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29 de outubro de 2013

Tranca


"Nariz-sempre-trancado-que-não-melhora-com-nada" nas crianças pequenas.
É um motivo de consulta tão banal quanto frequente.
Banal no sentido de que não leva a nada mais do que noites mal dormidas, alguma dificuldade para se alimentar e sofrimento empático ("companheiro") por parte dos pais, que vêem impotentes aquela figurinha triste.
Não "vira" nada quase nunca - não se transforma em pneumonia, "gripe mal curada" (uma apavorante entidade inexistente) ou qualquer outra coisa.
Gera a toda hora tentativas de medicações infrutíferas - e algumas vezes perigosas - bem como a alegria dos laboratórios farmacêuticos (que lucram mesmo é com pseudo-medicamentos populares de baixo custo de produção).
Nada mais revolucionário até hoje foi inventado do que uso liberal ("corajoso", num volume de cerca de 0,5-1,0 ml em cada narina) de soro fisiológico nasal, conhecimento do problem(inha) e paciência - que essa fase passa, a criança cresce e deixa de ser "ranhenta" (ou entupida)...
... A não ser que... venha a ter rinite alérgica (ou vasomotora) mais pra frente, mas aí, como se dizia no passado, são outros 500.

25 de outubro de 2013

Castelo de Cartas Faríngeo


Você já ouviu falar em colapsibilidade?
Não se avexe, pois quase ninguém ouviu!
Principalmente quando se trata de vias aéreas das crianças (pois o termo inicialmente remete à construção civil).
Então. Colapsibilidade é o termo que se concebeu nos últimos anos para definir as dificuldades que as vias aéreas superiores (principalmente a região faríngea - "garganta" e parte posterior do nariz) têm em deixar o ar que entra em direção à traquéia, independente da adenóide e amídala.
Sei que é complicado. 
Pode ser assim definido:
Quando os "culpados" pela apnéia (ou pelos roncos) da criança à noite não são a as adenóides (carnes esponjosas) nem as amídalas, quem mais pode ser culpado?
Uma faringe meio "mole" (hipotônica), uma mandíbula pequena, uma língua grande para o tamanho da boca, etc.
São detalhes que muitas vezes escapam à percepção dos pais (e também dos próprios médicos!). Principalmente porque não há um marco definitivo na apnéia do sono da criança (apenas roncos? despertar frequente? sonolência excessiva diurna? todas as anteriores?).
Na própria necessidade de tratamento (cirúrgico - retirada ou "corte" nas adenóides, clínico - uso de medicamentos como os corticóides nasais) não há consenso.
Vale a vigilância. Vale o dimensionamento (clínico e radiológico) das amídalas e adenóides (mas, como dissemos, não é parâmetro definitivo). Vale também a percepção por parte dos pais do esforço respiratório da criança (ou mesmo a sua filmagem). A polissonografia pode ajudar (e é considerada o "padrão ouro" para a tomada de decisões) mas nem sempre é necessária (e envolve algumas "complicações" - quer dar boas risadas? acesse este blog para ter uma idéia). Alterações no crescimento, hipertensão arterial, dificuldades escolares, etc. podem estar associados, principalmente nos casos mais severos (e já de mais longa duração).
Só pra variar, é mais um caso que uma resposta simples é difícil de ser dada... 

22 de outubro de 2013

Diferenças na Diferença


Somos preconceituosos, é um fato (ainda que não gostemos de admitir – e ainda que devamos nos esforçar para não sê-lo).
Dentre os preconceitos inevitáveis (e terríveis, contra os quais temos a obrigação de lutar) estão os direcionados às pessoas com anormalidades genéticas. E dentre estas, a síndrome de Down ocupa uma posição de destaque, principalmente pela sua frequência.
Um fato pouco conhecido que agrava a situação dos portadores de Down é o das diferenças “intra-Down”.
São basicamente três os defeitos que podem levar o cromossomo 21 à trissomia. E no caso de um dos três, o mosaicismo (anormalidade genética presente em apenas parte das células, o que “abranda” as características presentes nos outros portadores, gerando um Down “mais leve”), as capacidades aprendidas pelo seu portador faz com que os outros Down sofram preconceitos do estilo: “Se ele consegue, por que você não?”.
Isso é péssimo. Quem já passou pela experiência da comparação por parte de pais, familiares, vizinhos (quase todo mundo já passou) sabe o quanto isso joga para baixo mais do que ajuda. 

