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19 de agosto de 2014

Telefone Sem Fio


Não devo aqui me estender em tecnicalidades, mas já que hoje pacientes têm acesso a tudo quanto é informação, é bom lembrar que...
Quando, por exemplo, você lê uma manchete como a da semana passada : "Pessoas obesas têm incidência maior de câncer" (o que é entretanto mesmo verdade) deve, então, se perguntar (como nós médicos fazemos):
- Todas as pessoas obesas? 
- Incluídas aí fumantes e não-fumantes todos juntos ou separados (visto que o tabagismo é um fator que isolado já aumenta a incidência de vários tipos de câncer)?
- A partir de uma certa idade somente, ou já também na criança?
- Obesos ativos têm mesma incidência?
- Obesos que se alimentam de forma mais adequada têm os mesmos riscos?
- História familiar de câncer foi levada em conta?
- Alcoolismo aumenta essa incidência? 
(muitos desses fatores chamados variáveis, que complicam as análises e a própria conclusão)
- O grupo de pessoas estudadas foi grande ou pequena (e quanto seria esse "grande" ou "pequena")?
- A avaliação estatística foi adequada (ou: adequadamente "traduzida" para a maioria de nós, leigos)?
E, entre outros mas não menos importante, há interesses em se divulgar (ou criar alarme) com esse tipo de notícia (interesse por parte da imprensa, da indústria farmacêutica, da classe médica, dos laboratórios, ou de todos em conluio)?
Não é bem verdade que "ignorância é felicidade", mas já que queremos saber algo, uma ligeira debruçada a mais vale a pena.

Vista Grossa

Falando nisso, me lembrei de um sonho perturbador:
Fui encaminhado a um médico especialista que, logo ao me ver, se estendeu na confortável cadeira e, botando os pés na mesa, me disse de forma confiante (confiante demais):
- Pode deixar, que se você tiver algum câncer, qualquer câncer aí dentro de você, eu vou achar!

(Gulp!)