Impressionam as reações de certas crianças acostumadas a uma vida de maltratos - não maltratos propositais, maldosos, mas maltratos da vida, das condições sociais subótimas - que, ao chegarmos nós, pediatras, apenas mais um dos seus supostos agressores, mansamente, brincando, explicando procedimentos, acariciando enquanto examinamos, vamos percebendo expressões de medo, de desconfiança transmutando-se em "êpa", "como assim?", "pode isso, alguém tão bom (ou pelo menos, nada ruim)?", e, ao final, sorrisos, aleatórios dentes à mostra e, em alguns casos, conversas, provocações, gritos de desafogo confundidos com alegria e, quem sabe, na saída, à pedido de uma mãe igualmente surpresa, até mesmo... um beijo!
"Doutor, então quer dizer que estou curada para sempre?"
"Se por sempre se entende o momento compreendido entre o início da sua pergunta e o final da minha resposta imagino que... sim!"