Comentários?

18 de outubro de 2013

Copo 1% Cheio É Pingo


A doença celíaca tem uma incidência na população de aproximadamente 1%.
São um em cada cem que, diagnosticados, devem ter uma vida inteira de dieta - que exclui basicamente pães, bolos e biscoitos, ou seja, boa parte das delícias da vida - para afastar a possibilidade de complicações várias de saúde, que vão de diarréia crônica com desnutrição até doenças cardíacas ou câncer do aparelho digestivo.
Dito isto - visto que característicamente a doença celíaca é muito heterogênea na apresentação e pode dar as caras tardiamente, quando certos estragos são irreversíveis - se deve triar a população inteira, com um simples exame de sangue?
A pergunta não tem resposta conclusiva.
Não diria que não. Mas alguns pontos a favor da negativa são fortes. Como a dúvida se a evolução será sempre ruim para quem não tem sintomas claros. De novo, o problema é que sintomas podem vir um pouco (ou bastante) tarde demais.
Outra questão séria é ter força de vontade de se privar de coisas deliciosas por uma vida sem ter estado exatamente doente (apenas com a expectativa de vir a estar).
Então a polêmica continuará.
Cabe ao médico - e à própria população, estando ela apropriadamente informada - estar alerta à possibilidade (história familiar de doenças autoimunes como a diabete tipo 1 ou casos de câncer gastrointestinais aumentam as chances, por exemplo, e talvez devam, sim, ser triados).



15 de outubro de 2013

Batalha


Fui filho da classe média.
Filhos da classe média têm muros construídos pelos seus pais ao seu redor.
São cegos a outra realidade, a realidade maior. 
Nunca ouviram falar em falta de água. Água é uma coisa que simplesmente existe, flui. 
Saneamento é somente uma palavra no dicionário, e não uma conquista.
Dinheiro sim, é uma conquista para os filhos da classe média. Para a aquisição de mimos, pois o essencial... O essencial já existe!
Médicos costumavam vir de todas as classes. Mas o que chamamos hoje de "média" conta com luxos impensáveis mesmo para as classes altas do passado. 
Com os custos da formação, a medicina passou a ser algo não da elite intelectual, humanística ou o que quer que seja.
Passou a ser da elite econômica, financeira. Elite classística, acostumada a fechar os olhos, ou mais do que isso - mais grave e incorrigível - a não tê-los desde o nascimento.
Deveriam tratar de seres humanos aflitos, que sofrem, que não compreendem, desprovidos. Não do mimo. Desprovidos do básico.
Não é essa a clientela do médico. Essa é uma clientela que nem chega a ele. 
Aprenderam a ser virar, com balconistas, charlatães, benzedeiras. Ou, no máximo, um arremedo de médico, aquele "que ninguém quer".
Volta e meia, essas duas realidades se entrechocam, nas longas e sofridas esperas de Pronto Socorros. Um não reconhece o outro. Se agridem, se odeiam. Um parece que precisa demais, o outro parece não querer saber que aquele existe ou, o que é mais provável, passa a conhecê-lo ali, e se assusta com o que vê.
Canetas e decretos presidenciais são impotentes frente a esse fenômeno. Mesmo o dinheiro parece não resolvê-lo.
É hora de repensar o médico. Repensar o ser humano.
Ou será que já é tarde? 

11 de outubro de 2013

Olhos nos Olhos


Não sei se você sabe, mas em muitas consultas - pelo menos naquelas em que temos mais tempo de contato - nós, médicos, percebemos no olhar (e nos sorrisos, nos cenhos franzidos, na postura, etc.) quando estamos "abafando" (claro que "abafando" é exagero, ninguém precisa e nem deve "abafar" numa relação médico-paciente) ou, ao contrário, quando não estamos absolutamente agradando (e aí, de novo, não precisamos exatamente "agradar" aos pacientes - não principalmente no sentido fornecedor de serviço-cliente como a "moderna Medicina" quer nos fazer engolir).
E então você pode dizer: e daí?
Daí, nada (seu mal educado!).
Agradando ou não, "abafando" ou não, continuamos atendendo com um sorriso (e uma pequena casca de feijão) nos dentes. É nosso dever.*
Mas que a coisa flui, que é muito mais prazeroso quando percebemos a sintonia, lá isso é.



