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31 de julho de 2012

Mau das Argolas


Nosso desempenho ridículo nas Olimpíadas para um país do nosso tamanho reflete muito mais o que se faz – ou se deixa de fazer – em termos de políticas nacionais do que nosso propalado ranking de economia mundial, onde somos um sexto lugar muito mais por circunstâncias de outras partes do mundo do que por méritos próprios, só para variar.
Um país da rapaziada do tchum-tcha-tchatchatcha, da cerveja, e da vodka barata está se tornando muito pesado para ser erguido num salto com vara, está muito mole para correr os 100 metros rasos, está com o fígado muito inchado para nadar um revezamento e ganhar medalhas.
A medalha olímpica é em muitos países apenas o resultado final de profundas mudanças de políticas públicas, de valorização do potencial dos jovens, da educação levada a sério, da sala de aula ao ginásio esportivo.
Nossas medalhas são acidentes. Dependemos sempre de fenômenos. Daianes dos Santos e Joãos do Pulo só são descobertos porque qualquer um os enxerga, na rua ou num quartel.
Por isso o futebol nos faz tão felizes. Craques da bola prosperam no quanto melhor pior.
E é por isso que estamos começando a perder terreno também no futebol. Temos menos várzeas, menos campinhos, só as favelas é que continuam por aí.

27 de julho de 2012

O Remédio do "Vai Que..."


A gente tem visto um antiviral sendo usado a torto e a direita ultimamente (não confundir com antigripal, combinação de “descongestionante” com analgésico, há muito condenado no uso pediátrico).
E para que usar antiviral?
O nome antiviral já é algo enganoso, pois o oseltamivir (Tamiflu) não mata exatamente o vírus, apenas impede por um curto período a sua propagação rápida para outras células do organismo - e isso se tomado precocemente.
Aí paramos para pensar: por que não tomávamos nunca em anos anteriores a 2009, visto que a medicação já existe há uma quinzena de anos?
Estávamos correndo mais risco das gripes complicarem antes do que estamos correndo agora, com seu uso quase indiscriminado?
É a medicina atual do “vai que”.
Pensa o médico do atendimento em emergência:
Vai que eu não receito. Vai que evolui mal (ou vai que morre!). Vai que me processam!
Toda uma sucessão de possíveis “zebras” para cada paciente (e que não é exatamente culpa de ninguém, curiosamente, é culpa de todo um sistema) sendo substituído por mais uma pílula supostamente milagrosa.

24 de julho de 2012

Em Ponta de Faca


O que acontece com o ibuprofeno é daqueles casos de marketing bem feito. Mais ou menos como continuar vendendo cigarro pra quem sabe que faz mal pra saúde, mas... “aquela fumacinha dentro da gente é tão boa!...”
Porque para os médicos é como se quase todos tivessem “esquecido” da fórmula química (“É um antiinflamatório! Tem os mesmos riscos que os dos outros antiinflamatórios? Não sabia!...”).
Porque pros pacientes é “a novidade que pegou”.
Principalmente porque os pais estão sempre meio insatisfeitos com os efeitos “fracos”, insuficientes, do paracetamol.
E também porque a velha dipirona sempre sofreu dum preconceito injustificado – embora tenha salvado e ainda salve muitas famílias de apertos com febre e dor (mas é remédio, e como todo remédio...).
Então fica parecendo que essa “novidade” (da última década, aqui pra nós) é uma maravilha.
Não é. Não deve ser demonizada. Funciona bem pra algumas coisas como dores de causa ortopédica ou reumatológica – como, aliás, a maioria dos antiinflamatórios – alguns casos mais resistentes de enxaqueca em criança, e pouca coisa a mais.
Não se deve dar pra bebês. Não se deve dar para quem tem problemas respiratórios como asma ou “bronquites”. Deve se ter precaução com efeitos adversos gástricos. Pode excepcionalmente dar alguma “zebra” como problemas renais. E por aí vai...
Meu ranking?
1) paracetamol: mais seguro, experiência clínica mais longa, pode ser usado até a cada 4 horas em prazos curtos.
2) dipirona: já expliquei aqui essa questão do preconceito com ela, mais efetiva em febres mais altas

Mais eu sei que vou tomar cacetada (difícil concorrer com as táticas da indústria farmacêutica)!

20 de julho de 2012

Os Obesos de Outrora


Me peguei pensando nos amigos de infância (lá se vão... deixa pra lá!), naqueles que eram obesos e tentando diferenciar dos obesos de hoje em dia.
Eram quase todos (os que eu conhecia) muito ativos fisicamente, quase todos com muita atividade ao ar livre (do tipo que voltava para casa apenas quando escurecia).
Comiam muito, a maioria. Muito mais do que os não obesos, certamente (ainda que comessem proporcionalmente muito, mas muito mesmo, menos bobagens – a indústria prosperou na capacidade de criar ETs comestíveis).
Eram mais saudáveis? Acredito que sim, pois não me lembro de dores disso ou daquilo – ou qualquer outro problema físico – os retirando de circulação nas brincadeiras.
E psicologicamente?
Também acho que estavam mais à vontade. Até porque não sofriam desse estigma todo que hoje sofrem. Menos mídia. Menos culpa.
Uma grande preocupação ainda meio oculta é com os magrinhos pouco saudáveis metabolicamente (os “MPSM”, que tal?).
Esses também abundam. Mas, por serem naturalmente menos notados, só vão se descobrir pouco saudáveis lá na frente...

