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26 de fevereiro de 2013

Ô, Xarope!


Uma das convicções mais arraigadas na mente das pessoas de baixa escolaridade ou “das antigas” (mas principalmente de ambas) é a de que toda tosse merece xarope.
Só não pode ser considerada uma idéia estúpida porque tem uma tradição a justificá-la.
O xarope nada mais é do que um subterfúgio melequento para enganar o paladar das concocções horripilantes no sabor - e inócuas no efeito - destinadas a acalmar a tosse das pobres criancinhas do passado (não esqueçamos que a Coca-Cola foi inventada assim).
Mas que – por ignorância, repito – continuam com todo o ibope.
Então não raro ao prescrevermos mil e um medicamentos (um pouco de exagero, claro), sejam na forma de comprimidos, injetáveis ou inalados para tratar as condições que geram a tosse na criança, as mamães nos olham com aquela singela expressão de desconfiança e/ou desagrado e perguntam:
- Mas não vai dar um xarope pra essa tosse? 

(obs.: muitas vezes até é o caso de se usar, principalmente para tosses irritativas, secas, com pouca secreção)
 

22 de fevereiro de 2013

Bebê-Mamão


Não importa o quão fofos
Não importa o quão glutões
Nunca, em hipótese alguma, se justifica a tentativa de se fazer dietas com restrição alimentar em bebês.
Sabe-se hoje que a glutonice (o “desespero” para mamar) é um excelente indício de que o bebê de hoje será o fofo de amanhã (com exceções), mas não há o que se possa fazer com um bebê mamão.
Até porque o ensinamento com longos anos de dietas restritivas – em que se tenta simplesmente diminuir a ingestão de calorias com o objetivo de emagrecer no longo prazo – mostra que o tiro costuma sair pela culatra: quanto mais proibida, melhor a comida, quanto melhor, mais comemos.
E isso aparentemente ocorre já no bebê.
 

19 de fevereiro de 2013

Dr. X e Dr. Y


Você talvez não saiba, mas a grande maioria dos médicos sabe (e algumas vezes se utiliza desse conhecimento de forma maldosa):
“Na Medicina, é fácil dar cara de ciência à bobagem”.
O que quero dizer com isso?
Imagine que um médico x - o Dr. X – diga a você que o seu problema decorre disso ou daquilo que você faz ou deixa de fazer e que, ao corrigir seu comportamento, você melhorará.
Você então, naturalmente, terá a tendência de modificar seu comportamento, esperando obter a melhora (ou cura).
Agora imagine outro médico, o Y – Dr. Y – que por má intenção ou por ignorância (por ambos é difícil!) afirme exatamente o oposto, e que, ao afirmar ou prescrever o oposto, termine por fazer mal a você.
Ambos são médicos. Ambos se nutrem da ciência (ou deveriam) para informá-lo sobre o que é bom ou ruim pra você. Você, no entanto, pode não saber discernir quem é o certo ou o errado, Dr. X ou Dr. Y. E ao ter optado pelo Dr. Y, na melhor das hipóteses, não melhorará (a pior hipótese é melhor não imaginar).
Ocorre que o Dr. Y pode ter mais “cara de ciência”, pelo terno que usa ou por, por exemplo, ser “a cara do Freud”(!) – ou por ter mais clientela, ou ter um consultório mais chique, ou pelo fato de se expressar muito melhor.
E aí? Com quem você vai consultar? (eu já estou quase agendando minha consulta com o Y...).
Ainda bem que o paciente está mudando. Se informando mais, questionando mais, exigindo mais.
Faltam duas coisas. Preparar o médico pras mudanças e achar médico suficiente para lidar com esse novo paciente.
 

15 de fevereiro de 2013

Expiação



Para as avós, pingo é enxurrada.
Frio é neve.
Tosse, pneumonia. Dupla, de preferência.
Capote é regata. Regata, pelado (tem menos que pelado?).
Ramela, conjuntivite. 
Barriga é verme. Falta de apetite, verme. Soluço, verme. Enjôo, verme. Verme? Verme!
Qualquer coisa no pescoço é caxumba. Até falta de pescoço é caxumba!
Pé no chão, infecção. Do pé? Não. Da bexiga! (E bexiga no chão, dá infecção no pé?).
Febre? Esfrega uma batata no pé. Ou põe couve. Tudo no pé.
Cenoura? Não, cenoura não. Só pra comer. Vitamina Q.
Vitamina o que?
A, B, sei lá. Diacho é que o menino não come! Tá fraquinho!...
Vai ver, é anemia. Ou pneumonia. 
Ou leucemia? 
Ou disritmia? 
Sei lá. Pra mim, é só neto.
Neto da Maria.
A fonte da sabedoria!

Um dia desses, uma vovó me perguntou de bate-pronto:
"Dizem que você não gosta de vó, né?"
Epa! "Gostar de vó" significa o que?
A pergunta faz tanto sentido quanto se eu gosto de sorvete.
De flocos eu gosto, de coco eu gosto, de chocolate eu gosto... Baunilha, não. Morango, odeio. Mas como de vez em quando.
Então: adoro certas vovós. Adorava especialmente as minhas.

