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30 de abril de 2013

Agnóstico



Imagine que você tenha um determinado comportamento pouco saudável (fumar ou comer alimentos gordurosos rotineiramente, por exemplo).
E imagine que um dia qualquer você, em algum local isolado de tudo e de todos, vê uma espécie de clarão vindo do céu claramente na sua direção.
E desse clarão, uma voz - voz divina, possivelmente, como costumam ser vozes de clarões:
"Ei, psiu, você!"
Quem, eu?
"Tá vendo mais alguém aí? Claro que é você!..."
(Grosso!)
"... Você, ... , caso continue com esse seu mau comportamento (fumar, ou comer alimentos gordurosos, etc.) terá apenas mais dois anos de vida a partir de... Agora!"
"...gora, gora, gora!..." 
Some o clarão, com eco, como toda voz de clarão.

Você - pálido, trêmulo, taquicárdico - após longos minutos que podem ter sido horas, apalpa a carteira no bolso da camisa (ou lembra do torresminho, do quindim, da coxinha e da mortadela) e hesita:
Será?
Nááá!!! 

26 de abril de 2013

Holy Shit!



Quando se trata de doar sangue para pessoas doentes, a maioria de nós não vacila, principalmente se os doentes em questão forem amigos ou familiares.
Quanto aos órgãos, há ainda aquelas resistências bobas do tipo "vai que me matam pra pegar meus órgãos" ou "sem eles, como é que eu fico depois de morto?".
A novidade (ainda que experimentos existam há mais de meio século) é a doação de cocô.
É isso mesmo, cocô (pensou que era coco, uma coisinha menos nojenta, não é?).
O transplante da microbiota intestinal, TMI, termo mais eufemístico para a introdução do cocô alheio no intestino do paciente doente tem se revelado surpreendentemente efetivo para tratar infecções pelo Clostridium difficile, um germe muito agressivo, principalmente em pacientes com baixa imunidade.
O referido transplante tem sido realizado através de sondas introduzidas pelo nariz dos pacientes, mas ainda encontra natural resistência por parte de todos os envolvidos ("fator yuck", de "nojo", segundo editorial do jornal americano New England Journal of Medicine).
E o alcance terapêutico da meleca pode se estender à outras doenças como doença de Crohn, retocolites ulcerativas, e até mesmo da obesidade! - apenas que nesses casos outras formas de administração devam ser propostas, como "cocô em cápsula", por exemplo ("Argh!"? Mas a gente já toma tanta meleca encapsulada por aí!).
Eu, particularmente, acho mais interessante, promissor e menos explorador do nosso rico dinheirinho que os milhares de "probióticos" que já estão nos enfiando goela abaixo...
É germe, é probiótico, "direto da fonte"!
Como muito bem dizem os franceses (se não dizem, deveriam estar dizendo): "Vive la merde"! 

23 de abril de 2013

Barriga ou Cabeça (ou Os Dois?)


Há mais de duas décadas venho lutando - e muitas vezes perdendo - contra a noção de que o bebê bocudo tem dor na sua barriga (cólica, termo que por si só já causa confusão).
Na semana passada, mais uma grande evidência apareceu para justificar a provável ausência de dores. Mas, ao mesmo tempo, mostra a complexidade da cólica dos lactentes:
Bebês muito chorões nos primeiros meses têm uma alta incidência de enxaqueca quando pouco mais velhos.
E aí o interessante é que as mesmas recomendações de estilo de vida (não medicamentosas - pelo menos ainda) para a enxaqueca costumam melhorar os sintomas da cólica. São elas: respeitar horários de sono e alimentação, evitar excessos de estímulos como luzes e ruídos, distração da criança com embalo e massagens (desde que realizados por alguém mais tranquilo que o bebê).
Nada de dieta da mãe. Nada de remédios para dor, ineficazes ou perigosos.
Cólicas melhoram com a idade (por volta dos 3 meses). Já a enxaqueca (upgrade da cólica?) é cíclica, com momentos de melhora e piora na maior parte dos casos.
Lembrando ainda que nas crianças os sintomas enxaquecosos são em muitos dos casos sintomas abdominais (náusea, vômitos e dor abdominal, associados à palidez e/ou alterações do comportamento como tristeza ou irritabilidade). Quando ficam adultos, os sintomas de dores de cabeça sobressaem. 

