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6 de julho de 2018

Assim É


"Senhoras e senhores, com vocês o ilustre senhor Charles Darwin, que irá falar da sua incrível teoria (da evolução das espécies), que deverá revolucionar todas as ciências humanas daqui para frente!"
Palmas!
Não foi assim. Ou até foi, mas durou muito pouco.
Quando apresentou seus morosos exemplos baseados em anos de viagem na sua caravela Beagle à Royal Academy, os assistentes só faltaram cair da cadeira de tédio e sono (como descreveu com humor o escritor recém-falecido Tom Wolfe, no seu livro "O Reino da Fala"). 
E costuma ser assim. Lembro de ter ido animado à uma conferência do "descobridor" do vírus da Aids Robert Gallo logo ali, em Florianópolis, no auge da epidemia. Pompa e circunstância. Outra decepção: não entendi lhufas do que dizia o famoso senhor, e também foi difícil ficar acordado.
No caso de Darwin, ninguém se tocou (o que também é comuníssimo) da importância. Nem do tema, nem da figura (Darwin já era um pesquisador eminente, mas ainda não alçado ao Olimpo da ciência).
No meu caso, por pura ignorância na profundidade da palestra conferida (Gallo partiu logo pro molecular, e deixou quase todos a espreitar navios na Baía Sul).
Escrevo isso porque costumo perceber a dualidade no ensino. O excelente é, muitas vezes, "chato", e o superficial, o que não acrescenta, "bacana", interessante, "cool".
O ideal seria a mescla. Mas muitas vezes não dá. Darwin não devia ser um primor como palestrante. Nem era seu intento. Possivelmente sentia-se mais à vontade com seus camaleões em Galápagos (Galápagos tem camaleões?). Azar de quem esperava outra coisa. Mas correu-se o risco de ter que se esperar por mais cem anos (curiosamente Darwin se apossou de boa parte das idéias de um tal Alfred Wallace, pesquisador muito menos conhecido, que confiou seus trabalhos a ele...).

Essa "triste" idéia, a de que o ensino, a educação, dependem também de "ralação" deve ser passada às novas gerações por pais e professores (e muito mais com exemplos do que com palavras).