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30 de agosto de 2013

Bradando Aos Ventos



A medicina dos últimos tempos mudou.
O entendimento de muitos pacientes, não.
Também eu quando preciso de médico enfrento os entraves de emergências lotadas e atendimento de má qualidade - a não ser que peça penico para algum colega, que é o que normalmente faço.
Para o médico não plantonista, o que se recebe para se ficar disponível (telefone, celular, interfone de casa, e-mail, etc) 24 horas, 365 dias  por ano?
Rosca!
Já o contracheque dos meus colegas que submetem bravamente às agruras de um pronto atendimento costuma ser merecidamente polpudo (só pelo fato de dar a cara à tapa todos os dias).
Todos sabemos que o médico deve ser movido, mais do que tudo, por um ideal mas é, também, como qualquer outro, um profissional.

(Tem pouca coisa que eu detesto mais do que médico reclamão. Quiabo, talvez.)

27 de agosto de 2013

Pra Mim ou Pras Minhas Bactérias?



Eu tomo um remédio, e melhoro.
Você toma o mesmo remédio, e... nada!
Dentre outras tantas possibilidades (diagnósticos diferentes, utilização incorreta, metabolismos diferentes, efeito placebo, etc.) surge agora a comprovação "oficial" de um novo complicador: nossas bactérias intestinais, tão em voga nos últimos anos.
Um estudo publicado na revista Science mostra que uma bactéria chamada Egghertella lenta (em maior quantidade apenas em certas pessoas) inativa a digoxina, medicação usada por quem tem problemas cardíacos.
E, curiosamente, uma dieta rica em proteínas reduz esse efeito.
É a coisa do "o que comemos interfere com a flora bacteriana, que por sua vez interfere com a ação dos medicamentos, que vão interferir - ou não - na nossa saúde". E por aí vai. 
Claro, há outras interferências, como estado emocional, idade, tabagismo, condições associadas, etc.
Não podia ser uma coisa mais simples, não é mesmo?
Na medicina, raramente 2 + 2 vai ser igual a 4.
E ainda podemos culpar somente o médico por isso... 

23 de agosto de 2013

Meia Entrada



Cuidado com quem você convida para assistir ao filme Ted, uma aparente história sobre a prolongada amizade de um menino com seu ursinho de pelúcia.
Se seu filho pequeno for convidado a assistir, faça com que durma nos primeiros minutos, que é até onde a história é, digamos, infantil e engraçada.
Porque a partir do crescimento do menino o querido urso se transforma num adolescente com muito mais que somente a ação da testosterona faria supor. Torna-se um sujeito transtornado sexualmente - com a mesma carinha de urso-anjo.
A idéia para um filme até que não é má. O problema é que, além do exagero (as piadas mais do que boas são grosseiras até o ponto em que se tornam chatas), não há até onde eu saiba, grande advertência para o teor das baixarias (teor esse muito mais elevado no linguajar original do que o da tradução amenizada).
E, aproveitando, quero desconvidar - para quem ainda não viu - para outro filme "infantil": Paranorman.
Aqui o problema é outro. Até perto da metade vai no ritmo de outros desenhos animados mas, como se outro transtornado tivesse assumido a direção, desanda a mostrar uma zumbizada assustadora até para pré-adolescentes! E é também aí que perde a graça, não por coincidência.
Não sei o que dá na idéia dos roteiristas. É como se quisessem, de propósito, estragar a diversão familiar. Pai e mãe com seus filhotes reunidos, cortinas fechadas, pipoca, tudo muito bom, até que...
Gulp! 
Vamos fazer outra coisa?
Quem busca o dominó?

(Para alguns pais, até o Pica-Pau é violento. Não discuto. Cada um com os seus critérios. A Puca, por exemplo, de vez em quando mata os seus adversários! Agora, tem desenho que agride até adulto. Admito que dou boas risadas com o South Park, mas é o desenho mais politicamente incorreto - e preconceituoso - que eu conheço. É coisa pra assistir num quarto escuro e rir com a mão na boca e olhando pros lados. Melhor não assista. E, por favor, não deixe seus filhos saberem que existe até que tenham um mínimo de senso crítico - lá pelos sessenta...) 

