Uma notícia da semana passada passou batida: a de que se está criando antibióticos "redesenhados" para combater bactérias ultrarresistentes (no caso, o antibiótico é a vancomicina, para atuar contra bactérias hospitalares resistentes a quase tudo).
Mais um grande degrau na eficiência antibiótica vai sendo galgado.
O que preocupa, e muito.
Porque não é assim que a coisa deveria funcionar: antibióticos mais potentes, bactérias mais resistentes, antibióticos mais potentes ainda, bactérias mais resistentes ainda, num interminável ciclo que só pode acabar mal. Para nós!
Pare pra pensar. Por que será que ao invés disso a sociedade como um todo não faz o caminho contrário: uso mais consciente, campanhas públicas, menos uso, bactérias voltando a ser sensíveis...
Porque não interessa à poderosa indústria (que interesse existe em voltar a vender "penicilinas", a preço de troco?). Porque a população, na sua ignorância, acha que em medicina "quanto mais, melhor" (vemos a decepção dos pacientes ao se propor o freio no uso de antibióticos, ou a volta a um uso mais racional). Porque o lobby do saudável "natureba", da sensatez na aplicação de recursos é pobre (como o blog que vos fala), contra o chic do último recurso, dos gastos em alta tecnologia farmacêutica (que, claro, têm que ser recuperados).
As bactérias são altamente capacitadas para desenvolver resistência por um motivo básico: elas se multiplicam rapidamente, criando alternativas evolutivas contra seus inimigos, os antibióticos.
Nós, não. Só temos esse mesmo corpinho, com suas defesas enrijecidas pelos nossos cem anos imutáveis, em termos de evolução. É de dar inveja.