Caro Coelho:
Não costumo escrever pra você.
Em primeiro lugar, porque não sei se você sabe ler.
Em segundo lugar, porque escreva ou não escreva, você me
deixa os ovos do mesmo jeito – diferente do Papai Noel, velhinho carente que,
se eu não escrever, provavelmente vem de saco vazio.
Mas eu tô escrevendo é pra pedir desculpa.
Ano após ano meu papai e minha mamãe prometem a você a
minha chupeta.
Não sei se eles realmente entregam.
De qualquer forma, no período próximo à Páscoa, a conversa
é sempre a mesma. Vamos dar pro coelhinho (você)!...
Passado algum tempo, tá lá (aqui) a chupeta de novo. Basta
um chorinho da minha parte. Se não é a mamãe, é a vovó ou a titia que me
devolvem. E você, coelho, fica de novo a ver navios (tem navio, aí de onde você
vem?).
Esse ano a conversa é diferente.
Vou entregar.
Por mim mesmo. Decidido.
Quatorze anos de chupeta são mais que suficientes.