhamento de alimentos, pelos beijos afetuosos ou mesmo só pela proximidade). Ao mesmo tempo, a resposta imunológica da criança contra mais esse germe deve ir se formando. Contam ainda com a ajuda de substâncias protetoras presentes na saliva dos pais, como os anticorpos.
Ponto para a saliva.
Eu, entretanto, ainda não me convenço.
E quanto aos outros germes, madurinhos na boca dos adultos (me vêm à cabeça herpes vírus, meningococo, citomegalovírus e outros mais)? O processo será o mesmo?
Devemos mesmo fornecer à criança esse caldinho contaminado (contaminado por uma vida toda?).
Não apresentei aqui a alternativa, mas ainda fico com a torneira.

7 de janeiro de 2014

Tanto ao Mar quanto à Terra


Quando se trata de pais novos, uma tendência que vimos observando é a da polarização nos cuidados com o filhote: há aqueles exagerados, que tudo querem prever em termos de perigos, desejos, necessidades da criança (o que tem sido chamado de "pais helicópteros", que ficam
sobrevoando
os filhos nas 24 horas) e há os negligentes, para os quais o filho parece estar representando um constante fardo.
Interessante é que para não serem incluídos na segunda categoria (certamente mais danosa), os pais novatos não sentem o menor prurido de se incluírem - orgulhosamente - na primeira categoria!
E aí é que está: são dois extremos. E como todo extremo, prejudicial.
Pais negligentes são muitas vezes caso de polícia.
Mas pais "helicópteros" despreparam seus filhos para a vida, criando um bandinho de gente egoísta e pretensiosa que, em algum momento (e esse momento pode custar a chegar, mas ele chega) vão cair dos seus altos cavalos.
Ambos os comportamentos costumam saltar aos olhos. No caso dos mimados, mais aos olhos dos outros do que dos mesmos.

3 de janeiro de 2014

Vias Opostas


Se você não comeu muito neste (e nos outros) Natal e Ano Novo, você não é deste planeta.
A possível diferença entre você e o seu vizinho é em relação à atividade física. Enquanto você deitou na rede no dia 24 para só se levantar dela no dia 2, o morador ao lado suou a regata em todos estes dias.
Um estudo deste mês, realizado com requintes como biópsia de gordura corporal, mostrou que os efeitos deletérios das comilanças do fim de ano (como de qualquer parte dele) são grandemente atenuados por uma hora de exercício físico intenso (esse intenso varia, claro, de acordo com a faixa etária e condições físicas).
Nos dois grupos que se empanturraram de nutrientes houve ganho de peso (também, é claro que muito menor nos "malhadores" - 2,7kg na semana dos "parados", contra 1,6kg nos ativos). A diferença é que nos praticaram a hora diária de exercício as medições metabólicas (insulina, triglicerídeos, etc.) quase não se alteraram.
Parece meio óbvio. Entusiasma pouco porque os malhadores também engordaram (não é o efeito estético que mais importa?), e provavelmente engordariam bastante no longo prazo. E ainda tem o perigo de estimular a bulimia, na prática excessiva de exercício para tentar compensar a ingestão, com prejuízos no longo prazo.
Serve, de novo, para pôr a ênfase na alimentação, ainda que mostre que o pecado da gula tem sua expiação parcial na esteira.