A cada nova época, só se faz confirmar o gênio shakespeariano.
Um dos seus mais célebres monólogos, o do "ser ou não ser" (Hamlet), continua com um convite à morte, pois com o "sono" (a morte) "terminamos com o pesar do coração, e os mil naturais conflitos que constituem a herança da carne".
Sim, a morte deve ser muito efetiva pra isso - ainda que não se possa ter uma certeza absoluta até que se "chegue lá".
Mas nossa época inventou mais uma poderosíssima "arma", com grande eficiência, sem que se necessite recorrer à drasticidade da morte: a tecnologia (e mais especificamente, a internet).
Se vivo hoje, Shakespeare provavelmente criaria algum monólogo enfatizando a capacidade dos gadgets de nos afastar da dura realidade, dos conflitos, mesmo quando aparentemente vamos de encontro a eles. É interessante (e chega a ser mesmo meio bizarro) que a gente recorra à violência (games, séries e filmes) para esquecer das nossas próprias angústias, que a gente busque as notícias dos problemas dos outros pra esquecer dos nossos próprios problemas.
Assim
preenchemos os espaços ociosos das nossas vidas
com tantas (e "viciantes") coisas que,
nos raros momentos em que abrimos os olhos
(quando falta energia ou quando estamos no "modo avião"),
ao nos darmos conta,
percebemos que andamos mais casinhas
do que pensávamos estar andando.
(Por essa, Shakespeare também não esperava).
Adaga poupada.