19 de abril de 2013

Memória "de Elefante"?


Uma das perguntas que mais ouvimos quando estamos assistindo a alguma criança obesa é:
- Será que não é problema de tireóide?
Difícil.
Primeiro, estatisticamente.
Cerca de 1% apenas das crianças obesas têm como causa um problema hormonal (ainda que a obesidade possa por si só ser considerada um problema hormonal).
Depois, porque é relativamente fácil constatar clinicamente a chance de que seja o hipotiroidismo (menor funcionamento da tireóide) a causa da obesidade.
Crianças com hipotiroidismo crescem mal. Na maioria das crianças obesas o que se vê é uma aceleração do crescimento, até como resposta orgânica ao excesso de nutrientes.
Além disso, um mau funcionamento da tireóide costuma deixar crianças e adolescentes “lerdos”, principalmente no que se refere à memória.
Então, mais do que levá-los toda hora ao laboratório para “pesquisar a tireóide”, costumo perguntar sobre gostos televisivos ou esportivos.
O menino, por exemplo, é um “couch potato” (uma “batata de sofá”, expressão americana para designar pessoas que passam o dia inteiro defronte à televisão). Pergunto sobre os desenhos preferidos, personagens dos desenhos (para isso preciso estar atualizado, lógico, alguém aí ainda não ouviu falar dos monstros do Ben 10?). Respostas rápidas, boa memória, quase que excluem problemas de tireóide.
 

16 de abril de 2013

Volta Aqui, Menino!



Quando um pediatra (que se acha, com algum direito, meio "pai" dos seus pacientes) tem que encaminhar alguma criança para algum colega fica às vezes numa bananosa: será que esse colega não vai "pegar pesado" (seja com hiperdiagnósticos, seja com tratamentos excessivos)? Ou, ao contrário, será que não vai dar pouca atenção ao problema? 
Ou, ainda, não vai "roubar" o paciente à jamais (mesmo que seja um especialista, e não um pediatra)?
Acontece.
E ainda que essas situações muitas vezes aconteçam sem a nossa interferência (nosso encaminhamento), nessas horas ficamos com cara de "(coisa feia)".
É chato ter que dizer no retorno do paciente: "Espera, que não é bem assim", ou "Aí, não concordo" ou mesmo "Esqueça tudo, vamos começar de novo".
Mas também acontece.
Ainda mais com pediatras possessivos (como são mesmo muitos dos próprios pais)! 

12 de abril de 2013

Liga


Tem coisa na medicina que sabidamente (ou insabidamente, para muitos) não dá liga:
Não dá liga, por exemplo, tratar idoso com cálcio se ele não se exercita (o cálcio não é absorvido por ossos que não "solicitam" a absorção). 
Assim como não dá liga insulina e ausência de músculo (a insulina age criando estoque de glicose - glicogênio - ao nível muscular).
Não dá liga ferro em criança subnutrida. Há necessidade de proteína para formar uma célula sangüínea saudável (e proteína o governo ainda não está dando, já o ferro sobra...).
Não dá liga dentifrício três vezes ao dia e leitinho pro marmanjo de 3 anos na mamadeira a noite inteira.
Não dá liga "vacina pra gripe" (ô, termozinho infeliz!) e creche (ainda que não faça exatamente mal).
Não dá liga cobrança de desempenho escolar de pais noveleiros (ou mesmo "facebookianos").
Não dá liga medicação psiquiátrica sem terapia.
Não dá liga tratamento para imunidade (uma falácia) e abuso de antibióticos.
Não dá liga a boa intenção educativa de pediatras para pais e parentes murados pela pobreza intelectual. 

