Você já ouviu falar de alguém que compreenda todos os mecanismos envolvidos no funcionamento do universo?
Absurda tal suposição.
O organismo humano é, também, um universo. Um universo em miniatura. Nas suas mesmas complexidades, nos seus mesmos insondáveis mistérios, na sua plácida insensibilidade aos esforços para modificá-lo (e, a se pensar bem, mesmo a aparente contradição da fragilidade humana comparada à solidez do universo desaparece em se tratando de escala).
E alguém que suponha conhecer a natureza humana - assim como alguém que se assoberbe em ter as chaves do mundo na palma da sua mão - pode tranquilamente ser elevado (pois "elevado" talvez seja) à categoria de louco.
E - pensa bem - não é o que nós, médicos, muitas vezes cremos fazer?
Um remédio, uma cirurgia salva ou melhora. Piora ou extingüe. Assustadoramente fácil, por vezes.
Ainda assim, nos mantém ignorantes.
Ignorantes dos motivos da resistência de uns e da pobre resposta de outros. Da recusa ou do envolvimento. Da fácil desistência. Das superações, ou do entorpecimento. Da brutalidade ou da mansidão absoluta.
Ignorante das doses. Do efeito placebo. Da real necessidade disso e daquilo. Ignorantes dos reais motivos pelos quais fomos consultados.
Arrogantes e presunçosos ignorantes diplomados.