Tolstoi, no seu “pequeno” e magnífico “Guerra e Paz”, tenta analisar as causas das glórias e fracassos do exército napoleônico.
Escreve:
“Quando uma maçã se torna madura e cai, por que ela cai?
Porque seu peso a atrai à Terra, porque seu pedúnculo se resseca, porque o sol a queima, porque ela se torna muito pesada, porque o vento a balança ou é porque o menino que se situa ao pé da árvore tem vontade de comê-la?
Nada disso constitui a causa. Não há senão uma concordância de condições nas quais se realizam todos os eventos vitais, orgânicos, elementares. E o botânico que dissesse que a maçã caiu pela ação da decomposição dos tecidos celulares ou outras causas análogas teria tanta razão quanto a criança aos pés da macieira que dissesse que ela caiu porque ele teve vontade de comê-la e porque ele pediu ao bom Deus”.
E lá na frente (centenas de páginas depois):
“O conjunto de causas de um fenômeno qualquer é inacessível ao espírito humano. Mas a necessidade de se buscar estas causas é própria da alma humana. E o cérebro, incapaz de penetrar na infinidade e na complexidade dos fenômenos, toma um fenômeno isoladamente para representar uma causa, se agarra à primeira relação de casualidade percebida – a mais acessível – e diz: está aí a causa.”
A lucidez das análises se presta não apenas para situações históricas, mas de resto para qualquer outra matéria.
Na Medicina, por exemplo, podemos tentar uma “tolstoizada” (com o devido respeito):
“Quando um sujeito enfarta (e cai), por que ele enfarta?
Porque seu colesterol era demasiadamente elevado, porque ele exagerou no esforço físico do dia anterior, porque ele andava muito estressado, porque sua coronária anterior mostrava uma obstrução de 80%, porque a situação com a sua patroa andava meio periclitante, ou simplesmente porque seu peso (que não era pouco) foi atraído pela Terra”.
Há médicos (e artigos médicos em publicações “de prestígio”) que querem nos fazer acreditar em uma ou outra causa isoladamente (quase sempre aquela para qual há tratamento medicamentoso ou cirúrgico disponível).
E quase todos nós caímos.
Como a maçã de Tolstoi.
Escreve:
“Quando uma maçã se torna madura e cai, por que ela cai?
Porque seu peso a atrai à Terra, porque seu pedúnculo se resseca, porque o sol a queima, porque ela se torna muito pesada, porque o vento a balança ou é porque o menino que se situa ao pé da árvore tem vontade de comê-la?
Nada disso constitui a causa. Não há senão uma concordância de condições nas quais se realizam todos os eventos vitais, orgânicos, elementares. E o botânico que dissesse que a maçã caiu pela ação da decomposição dos tecidos celulares ou outras causas análogas teria tanta razão quanto a criança aos pés da macieira que dissesse que ela caiu porque ele teve vontade de comê-la e porque ele pediu ao bom Deus”.
E lá na frente (centenas de páginas depois):
“O conjunto de causas de um fenômeno qualquer é inacessível ao espírito humano. Mas a necessidade de se buscar estas causas é própria da alma humana. E o cérebro, incapaz de penetrar na infinidade e na complexidade dos fenômenos, toma um fenômeno isoladamente para representar uma causa, se agarra à primeira relação de casualidade percebida – a mais acessível – e diz: está aí a causa.”
A lucidez das análises se presta não apenas para situações históricas, mas de resto para qualquer outra matéria.
Na Medicina, por exemplo, podemos tentar uma “tolstoizada” (com o devido respeito):
“Quando um sujeito enfarta (e cai), por que ele enfarta?
Porque seu colesterol era demasiadamente elevado, porque ele exagerou no esforço físico do dia anterior, porque ele andava muito estressado, porque sua coronária anterior mostrava uma obstrução de 80%, porque a situação com a sua patroa andava meio periclitante, ou simplesmente porque seu peso (que não era pouco) foi atraído pela Terra”.
Há médicos (e artigos médicos em publicações “de prestígio”) que querem nos fazer acreditar em uma ou outra causa isoladamente (quase sempre aquela para qual há tratamento medicamentoso ou cirúrgico disponível).
E quase todos nós caímos.
Como a maçã de Tolstoi.