Eu sei que vão me jogar pedras de todo o lado de novo. Uma lapidação a mais não vai fazer grande diferença:
Há pouco mais de dois anos fiz aqui uma aposta: a de que o próximo teste "inho" a ser instituído nas maternidades brasileiras seria o do cocô, teste do cocozinho ("teste da caquinha?")
Perdi (mas ele ainda vem, nova aposta!).
A novidade (pois os legisladores sabem que adoramos novidades) é o "teste do coraçãozinho".
Mais uma balelinha oficial.
O teste, uma medição da saturação de oxigênio (oximetria) do bebê que deveria detectar problemas cardiológicos que escaparam dos crivos do ultrassom gestacional e do exame clínico por parte do pediatra (este, claro, cada vez menos importante, pois temos gadgets para substituí-lo), começa agora a pipocar por aí.
Bom. Aparentemente.
Um estudo recente mostrou que aproximadamente 10 mil crianças passarão pelo teste para que uma tenha detectado problema não identificado de outra forma.
Pouco? Muito? Julguem vocês.
São dez mil bebês que terão que colocar a geringonça nos seus braços e pernas (indolor, é verdade). São dez mil mamães que terão que esperar mais esse procedimento com as malas e sacolas arrumadas embaixo do leito hospitalar.
Mas, e o pior?
Nesse mesmo estudo citado, 163 bebês (de uma amostra de 20 mil) apresentaram resultado falso-positivo. Significa que seus pais foram avisados de que "Ôpa, podemos ter aqui um problema!" (com toda a ansiedade que isso causa, com consequências desprezadas), mas que, após avaliação ecocardiográfica, nada de anormal apareceu.
Vale a pena?
Burocratas e políticos (burocratas e políticos médicos, na maior parte) decidiram por todos: sim.
Mães, desfaçam suas malas. Tragam televisão e, talvez, geladeira.