20 de agosto de 2013

Piá Pançudo



"Pia pançudo". A expressão regional (da nossa região) tem significado. Significa garoto mimado, basicamente.
Mas o piá (garoto, menino) literalmente pançudo (barrigudo) costuma causar alguma preocupação na família. E a preocupação tem nome: verminose.
Porque no passado foi frequente, aqui pra nós (e em boa parte do mundo ainda é, com vermes que vão do Áscaris à Leishmania): era "barriga de verme", então.
A barriga atual, que ainda se vê muito, é muito mais a "barriga de vento". Crianças pequenas respiram muito pela boca, por vários motivos (distração, obstrução nasal por resfriados, digestão de certos alimentos, uso de chupetas). Respirando pela boca, engolem muito ar.
E aí, parte do dia, estão "pançudos". Só que são pançudos em que os gases são eliminados - ou absorvidos - no restante do dia. Geralmente acordam com o abdome plano e vão ficando barrigudos com o correr do dia.
Verminose é meio "duro", compacto à palpação, assim como causas mais sérias, como os tumores. "Vento" (gases) é timpânico (parece um tambor). 
(pode ir lá palpar o seu filho, eu espero...)

16 de agosto de 2013

Um Problema Que Só Creche



É mais ou menos como um globo da morte, mas não chega a sê-lo.
É na verdade um globo de tormento, um ciclo vicioso de encheção e preocupação a vida da mãe de criança pequena que trabalha fora.
É assim:
Deixa a criança cedo (cedo no dia e cedo na vida da criança) na creche.
Criança pequena na creche fica a toda hora doente.
Criança doente, mãe chamada no trabalho.
Mãe chamada no trabalho incomoda patrão, pede licença. Licença para levar a criança no médico (isso quando tem médico) e licença para levar a criança doente da creche.
Licença que o patrão, se aceita, aceita de cara feia, lógico (já não chegam as compulsórias licenças-maternidade?).
Criança que chega em casa (ou no médico) e "não estava tão doente assim". Bom por um lado, claro, mas ruim por outro: queimou cartucho! Faltou, desagradou patrão, se preocupou meio que à toa, mais uma vez.
Se gastou em médico ou em remédio, quase que não valeu a pena estar trabalhando - além de tudo, trabalhando preocupada.
Meu Deus, quando é que essa criança vai crescer?
Não é fácil! Alguém falou que era?

13 de agosto de 2013

Diga "X" ou "33"?



Pacientes, usem das suas prerrogativas de seres tecnológicos.
Hoje quase todo mundo tem uma ou duas câmeras em casa, pelo menos nos celulares ou smartphones.
Então, vários dos imbróglios diagnósticos - e, por consequência, terapêuticos - podem ser pelo menos parcialmente resolvidos pela fotografia ou filmagem (ou até mesmo gravação) caseira dos filhotes (ou do que sai deles) para serem mostrados nas consultas.
Crise convulsiva, ou apenas coisa parecida.
Sangramento nas fezes (não há aí a necessidade de levar as próprias para o consultório). Vermes?
Roncos noturnos: faz apnéia? 
Lesões de pele, principalmente aquelas fugazes.
Inchaço nas articulações que até que consigam chegar na data da consulta, já melhorou.
Comportamentos presentes em casa, mas inibidos no consultório.
São vários os exemplos de problemas ou situações que podem ser gravados ou filmados ou fotografados para se dirimir dúvidas.
E, caso não seja o caso, filme-se apenas alguma proeza. Também vale. 

9 de agosto de 2013

Folga do Redator Minor (Postagem-Homenagem)



Você já deve ter ouvido várias o ditado: 
"Son of a fish, little fish must be" (filho de peixe...)
Então: pra quem não me conhece mais a fundo (até por que eu não quero toda essa intimidade), também eu herdei a vocação.
Não só a vocação. Herdei quase tudo dum grande pediatra que havia em casa - inclusive o gosto pela escrita, um estetoscópio Littman, e um jeitão assim, meio desleixado.
São 40 anos tentando seguir os passos. Seguros, da parte dele. Trôpegos, da minha parte.

