"Não"
"As crianças caíam do carro à toda hora. Era fazer um curva mais forte, e lá ia uma criança rolando pra fora! Uma desgraça!"
"Sério?"
"Sério! E sem cinto traseiro, então... Porque não sei se você sabe, mas cinto traseiro também não existia. Ou até existia, mas ficava ali dentro dos assentos a vida toda, entre a chupeta perdida e os grãos de pipoca. Muito menos airbag, em qualquer parte do carro. Então era aquele festival: criancinhas inocentes, catapultadas nas vias públicas. Um horror! Sem falar no atrapalho no trânsito, com todas aquelas mães à procura dos filhos caídos, como se fossem anjos do céu..."
"Você não tá exagerando, não?"
"Exagerando? Imagina! É porque você não viveu essa fase! Você vive na era da segurança total, do erro zero, da ausência de falhas, onde todos os perigos são previstos"
"A não ser esses casos..."
"Que casos?"
"Esses casos, de crianças esquecidas dentro dos carros por um dia inteiro..."
"Ah, mas daí você me sacaneia! A criança ali, com cadeirinha, cinto de segurança, porta auto-travamento, airbag lateral... Segurança total, né? Você ainda quer que os pais lembrem sempre de tirar elas do carro?"