12 de fevereiro de 2013

Os Cigarras e Os Formigas


Segundo a teoria científica da "repartição de nichos" do historiador da ciência Frank Sulloway, cada filho novo da prole ocupa um determinado "espaço" (ou "nicho") de vida.
O primeiro a chegar tem toda uma gama de possibilidades, seja em relação ao estilo de vida, escolha de profissão futura, habilidades desenvolvidas.
O "último da fila" (principalmente em famílias numerosas, fato mais raro atualmente), por ter que se adaptar às menores opções, tende a ser mais criativo, mais livre e/ou inovador, enquanto que o primeiro mostra quase sempre uma tendência mais "conservadora".
É o caso, por exemplo, de famílias que possuem um negócio qualquer, em que o filho mais velho vai assumindo as funções do pai, enquanto que o mais novo sai para viajar pelo mundo, para desbravar novos horizontes. Ou, em alguns casos conhecidos, vira "vagabundo profissional", mesmo!
É interessante, e faz sentido em termos evolutivos. 
Quando o "ninho" já está garantido pelo(s) mais velho(s), resta aos mais novos espalhar seus gens pelo mundo afora, para garantir a sobrevivência da família.

8 de fevereiro de 2013

Vai Que...



Provavelmente é mais uma vantagem, mais uma proteção do que um defeito, mas uma característica interessante de quase todos nós é a pouca capacidade que temos em aprendermos algo revendo raciocínios errados do passado, mesmo em fatos evidentes para os que "vêem de fora".
Um exemplo comum na pediatria:
Mesmo naquelas crianças em que, em circunstâncias recentes muito parecidas, se mostraram com problemas muito pouco sérios de saúde, no episódio atual, pais correm ao médico preocupadíssimos.
É como se dissesem:
"Agora, dessa vez, pode ser algo sério!"
É verdade, pode até ser. Mas o que desta vez - racionalmente falando - faz pensar que possa ser algo sério?
"Sei lá!..."
É provavelmente um raciocínio intuitivo estatístico: bom, bom, bom, mas às vezes ruim!
De novo: "normal", comum. Mas infeliz, no sentido em que a experiência gera pouca paz de espírito, não aplaca angústias.
E aí, diferenciar "neuras" de mera previdência pode ser meio complicado.
É a batalha diária do pediatra para o que se poderia chamar de preocupação "ao ponto". Nem demais, nem de menos.
Mas é algo que pais também devem tentar aprender.

5 de fevereiro de 2013

A Mudança



Poucas pessoas estão verdadeiramente preparadas para A Mudança - mesmo, ou mais exatamente principalmente - aqueles que se acham preparados.
Antigamente ninguém se preparava. E nisso consistia a própria preparação: em não se preparar! Até porque não existia como.
Acontecia.
As coisas se ajeitavam e, passado um tempo, acontecia de novo. E de novo...
Sem traumas? Sem erros?
Nada! Traumas, erros, de montão!
Mas... Dizem que é com os erros que a gente aprende...
E era verdade!
Hoje não. Todo mundo muito preocupado em não errar, em não cometer o mínimo deslize.
E aí, a coisa pega: tanta preocupação acaba levando à paralisia, ao "Maria-vai-com-as-outrismo", à exagerada escuta da opinião dos outros, ao próprio despreparo, no sentido mais amplo.
Ter filhos sempre foi e sempre será uma experiência única.
Quase todo mundo passa, quase todo mundo sabe o que se deve fazer com aquela coisinha nova que tanta revolução, tanta aflição, tanta preocupação, tanta alegria, custo, sujeira, barulho, empenho, sono, cansaço (faltou alguma coisa? - mas, espera, a maioria é negativa?) causa e, no entanto, parece ser tudo uma tremenda novidade.
Parece que é isso que é o bonito.
A novidade. O susto. O despreparo. Ou, mais exatamente:
A Mudança!...
(ponha entonação de filme de terror aqui:
A Mudaaannnçaaa!)

1 de fevereiro de 2013

Ah, Bruto Fruto do Querer!...



O teste chegava a ser quase ridículo pela simplicidade:
A crianças de 4 anos se oferecia um cubo de marshmallow e se pedia para esperarem por 1 minuto sem que comessem. Se conseguissem, ganhavam o dobro, dois marshmallows.
Essa experiência dos anos 1960, tão simples quanto genial, serviu para vários estudos sobre a personalidade humana desde então.
Crianças que tinham a capacidade de esperar pela gratificação redobrada possuíam melhor auto-controle. E, não de forma surpreendente, se mostraram com o passar dos anos (a experiência foi retomada quase vinte anos depois) muito melhores nos aspectos de relação social, conquistas acadêmicas, saúde global (dentre as medidas efetuadas, o óbvio índice de massa corpórea, o IMC, menor nos mais "controlados", mesmo na idade adulta), etc.
Esses fatos levaram o psicólogo Walter Mischel, da Universidade de Stanford - idealizador da pesquisa , um verdadeiro Big Brother pré-escolar, visto que as crianças eram filmadas nas suas atitudes frente à "tentação" - a hipotetizar sobre as capacidades, inatas ou aprendidas, frente aos desafios da vida.
Crianças capazes de pensar em estratégias (como, por exemplo, olhar para longe do doce, tamborilar na mesa para passar o tempo ou mesmo imaginar coisas menos tentadoras enquanto esquece da recompensa) têm tudo para manter esses dons vida afora, para seu próprio benefício.
Curiosamente, foram esses mesmos valiosos conhecimentos que as indústrias se apossaram nos últimos 40 anos com propagandas intensivas visando destroçar nosso auto-controle (agindo também desde o berço).
Isso é tão importante que o próprio Mischel sugere que deveríamos repetir o exercício nas pré-escolas:
"Toma aí o doce! Agora vamos esperar um minuto - um minuto apenas - para comê-lo!"
(Veja se você não apresentou o comportamento dominante na sociedade atual: Mas... tadinhas das crianças!... - Ponto para a indústria!)

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