E, apenas como outra homenagem, entreguei  a pena a ele hoje para mais uma postagem: 

Muitas vezes nossos pacientes nos perguntam - ou mais exatamente nos pressionam - quanto a necessidade do uso dos antibióticos nas frequentes infecções das crianças.
A grande maioria destas infecções são provocadas por vírus. Curam espontaneamente. Claro, sem a imposição do uso de antibióticos.
O caso das tais "infecções de garganta" é característico. São a justificativa dada várias vezes pelos médicos - erradamente, principalmente em crianças muito pequenas - ou buscadas pelos próprios pacientes, numa tentativa de aplacar sua ansiedade quanto à doença (ou as possibilidades de complicações) de seus filhos.
É compreensível. Mas não justificável como motivo para lançarmos mão de medicamentos que podem apresentar toxicidade, reações adversas, indução de resistência bacteriana, além do evidente custo financeiro.
Lembramos aos pais que somos de um tempo que antibióticos nem mesmo existiam (na minha infância). Nem por isso víamos outras crianças gravemente doentes a toda hora. Ou, por exemplo, não chegarem à vida adulta por causa de infecções.


Estranho! Parece que fui eu que escrevi...
Pais corujas são uns porres. Filhos corujas não fazem mais do que a obrigação.
Feliz Dia dos Pais à todos!


6 de agosto de 2013

Craquento



Neymar tem anemia. Anemia provocada por perda de ferro durante cirurgia para retirada das amídalas.
Neymar tinha problemas nas amídalas.
Retirou. Agora tem somente anemia.
Neymar estraçalhava nos campos brasileiros.
Era o melhor jogador.
E, apesar da origem humilde, o mais rico.
Ao chegar à Espanha, virou doente. Ainda rico, ainda bom de bola, mas doente.
Sendo tratado como alguém que chegou da Etiópia, com medicina da Etiópia, que não sabia detectar nem problema de amídala, nem anemia. Aqui só se sabe de uma coisa: de quem é bom de bola.
Lá como aqui, médicos metidos a doutores - e não é o que são, doutores? - inventam uma moda danada com pessoas boas, de saúde e de bola.
Neymar é "seco". Talvez por isso foi confundido com um etíope, precisando de ferro, vitaminas e de retirada das amídalas, com todos os germes que as amídalas terceiromundistas possam carregar com elas.
Pode ser meio cedo, mas como está sendo tratado (como estamos sendo tratados), tenho vontade de gritar:
"Volta Neymar!".

2 de agosto de 2013

EBA!


Era o que todos estávamos esperando!
Reformulando:
Era o que todos estávamos esperando?
Até hoje (agora acho que já podemos dizer até ontem) dizíamos para mães e professoras angustiadas que o diagnóstico de TDAH de seus filhos e alunos era baseado em história clínica e avaliação por profissional da área (psicólogos infantis, pedopsiquiatras, neurologistas pediátricos), e que não havia qualquer exame que o comprovasse.
Mas (como dizia o pessoal do Casseta e Planeta, também estes ultrapassados):
Agora seus problemas acabaram!
Chegou o "revolucionário" NEBA (sigla inglesa para Avaliação Neuropsiquiátrica Baseada em Eletroencefalograma), que nada mais é do que um EEG acoplado a um analisador de ondas.
Os eletros de crianças com TDAH mostraram (num estudo, basicamente, que serviu de guia para a aprovação por parte do FDA, órgão americano regulador de produtos para a saúde e alimentos) que muitas crianças afetadas têm alterações na relação das ondas cerebrais teta e beta.
Pronto! Foi o sinal de largada. Tanto para novas discussões no mundo inteiro quanto para o "ouriço" de pais, professores e escolas.
Finalmente (pensam eles) vamos ter um exame para diagnosticar esses capetinhas (ou esses desatentos).
Acontece que nada mudou (ou nada deveria ter mudado).
O diagnóstico de TDAH não deve ser leviano.E não é baseado num EEG.
Um EEG "positivo" não deve ser encarado como destino, assim como "negativos" podem ter vários outros problemas que necessitam atenção especializada. A se acreditar num exame estaríamos correndo risco de discriminar para os dois lados, prejudicando todos mais do que ajudando.
Mas que eu, como pediatra, já estou pensando em tirar umas férias de uns cinco ou dez anos (porque vão chover mães querendo o tal exame), isso estou.