17 de julho de 2012

Lactodependência


Não que o leitinho seja uma coisa ruim, muito pelo contrário.
Num mundo cheio de suquinho disso e suquinho daquilo, o suquinho da vaca ainda ganha de longe.
Problema é que o pessoal exagera.
Não é à toa que no espaço de duas ou três gerações os maxilares da criançada estão visivelmente diminuindo, coisa não explicada pela genética.
Levam anos pra morder alguma coisa – pelo menos alguma coisa de comestível. Acham muito mais fácil a mamadeira, que além de tudo ainda os mantêm mais infantilizados, com direito ao colinho.
Juro, a coisa tá tão séria que algum tempo atrás ao examinar um recém-nascido na maternidade, perguntei ao pai:
-E aí, já mamou?
O pai olhou pra mim meio surpreendido e perguntou:
- Eu?

13 de julho de 2012

Fetiche


Alguém tem uma piscina de bolinhas aí, que eu quero me afogar?
Ainda falando do estetoscópio: há um movimento sendo orquestrado para aposentar o aparelho centenário. Dizem que não serve mais pra nada, visto que há aparelhos de raio X, ultra-som, tomografia e etc., e que então não há a menor necessidade do médico ficar perdendo tempo com firulas de exame físico.
E tem gente de aparente respeito na discussão, como o site inglês do British Medical Journal.
Então a partir de agora será assim: entra o primeiro paciente, o que tem, tosse, raio X; entra o segundo paciente, dor no peito, tomografia; entra o terceiro, espirro, rinoscopia...
Estamos tentando resumir o clínico a um mero “pedidor de exame”, sem necessidade de nem ao menos levantar a bunda da cadeira para encostar nessa “coisa” paciente, pra que, né?
Menos contato, mais exame. Mais exame, mais lucro para todos. Menos calor humano por parte da figura médica, mais remédio. Menos conversa fiada.
E eu que estava pensando em gerar cobrança dos convênios: estetoscopada frente e verso, 10 reais, estetoscopada lateral, 5 reais...
Vou ter que achar outra fonte!

10 de julho de 2012

O Mito do Estetoscópio Gelado (Parte I e Única)


Não sei quantas vezes (acho que centenas de milhares) ouvi o seguinte comentário em relação ao estetoscópio, ao ser colocado no corpo da criança pequena:
-É geladinho, né?
Enquanto ainda não inventam (a patente será minha, tá aqui registrado, viu?) o estetoscópio quentinho, quero explicar aqui o que dá preguiça no consultório:
Não, não é geladinho. Nem mesmo nos dias de inverno chega a ser geladinho. É, no máximo, não quentinho.
Mas por que o estranhamento da criança no exato momento em que encosta?
Provavelmente porque para ela um tubo negro que sai diretamente das orelhas daquele monstruoso ser (eu, no meu caso) à sua frente, e que vem se aproximando com cara de más intenções (a criança percebe isso, acredite) com uma ponta que pode despejar de um ácido corrosivo (a fantasia dela, gente!) a uma centena de microscópicas agulhas (ainda fantasia!) certamente será algo assustador.
Como se pode perceber, muito mais assustador que um simples “geladinho”.

6 de julho de 2012

Insensato Frenesi


A minha teoria é de que quanto mais saudáveis estamos, mais sarna procuramos para nos coçar.
Tô falando da gripe, que todo ano quase que por falta de coisa melhor – ou, nesse caso, pior – para nos preocuparmos, gera uma onda não de doença, mas de corrida a consultórios, postos e secretarias de saúde atrás da “agulhada mágica”, que irá nos proteger desse tão ameaçador quanto invisível germe.
E aí, as confusões e desinformações são impressionantes.
Primeiro, quem disse que vacina é pra todo mundo? Quem disse que somos todos grupo de risco? Onde está escrito que um vírus virá e varrerá o planeta, levando não vacinados às valas comuns?
Isso já existiu no passado, e todo mundo sabe.
Mas foram germes e condições sanitárias de exceção.
Não vai acontecer a cada ano.
E mesmo que você tenha sido um dos milhares de apavorados que não saíram de casa há dois anos (quando esse pânico começou de forma amiúde) e depois descobriu ter sido assustado à toa, deveria estar percebendo o quanto nossa memória é mais fraca que nossa imunidade, que a prometida pilha de corpos nas ruas das cidades é provavelmente coisa do passado (ou, pelo menos, rara no decorrer dos séculos).
Vírus são mutáveis por definição. Quando as seringas são despachadas para o mundo todo, vírus com caras e cores diferentes riem-se do povo tomando agulhada - ainda que temam nossas eficazes células de defesa, que costumam dar um pau nessas frágeis criaturas.

3 de julho de 2012

Trata-Tudo?


Não é de se espantar que estejam descobrindo possíveis efeitos positivos do leite materno no tratamento do câncer.
Substâncias presentes no leite são imunomoduladoras por excelência, isto é, jogam a favor da imunidade e contra células intrusas, e as células cancerígenas podem ser consideradas como grandes penetras da festa celular orgânica.
Se chegarão a fazer diferença ainda é cedo pra dizer, e têm contra si o fato de brigarem contra terapias lucrativas para os laboratórios farmacêuticos, mas a hipótese dos efeitos anti-replicação celular (ou mais especificamente da eliminação seletiva das células tumorais) é plausível.
Uma das moléculas descobertas tem até nome "literário", Hamlet (de Human Alfa-lactoalbumina  Made LEthal to Tumor cells  ou Alfa-lactoalbumina Humana Letal às Células Tumorais - nominho meio forçado, né?).
Pois é.
O interessante mesmo é que o velho leitinho materno de sempre não  pára de acumular evidências de efeitos benéficos quanto mais sobre ele se estuda.
E tem gente que joga fora, recusa-se a dar esse alimento vital para os seus pimpolhinhos.
(e ainda tem país que considera a vaca como sagrada!)