* Sempre pensei que a Xuxa (alguém que particularmente nunca apreciei, me desculpe a geração anos 80), quando ia todas as manhãs à televisão cantar "Todo mundo está feliz!" e outras cançõezinhas "pra cima" podia estar com sérios problemas pessoais (ou com uma simples dor de dente), mas não podia absolutamente demonstrar. Mas por que a Xuxa? Sei lá!...

8 de outubro de 2013

O Magro Coro dos Ultrapassados



Sou um cara totalmente ultrapassado.
Se alguém quiser ouvir a opinião de "uma pessoa totalmente ultrapassada" em algum debate ou congresso, pode me chamar, com tarja embaixo do nome e tudo ("Oscar, médico totalmente...").
Por que essa auto-depreciação toda?
Porque a cada dia aumenta o coro dos "moderninhos" (expressão obviamente ultrapassada!).
E na minha área, assim como na maioria, ser "moderninho" é o que importa, não importam as consequências.
Isso acontece com remédios (algo que vivo com mais frequência), com propostas de exames, com tratamentos, etc.
Mas acontece para todo lugar para onde dirigimos nosso olhar.
Ninguém consegue mais tomar decisões que contrariem o modernismo sem passar por "alienado", "excêntrico" ou... totalmente ultrapassado!
Proibido pensar. Vetado questionar. Inimaginável discordar.
Há algo mais desejável para o "mainstream" (outra expressão moderninha, por isso em inglês, mas já meio carente de significado, pois quase que só há "main" stream hoje em dia)? 
Quer campo mais fértil para a imposição de normas, tratamentos, bens de consumo, políticas públicas (e etc, e etc.) para uma população que "pensa que pensa" ou que "pensa que escolhe", mas que no fundo só quer ser..."moderninha"?



4 de outubro de 2013

Como Estou?


Quando você vê uma criança pequena gripada, já parou pra pensar o que ela deve sentir?
Para além dos sintomas que todos nós - seres aparentemente capazes de compreender o que se passa - também sofremos, como narizes sufocantes, tosses incômodas, dores no corpo e etc., a criança sente a gripe (como demais outra doença qualquer) como algo definitivo, que se apoderou dela para sempre. 
Para entendermos seu mau humor, sua irritação, é mais ou menos como quando nós adultos temos um diagnóstico de uma doença crônica.
O único provável atenuante é que crianças são seres otimistas por natureza - a maioria delas não aprendeu o pessimismo, e nisso alguns adultos são craques.
Elas então, possivelmente, intuem a melhora futura. 
Já adultos doentes muitas vezes deduzem (por terem aprendido) complicações, gastos, incapacidades e, por que não, morte.  E nem sempre estão errados...
O resumo do estado emocional da criança doente poderia ser:
Um inocente (ignorante) sofrimento "crônico" relativamente otimista!

1 de outubro de 2013

Escorregão Evolutivo


Pais do mundo inteiro se perguntam os motivos da maturação sexual mais precoce dos seus filhos (mas principalmente das filhas).
Um aspecto que tem sido estudado recentemente (e pouco levado em conta, ou mesmo admitido) é a questão social.
Meninas que crescem em lares desfeitos ou com muito pouca atenção paterna tendem não só a se sexualizarem mais cedo (vestirem roupas mais curtas, usarem saltos altos, maquiagem, etc.), mas também a apresentar características sexuais secundárias (desenvolvimento de mamas, pêlos genitais e menarca) mais precocemente (descontados fatores genéticos e/ou doenças endócrinas).

Por mais cruel possa parecer, é como se o organismo da moça apressasse a "apresentação" social (ou sexual, em última análise) para a criação de um novo lar (possivelmente mais "estável" que a dela própria - e é aí que a evolução "pisa na casca da banana", muitas vezes, criando ciclos viciosos de lares desajustados).