9 de abril de 2013

Ideário


De tempos em tempos, pais, na louvável intenção de ajudar seus filhos recorrem a boas idéias.
Boa idéia, você sabe, é aquela que acende uma lâmpada imaginária acima da cabeça.
E vêm de onde essas boas idéias?
Basicamente das mesmas fontes. Confiáveis? Vamos ver: 

1) Propaganda: Inesgotáveis.
Confiáveis? Nunca, né? Não é pro dono da abelha que devemos perguntar sobre os benefícios do mel.
2) Internet. O problema com a internet como fonte de informação é que quase nunca ela é de graça (isso significa patrocínio, evidente ou escondido). E quando é de graça, pode ser informação de algum lunático que achou um lugar fácil pra veicular bobagens.
 3) Parentes ou vizinhos: também raramente confiável, mas há qualquer mecanismo intrínseco em muitos pais que faz com que confiem mais nas asneiras propostas pelos outros do que nas asneiras pensadas por eles mesmos.
4) Idéia própria.
Idéia própria? De si mesmo(a)? Peraí! Alguém as têm?
Claro que não. Em séculos passados, talvez. Hoje em dia é praticamente impossível que a tal lampadinha já não tenha dono. E marca ©onhecida.
 

5 de abril de 2013

Segundas Intenções




Tanto cansaço gera essa história da alimentação da criança antes dos 6 meses de idade (e, não precisaria!) que às vezes o pobre do pediatra tem vontade de partir para a irônica ignorância.

O pediatra, então, não quer que você alimente seu bebê com nada exceto leite materno antes dos 6 meses porque:
1) ele quer saber mais do que você mesmo (e, principalmente a sua mãe ou a sua sogra) sobre a saúde da sua criança
2) ele deve ter participação majoritária na indústria Leite Materno Inc.
3) ele também deve ter filhos, e vai se vangloriar dizendo que os filhos deles ganharam dos seus, comeram Danoninho e tomaram Tang antes dos seus que, coitados, só mamaram (ah,ah!)
4) é um chato
5) não entende que a ausência de dentes significa necessidade de comida para as gengivas
6) vai ficar sem assunto nas consultas de puericultura
 

2 de abril de 2013

O Papa e a Baba


O que é pra uma criança (ou até mesmo pra um adolescente e inclusive pra alguns adultos) uma missa  católica senão uma seqüência de senta-levanta-ajoelha, toca sininho, senta-levanta-ajoelha, com um sermão no meio (até a hora do libertador - ou despertador -"Vamos em paz...")?
Não é função do padre (ele não é "pago" pra isso) transformar aquela (que Deus me perdoe) chatice num desenho animado da Pixar, ou qualquer coisa parecida.
Quem quiser se salvar que se salve desse jeito, meio torturado, brigando com o sono, a monotonia e, principalmente, com um cérebro fugitivo.
A maioria das salas de aulas atuais padecem do mesmo (pra ficar no tema) pecado.
Um garoto de 8, 9 ou 10 anos saudável se derrete de energia. Mas tem que ficar parado.
Se dispõe de mínimos recursos, tem como competição uma multimídia interessantíssima no seu smartphone (ou pelo menos no computador caseiro). Mas tem que prestar atenção naquela professora que briga com botões de um controle remoto.
A igreja católica perde adeptos no mundo inteiro por não ceder à conversa franca, à abertura, à uma modernização litúrgica (ou, pelo menos, à uma religião "de resultados"). Ainda vale na parte pobre da América, daí um papa ido dos nossos lados.
A escola ainda é o meio tradicional para o reconhecimento profissional. 
Mas precisará ser modernizada ao ponto de transformar seus alunos em pagadores de ingresso com fila na porta (sem falsa meia-entrada).
Ou isso ou tratar todo mundo de déficit de atenção.
Palavra de um senhor...